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Ministra pede mais controle de armas na Alemanha após conspiração extremista

Representante do governo diz que país deve endurecer leis sobre o tema após tentativa de golpe por grupo armado

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Berlim | Reuters

O governo da Alemanha deve passar a discutir o endurecimento de leis que regulam a venda e o porte de armas, defendeu a ministra do Interior em entrevista publicada neste domingo (11). Nancy Faeser falou ao jornal Bild am Sonntag depois de uma operação da polícia desbaratar, na quarta (7), uma suspeita de conspiração de um grupo de extrema direita para invadir o Parlamento e derrubar o governo.

O desmonte do plano —que incluiu a pisão de 25 suspeitos de envolvimento na trama, muitos deles membros do movimento Reichsbürger (Cidadãos do Reich), que nega a existência do Estado alemão moderno— trouxe à tona novamente a ascensão do extremismo em um país que remói constantemente os traumas de seu passado nazista.

A ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, ao lado do premiê Olaf Scholz em evento em Berlim - Tobias Schwarz - 9.dez.22/AFP

"Não se trata de um grupo de malucos inofensivos, mas de suspeitos de terrorismo, que agora estão em prisão preventiva aguardando julgamento", disse a ministra, destacando que o Reichsbürger representa uma ameaça crescente para a Alemanha, tendo se expandido de 2.000 para 23 mil membros em pouco mais de um ano.

Calcando-se em teorias da conspiração aos moldes do movimento QAnon americano, o grupo que chegou a ser ridicularizado passou a ser rastreado com mais atenção pelas autoridades em 2016, quando um de seus integrantes matou um policial que havia sido enviado para confiscar suas armas.

"Todas as autoridades do governo devem exercer pressão máxima [para remover as armas de extremistas]", afirmou Faeser, defendendo que o governo do primeiro-ministro Olaf Scholz "em breve endureça ainda mais as leis sobre armas".

A megaoperação de quarta-feira encontrou armas e equipamentos militares em 50 das 150 residências nas quais foram feitas buscas. No dia seguinte às 25 prisões, investigações elevaram o total de suspeitos no caso a 54 e revelaram detalhes do plano, que poderiam até incluir o assassinato de Scholz —a insurreição armada colocaria no poder Heinrich 13º P.R., detentor de um título monárquico que caducou com a criação do Estado alemão moderno, em 1918.

Antes dos desdobramentos desta semana, as autoridades já haviam confiscado armamentos de mais de mil membros do grupo, mas acredita-se que pelo menos outros 500 tenham licenças de porte, em um país onde a posse privada desse tipo de equipamento é relativamente rara.

Nesta semana, o Escritório Federal para a Proteção da Constituição, departamento de inteligência doméstico da Alemanha, disse que o Reichsbürger ganhou corpo e representa hoje "alto nível de perigo".

Os promotores que trabalham no caso afirmam que entre os suspeitos detidos na quarta-feira há indivíduos que têm armas e habilidades para usá-las. Do grupo de 25 presos fazem parte, além de uma ex-deputada, um chef e um cantor, ao menos 15 pessoas com algum passado militar —o grupo recrutaria membros que fazem ou fizeram parte do Exército e armazenam armamentos.

Um deles foi identificado como Rüdiger Von Pescatore, 69, que morou em Santa Catarina. Ele teria sido expulso das Forças Armadas justamente por vender armas do estoque da Alemanha Oriental.

O debate proposto pela pasta do Interior lembra o que se desenrola em países como Estados Unidos, onde a violência armada tem gerado episódios de repercussão, e o Brasil, onde o número de pessoas com licenças para armas de fogo cresceu 473% no governo de Jair Bolsonaro (PL).

Além do impacto na legislação sobre armas, o caso deve ter desdobramentos no serviço público. Segundo a agência de notícias Reuters, o Ministério do Interior estuda endurecer procedimentos disciplinares para servidores, de forma a agilizar a demissão ou retirar a pensão no caso de má conduta grave. Hoje, esse tipo de penalização pode durar anos.

A questão foi colocada principalmente porque entre os presos estavam figuras com passagem pelo Estado, como Birgit Malsack-Winkemann, ex-juíza em Berlim e ex-deputada pela sigla radical Alternativa para a Alemanha (AfD).

A legenda condenou os planos do Reichsbürger desvelados pela operação e disse que não poderia responder pela ex-deputada, recusando-se a comentar o caso até que a investigação apresente seus resultados.

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