Papa Francisco atribui ataques em Brasília a enfraquecimento da democracia no mundo

Líder católico lamenta crises políticas que se espalham pelas Américas e cita nominalmente Brasil e Peru

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São Paulo

O papa Francisco lamentou nesta segunda-feira (9) as crises políticas que se espalham pelas Américas e citou nominalmente o Brasil, onde neste domingo (8) apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tomaram a Esplanada dos Ministérios e invadiram as sedes dos Três Poderes, vandalizando prédios públicos e afrontando instituições democráticas.

O papa Francisco durante celebração de missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano
O papa Francisco durante celebração de missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano - 6.jan.23/Vatican Media via Reuters

"Penso nas inúmeras crises políticas em vários países do continente americano, com sua carga de tensões e formas de violência que exacerbam os conflitos sociais", disse Francisco, em discurso perante o corpo diplomático do Vaticano.

"Penso especialmente no que aconteceu recentemente no Peru e nas últimas horas no Brasil", acrescentou ele, em referência aos ataques em Brasília e aos protestos que se espalharam no país andino desde a tentativa de golpe de Estado do ex-presidente Pedro Castillo. Para o pontífice argentino, é preocupante o "enfraquecimento, em muitas partes do mundo, da democracia".

Ainda no domingo (8), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) se disse perplexa e pediu em nota a responsabilização dos organizadores e participantes dos ataques criminosos em Brasília.

O líder da Igreja Católica se soma a diversas lideranças mundiais que condenaram os atos golpistas. Chefes de Estado e de governo de dezenas de países manifestaram repúdio ao que chamaram de ataque e atentado contra a democracia e as instituições democráticas. A reação à insurreição de bolsonaristas também inclui mensagens de apoio e solidariedade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Francisco condena execução de manifestantes no Irã

Ainda nesta segunda, Francisco comentou pela primeira vez a condenação à morte de manifestantes no Irã. "O direito à vida também está ameaçado nos lugares onde a pena de morte continua a ser imposta, como é o caso nesses dias no Irã, após as recentes manifestações exigindo maior respeito pela dignidade das mulheres", disse o papa.

Ao menos quatro pessoas foram executadas em decorrência de suas participações em protestos no país. Segundo informe da agência estatal Mizan nesta segunda, outras três pessoas foram condenadas à pena capital, e o líder do regime islâmico, o aiatolá Ali Khamenei, disse que Teerã não tem intenção de amenizar sua posição contra o que considera traidores.

"A pena de morte não pode ser empregada para uma pretensa justiça estatal, já que não constitui um impedimento nem faz justiça às vítimas, mas apenas alimenta a sede de vingança", alegou Francisco em seu posicionamento contra a pena de morte que, disse ele, é "sempre inadmissível porque atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa".

Guerra da Ucrânia é crime contra Deus e contra a humanidade, diz o papa

O líder da Igreja Católica também voltou a falar sobre a Guerra da Ucrânia. O papa descreveu o "rastro de morte e destruição" deixado pelo conflito, "com seus ataques a infraestruturas civis que causam a perda de vidas não apenas por tiros e atos de violência, mas também por fome e frio congelante".

Francisco citou ainda uma diretriz do Vaticano, que define "todo ato de guerra direcionado à destruição indiscriminada de cidades inteiras ou vastas áreas com seus habitantes" como "um crime contra Deus e contra a humanidade que merece condenação firme e inequívoca".

Relembrando a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, o pontífice voltou a fazer alertas contra uma possível guerra nuclear e apelou pela proibição total de armas desse tipo, chamando de imoral a posse de tais armamentos. "Infelizmente, também hoje a ameaça nuclear é levantada, e o mundo mais uma vez sente medo e angústia."

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