Cidade abandonada na Alemanha vira símbolo da luta contra combustíveis fósseis

Ativistas confrontam polícia para evitar que vilarejo se torne mina de carvão em meio à crise energética na Europa

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Petrópolis (RJ)

Uma cidadezinha no oeste de Alemanha virou palco da luta contra a crise climática nesta quarta (11), após ativistas entrarem em choque com a polícia para impedir que ela se torne uma mina de carvão.

Lützerath, na província de Renânia do Norte-Westfália, começou a chamar a atenção de ambientalistas há cerca de dois anos, após o surgimento de rumores de que o local seria destruído para permitir a exploração de linhito, uma forma inferior do mineral fóssil chamada de "carvão marrom" em alemão.

Ativista se equilibra em cabos em Lützerath, no oeste da Alemanha, para evitar ser pego por policiais após ordem de retirada do vilarejo
Ativista se equilibra em cabos em Lützerath, no oeste da Alemanha, para evitar ser pego por policiais após ordem de retirada do vilarejo - Ina Fassbender/AFP

Em outubro, o governo anunciou que a área tinha sido vendida à RWE, maior empresa de energia do país.

A justificativa estatal foi de que ela necessitava de combustível fóssil para compensar a falta de gás russo em meio à crise energética provocada pela Guerra da Ucrânia —pesquisadores contestam a alegação. Nesta terça-feira (10), por ordens de um tribunal local, o esvaziamento da cidade começou oficialmente.

A decisão representou uma guinada radical para uma gestão que havia prometido acabar com a queima de carvão até 2030 —e um baque e tanto para ambientalistas, que dizem estar dispostos a arriscar suas vidas para impedir que o terreno se torne uma mina. Segundo eles, queimar o depósito de linhito armazenado embaixo de Lützerath faz com que seja praticamente impossível para a Alemanha cumprir as determinações de redução de emissão de carbono previstas no Acordo de Paris.

Para impedir que a polícia os alcançasse, manifestantes subiram nos telhados e nas janelas das construções abandonadas e se equilibraram em cabos, postes e estruturas de bambu em forma de triângulo. Com os rostos escondidos por máscaras e balaclavas —alguns deles usavam ainda macacões de proteção sanitária—, lançaram pedras, garrafas, explosivos e bombas de gasolina contra os oficiais.

Enquanto isso, cantavam: "Estamos aqui/ e falamos alto/ pois vocês estão roubando nosso futuro".

A ativista Greta Thunberg afirmou que se juntará aos ativistas no sábado (14).

A polícia diz que pode ser que se passem semanas até que ela consiga esvaziar a área. Canhões d’água foram levados ao local, mas não foram utilizados. A agência de notícias Reuters avistou, no entanto, as forças usando maquinaria pesada para desmantelar barricadas erguidas pelos ambientalistas.

Enquanto isso, a RWE, proprietária do terreno, pediu em nota que os manifestantes encerrem a ocupação de forma pacífica e afirmou que começou a construir uma cerca em volta da área.

O projeto simboliza o dilema da Alemanha diante da pauta ambiental, área que viu uma série de retrocessos desde que a crise energética provocada pela Guerra da Ucrânia forçou o país europeu, extremamente dependente do gás russo, a retomar a produção de combustíveis "sujos" como o carvão.

O caso de Lützerath é particularmente delicado para o Partido Verde, que voltou ao poder após 16 anos na oposição ao integrar o governo de coalizão do primeiro-ministro Olaf Scholz. Muitos membros da sigla se opõem à mina, mas o ministro da Economia, Robert Habeck, tem servido de garoto-propaganda da decisão governamental. O ministro, que pediu que ambos, polícia e manifestantes, não façam uso da força, afirmou que a cidadezinha sem habitantes "é um símbolo equivocado".

Com Reuters

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