Cardeal George Pell, envolvido em caso de abusos sexuais contra menores, morre aos 81

Religioso chegou a ser braço direito do papa Francisco até condenação que terminou anulada por tribunal australiano

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Roma | Reuters

Ex-braço direito do papa Francisco, o cardeal australiano George Pell morreu nesta terça-feira (10), aos 81 anos, em Roma, na Itália. O religioso chegou a ser um dos funcionários mais poderosos da Igreja Católica antes de ser preso por abusos sexuais contra menores —a condenação foi posteriormente anulada.

Pell morreu após complicações numa cirurgia no quadril realizada nesta terça. "A notícia foi um grande choque para todos nós", disse o arcebispo australiano Anthony Fisher. "Por favor, rezem pelo repouso da alma do cardeal, pelo consolo de sua família e de todos aqueles que o amaram e lamentam sua morte."

Nesta quarta-feira (11), o papa Francisco elogiou o cardeal e disse estar grato pela sua dedicação "coerente e comprometida" à Igreja. O líder da Igreja Católica disse que Pell foi um "servo fiel que, sem vacilar, seguiu seu Senhor com perseverança mesmo na hora da provação", uma referência ao período de sua prisão.

O cardeal George Pell durante entrevista em Roma, na Itália
O cardeal George Pell durante entrevista em Roma, na Itália - Guglielmo Mangiapane - 7.dez.20/Reuters

Reverenciado pelos católicos conservadores —que chegaram a incensar seu nome para a sucessão de Bento 16— e desprezado pelos liberais, Pell sempre se posicionou de forma firme contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e à ordenação de mulheres.

Em 2019, esteve no centro de um dos maiores escândalos da igreja. Ele foi considerado culpado de abusar de dois meninos do coral da catedral de São Patrício, em Melbourne, onde era arcebispo. Os crimes teriam ocorrido nos anos 1990, quando os garotos tinham 12 e 13 anos —Pell sempre se declarou inocente.

Condenado a seis anos de prisão, o cardeal se tornou a mais alta autoridade da Igreja Católica a ser condenada por abuso sexual. Ele ficou mais de um ano preso, período no qual escreveu um livro em que aponta como motivo para a condenação seu "conservadorismo social e a defesa da ética judaico-cristã" —características que, segundo o religioso, exacerbaram a "hostilidade popular".

As condenações foram anuladas pela mais alta corte da Austrália em 2020. Na decisão, o tribunal alegou que o júri "deveria conceder o benefício da dúvida sobre a culpa do requerente em relação a cada um dos crimes pelos quais ele foi condenado". No dia da absolvição, o papa Francisco dedicou sua missa matinal a todos aqueles que sofrem com sentenças injustas.

Mas a anulação do processo não permitiu que Pell retomasse o prestígio que havia adquirido no Vaticano —onde chegou a ser também, em 2014, prefeito da Secretaria de Economia, que administra as volumosas finanças da igreja; na função, chegou a ser considerado o número 3 na hierarquia da Santa Sé.

Ele foi definido como "um dos melhores clérigos que a Austrália já conheceu" pelo ex-premiê Tony Abbott.

Em um comunicado, a Rede de Sobreviventes dos Abusados por Sacerdotes (Snap, na sigla em inglês), um grupo de defesa das vítimas de abuso sexual de membros da igreja, pediu ao Vaticano que mostre "contenção" nos preparativos para o funeral, "a menos que a hierarquia da igreja queira aprofundar feridas já profundas".

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