Rei da Holanda determina investigação sobre papel da monarquia no período colonial

Processo, que não terá caráter punitivo, será conduzido por historiadores e especialistas em direitos humanos

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Amsterdã | Reuters

O rei da Holanda, Willem-Alexander, determinou nesta terça-feira (6) a abertura de uma investigação independente sobre o papel da monarquia durante o período colonial. O processo será conduzido por historiadores e especialistas em direitos humanos com o objetivo, segundo o monarca, de compreender desdobramentos e impactos de fatos históricos na vida das pessoas e nas comunidades.

"O conhecimento profundo do passado é essencial para entendermos os eventos da maneira mais clara e honesta possível", disse o rei. A apuração, que deve durar aproximadamente três anos e não terá caráter punitivo, buscará esclarecer acontecimentos do final do século 16 até os dias atuais.

O rei Willem-Alexander posa para foto ao lado da rainha Máxima e as princesas Amalia, Alexia e Ariane
O rei Willem-Alexander posa para foto ao lado da rainha Máxima (à dir.) e das princesas Amalia, Alexia e Ariane - Piroschka van de Wouw - 4.nov.22/Reuters

Os holandeses desempenharam um papel importante no comércio global de pessoas escravizadas durante os séculos 17 a 19. A Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, formada por mercadores do país, operou navios que traficaram ao todo cerca de 600 mil pessoas, segundo dados do Estado holandês.

As pessoas escravizadas foram forçadas a trabalhar sob condições duras e desumanas em plantações nas colônias holandesas ultramarinas no Caribe e na América do Sul.

Segundo a agência de notícias Reuters, existem planos para que o governo da Holanda peça desculpas de maneira oficial, no final deste mês, por seu papel durante o passado colonizador do país. O Estado também deverá destinar cerca de € 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) para um fundo que promove a conscientização sobre crimes e abusos cometidos no período, além de € 27 milhões (R$ 148,5 milhões) para a abertura de um museu sobre o período escravocrata.

O anúncio feito pelo rei holandês nesta terça se dá em resposta à recomendação de um painel consultivo para que o monarca reconhecesse que o comércio transatlântico de pessoas escravizadas nos séculos 17 a 19 representou crimes contra a humanidade.

Em janeiro, o rei Willem-Alexander informou que não usaria mais a carruagem dourada da realeza. O veículo, adotado pelos monarcas desde 1901, traz em sua lateral um painel com a imagem de homens negros ajoelhados diante de seus senhores brancos. A relíquia histórica estava no centro de um debate sobre as imagens da colonização e o racismo na sociedade holandesa.

Também no começo deste ano, o Banco Central do país divulgou comunicado em que pedia desculpas por seu papel no período colonial. A instituição se comprometeu a financiar projetos para aumentar a conscientização sobre a escravidão e mitigar os "efeitos que o regime de trabalho forçado ainda causa nas pessoas".

Outro banco holandês que tentou se retratar por seu papel no passado foi o ABN Amro. A instituição pediu desculpas pelo envolvimento de seus antecessores legais no comércio de escravos, no trabalho forçado nas plantações e no comércio de produtos originários da escravidão.

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