Qatar fornecerá gás à Alemanha enquanto UE tenta diminuir dependência da Rússia

Acordo de 15 anos marca primeiro pacto duradouro sobre o tema na Europa desde a invasão da Ucrânia

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Shotaro Tani Guy Chazan
Londres e Berlim | Financial Times

O Qatar fornecerá gás natural liquefeito (GNL) à Alemanha sob um acordo de longo prazo que marca um grande passo nos esforços da maior economia da Europa para se livrar da dependência do gás russo.

Sob dois acordos de compra e venda assinados nesta terça-feira (29) pela estatal QatarEnergy e pelo grupo americano ConocoPhillips, cerca de 2 milhões de toneladas de GNL serão enviados à Alemanha anualmente durante pelo menos 15 anos, com entregas previstas para começar a partir de 2026.

Os acordos são os primeiros pactos de longo prazo para fornecimento de GNL a um país da União Europeia desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro. Apesar de buscarem substitutos para o gás russo, os países do continente temem fechar negócios do tipo, já que tentam se afastar dos combustíveis fósseis.

Ryan Lance, CEO da multinacional americana ConocoPhillips, cumprimenta o ministro da Energia do Qatar e CEO da QatarEnergy, Saad Sherida al-Kaabi, em Doha
Ryan Lance, CEO da multinacional americana ConocoPhillips, cumprimenta o ministro da Energia do Qatar e CEO da QatarEnergy, Saad Sherida al-Kaabi, em Doha - Karim Jaafar - 29.nov.22/AFP

Robert Habeck, ministro da Economia da Alemanha, saudou os acordos. "Quinze anos, ótimo", disse. "Não teria nada contra pactos de 20 anos ou até mais longos." Habeck afirmou ainda que as concessionárias alemãs Uniper e RWE foram solicitadas pelo governo a conseguir gás no mercado internacional –inclusive do Qatar– para um terminal de GNL que está sendo construído na costa alemã do mar do Norte.

Ele explicou também que os contratos assinados são entre grupos de energia e empresas de serviços públicos da Alemanha. "Os acordos em si são negócios das empresas. [Elas] precisam perceber que a Alemanha [no futuro] comprará menos [gás] se quisermos cumprir nossas metas climáticas." Nesse caso, as empresas "terão que entregar os volumes que compraram para outros países".

A parceria também foi celebrada pelo premiê alemão, Olaf Scholz. Ele destacou que a diversificação de fornecedores aumenta a segurança energética. Em relação à Guerra da Ucrânia, o líder reiterou apoio ao país invadido e afirmou que Berlim não descartou o fornecimento de novas baterias antiaéreas a Kiev.

Os acordos contribuiriam para a segurança energética da Alemanha "com um período de fornecimento que se estende por ao menos 15 anos", disse Saad Sherida Al-Kaabi, ministro de Energia do Qatar e diretor-executivo da QatarEnergy. Ele acrescentou que o Qatar "separou a política dos negócios", referindo-se a um aparente protesto da seleção alemã na Copa do Mundo contra a decisão da Fifa de proibir os jogadores de usar braçadeiras "One Love", em apoio à comunidade LGBTQIA+.

O time da Alemanha cobriu as bocas para uma foto antes do jogo contra o Japão na semana passada.

Zongqiang Luo, analista-sênior da Rystad Energy, disse que os últimos negócios são "um sinal de que a Europa está começando a se cansar do fornecimento intermitente da Rússia e busca cada vez mais alternativas de longo prazo". O GNL virá dos projetos North Field East e North Field South do Qatar, que visam aumentar a produção doméstica de GNL do país do Golfo dos atuais 77 milhões de toneladas para 126 milhões de toneladas até 2027.

O gás russo representou cerca de 45% das importações de gás da UE no ano passado. A necessidade de encontrar substitutos intensificou a competição com a Ásia por carregamentos, elevando os preços.

O preço do GNL entregue ao noroeste da Europa subiu para quase US$ 80 (R$ 424) por milhão de unidades térmicas britânicas em agosto, mais de quatro vezes o preço do ano anterior, de acordo com o provedor de dados Argus Media. No entanto, desde então, caiu de volta ao nível do ano passado, depois de a Europa conseguir encher seus estoques de gás.

Embora 2 milhões de toneladas de GNL representem 3% da demanda anual de gás da Alemanha, a quantidade ajudará a preencher a lacuna em um país que foi um dos mais atingidos após o presidente russo, Vladimir Putin, usar o fornecimento de energia como arma.

O gás russo representava mais da metade do abastecimento total da Alemanha antes da invasão da Ucrânia, e desde então Berlim se esforça para construir uma nova infraestrutura de importação de GNL.

O país terminou recentemente a construção de seu primeiro terminal de importação de GNL em Wilhelmshaven, no mar do Norte, e também fretou cinco unidades flutuantes de armazenamento e regaseificação, usadas para armazenar GNL e deixá-lo no estado gasoso.

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