Um dia antes da posse do deputado eleito nos EUA George Santos, trumpista filho de brasileiros, o Ministério Público do Rio de Janeiro informou nesta segunda (2) que deve reabrir uma investigação contra ele. A informação foi publicada inicialmente pelo jornal The New York Times e confirmada pela Folha.
Santos foi indiciado em 2008 por estelionato, depois de ter furtado um talão de cheques, que usou para fazer compras em Niterói (RJ) —os cheques de R$ 2.144 não tinham fundos.
O processo contra ele estava suspenso porque as autoridades não conseguiam localizá-lo. Segundo a assessoria do MP-RJ, com a eleição e a consequente identificação do paradeiro do agora deputado eleito, um pedido formal será feito ao Departamento de Justiça dos EUA para notificá-lo das acusações.
Santos admitiu o crime de fraude em agosto de 2009. Ele disse à polícia que roubou o talão de cheques de um homem para quem sua mãe trabalhou. Nas redes sociais, manifestou arrependimento ao publicar que havia "estragado tudo", mas que queria arcar com os prejuízos.
Mais recentemente, porém, negou que tenha passagens pela Justiça brasileira. "Não sou um criminoso aqui [EUA], no Brasil ou em qualquer jurisdição do mundo", disse ao jornal New York Post em entrevista na qual assumiu que tinha mentido várias vezes em seu currículo.
Segundo o New York Times, o próximo passo para o Ministério Público fluminense será a apresentação de uma petição solicitando que Santos responda às acusações. Nem o Departamento de Justiça americano nem as autoridades brasileiras podem obrigar o deputado eleito a se manifestar, mas ele deve ser notificado oficialmente para que o caso prossiga.
Uma condenação criminal, mesmo por crime doloso, não é, por si só, um ato que inabilite um parlamentar para o cargo nos EUA. A última vez que um membro do Congresso americano foi destituído foi em 2002 —James Traficant Jr. perdeu o mandato depois de ter sido condenado por extorsão.
Se Santos não apresentar defesa, será julgado à revelia. Se considerado culpado, pode ser condenado à pena de até cinco anos de prisão, mais multa, segundo a publicação americana.
O processo criminal no Brasil foi divulgado depois de o New York Times revelar discrepâncias no currículo do parlamentar. Filho de imigrantes brasileiros, Santos admitiu que não se formou na Baruch College, de onde dizia ter um diploma —diretores da faculdade não encontraram registros de alguém com seu nome ou sua data de nascimento que tivesse encerrado lá os estudos em 2010.
O republicano também confessou que nunca trabalhou no Citigroup ou no Goldman Sachs, que constavam de sua biografia. As duas empresas de Wall Street afirmaram que não têm qualquer registro de que ele tenha atuado nelas em algum momento.
Santos teria lidado com as firmas em trabalhos realizados por outra companhia, a LinkBridge Investors, da qual teria sido vice-presidente —o New York Times comprovou o vínculo dele com a empresa. Segundo ele, a afirmação de que passou por Citigroup e Goldman Sachs se deveu a uma "escolha ruim de palavras".
Na esteira das denúncias do jornal americano, a publicação judaica The Forward relatou que Santos teria enganado os eleitores também sobre ter ascendência judaica. Em seu site e em declarações dadas durante a campanha eleitoral, ele contou que a mãe, Fatima Devolder, nasceu no Brasil, filha de imigrantes que "fugiram da perseguição aos judeus na Ucrânia, estabeleceram-se na Bélgica e novamente fugiram da perseguição durante a Segunda Guerra Mundial".
De acordo com The Forward, porém, citando informações do site de genealogia My Heritage, documentos de imigração brasileiros e bancos de dados de refugiados, os pais de Devolder parecem ter nascido no Brasil antes da Segunda Guerra.
Santos, então, disse ser "claramente católico" e contou que ouviu da avó histórias de que ela seria uma judia que mais tarde se converteu. "Nunca disse que eu era judeu. Sou católico, mas como ouvi que minha família materna tinha um passado judaico, eu dizia que era 'meio judeu'." Na semana passada, a Coalizão Judaica Republicana informou que Santos não será mais bem-vindo a eventos do grupo.
Também na semana passada, a promotoria do condado de Nassau, no estado de Nova York, anunciou a abertura de uma investigação contra Santos. Em nota, a promotora Anne Donnelly afirmou que as "inúmeras invenções e inconsistências associadas ao deputado eleito são impressionantes" e que o político do Partido Republicano será processado caso algum crime seja descoberto durante a apuração.
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