Alemanha diz que não vai se opor a envio de tanques pela Polônia à Ucrânia

Embora Berlim resista à pressão para mandar armamentos mais pesados, ministra das Relações Exteriores sinaliza mudança

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Paris | Reuters

Ao canal francês LCI neste domingo (22), a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, disse que a Alemanha não vai se opor se Polônia quiser enviar à Ucrânia seus tanques Leopard-2.

Questionada sobre o que aconteceria se Varsóvia pedisse a Berlim autorização para enviar seus blindados pesados para o governo em Kiev, Baerbock afirmou que essa pergunta ainda não foi feita, "mas, se for feita, não vamos nos opor". A Polônia precisa fazer a solicitação formal porque, tecnicamente, operadores do tanque germânico têm de pedir permissão à Alemanha para exportá-los.

Tanque Leopard parte das tropas da Polônia em exercício conjunto em Nowogard
Tanque Leopard parte das tropas da Polônia em exercício conjunto em Nowogard - Wojtek Radwanski - 19.mai.22/AFP

O Leopard-2 é o principal modelo de tanque em operação na Europa, com cerca de 2.500 unidades em 15 países. Kiev pediu ao menos 300 blindados modernos para tentar conter as forças russas no Donbass, o leste onde Moscou colhe suas primeiras vitórias em meses, mas até agora a situação segue indefinida.

Na última sexta-feira (20), os países que apoiam o esforço de guerra da Ucrânia contra a invasão russa, liderados pela Otan, a aliança militar do Ocidente, não chegaram a uma conclusão sobre o envio de tanques para Kiev em uma muito antecipada reunião ocorrida na Alemanha.

"Há bons motivos a favor e contra as entregas, e tendo em vista a situação global de uma guerra que já dura quase um ano, todos os prós e contras têm de ser pesados cuidadosamente", afirmou o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, para horror de outros ministros reunidos numa base em Ramstein.

Na segunda passada (16), o governo finlandês já havia pedido o aval a Berlim para enviar seus tanques —em processo de adesão à Otan, o país tem uma frota de mais de 200 Leopard-2. Também na semana passada, o Reino Unido confirmou o envio de 14 modelos Challenger-2 a Kiev. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, por sua vez, prometeu que os equipamentos serão "incinerados" se forem a campo.

Até aqui, a Alemanha havia concordado em enviar 40 blindados leves Marder, bastante letais, mas numa categoria inferior à dos tanques. Neste domingo, à TV ARD, Pistorius, disse que o país deve decidir em breve sobre a entrega de tanques à Ucrânia. Ele afirmou que o governo não tomaria uma decisão apressada, porque precisa considerar vários fatores, inclusive consequências para a segurança do país.

Na semana passada, o jornal Bild am Sonntag publicou uma entrevista com o presidente da Rheinmetall, a fabricante do Leopard-2, que explicitou outra face da questão. "Mesmo que a decisão de enviar nossos tanques fosse tomada amanhã, a entrega demoraria até o começo de 2024", disse Armin Papperger.

Ele se referia aos equipamentos em estoque na Alemanha: 22 Leopard-2 e 88 modelos antigos Leopard-1. Eles teriam de ser desmontados e remontados para se tornarem operacionais. Ou seja, para que algo seja feito de forma mais eficiente, teriam de ser enviados tanques de arsenais ativos dos países europeus.

A Ucrânia operava, antes da guerra, 957 tanques de origem soviética, a maioria dos quais T-72. A Polônia enviou cerca de 230 desses modelos para os ucranianos. Ao todo, segundo o site de monitoramento holandês Oryx, 449 já foram perdidos de forma documentada. Na quinta (19), Moscou reagiu com ameaça nuclear à promessa de aliados da Ucrânia de autorizar o envio de armamentos mais robustos ao país.

Representante da linha dura do Kremlin, Dmitri Medvedev, que presidiu o país em nome de Vladimir Putin de 2008 a 2012, foi ao Telegram comentar o encontro da sexta (20) do grupo de 50 países liderados pelas forças da Otan, a aliança militar ocidental, na base americana de Ramstein, na Alemanha.

"Baladeiros políticos subdesenvolvidos repetem como mantra: 'Para obter a paz, a Rússia precisa perder'. Nunca lhes ocorre a conclusão elementar: a derrota de uma potência nuclear numa guerra convencional pode levar à guerra nuclear. Potências nucleares não perdem conflitos em que seu destino está em jogo."

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