Descrição de chapéu Partido Republicano

Republicanos estendem racha histórico pelo 2º dia, e Câmara dos EUA segue sem presidente

Após mais 3 rodadas de votação, McCarthy continua a falhar em obter maioria; sessão é novamente adiada

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Washington

Sem avançar nas negociações para se eleger presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, o deputado republicano Kevin McCarthy perdeu mais três rodadas de votações nesta quarta-feira (4), escancarando as fissuras na legenda e estendendo o caos no Legislativo pelo segundo dia consecutivo.

Depois do terceiro fracasso, a Casa suspendeu a sessão por algumas horas. Na retomada, os republicanos enfim chegaram a uma maioria —mas só para adiar a decisão mais uma vez. Por 216 votos a 214, decidiu-se estender o impasse para um terceiro dia, com novas rodadas de votação agendadas para esta quinta (5).

Com a posse do novo Congresso após as eleições legislativas de novembro, o Partido Republicano voltou a ter maioria na Câmara após quatro anos e, pelo curso que tradicionalmente é cumprido na política americana, deveria ter eleito ainda na terça (3) um novo presidente da Casa. Mas o líder McCarthy sofreu forte oposição interna e não alcançou os 218 votos necessários.

A performance tida como humilhante levou a um impasse que não ocorria desde 1923. Na terça, inauguração da legislatura, foram três votações e três derrotas acachapantes, que começaram com 19 dissidências e terminaram com 20 votos contrários a ele. Nesta quarta, mais três votações foram feitas, e tudo o que o representante da Califórnia conseguiu foi perder ainda mais um voto —além dos 20 contrários, houve uma abstenção.

Deputado republicano Kevin McCarthy chega à Câmara nesta quarta após perder três votações para a presidência na terça - Evelyn Hockstein/Reuters

É um número alto dada a estreita maioria da legenda. Os republicanos têm 222 cadeiras da nova Câmara, de um total de 434 (são 435 deputados, mas 1 assento continua vago). Assim, se um presidente precisa de 218 votos para ser eleito, McCarthy só pode contar com 4 defecções na legenda. Se mantiver a candidatura nesta quinta, ele precisa convencer ao menos 16 colegas para chegar ao posto.

A falta de consenso na escolha trava a pauta na Câmara, e deputados têm de votar quantas vezes for preciso até que o novo presidente seja escolhido. A última vez que não houve uma eleição de primeira foi em 1923, quando a seleção de um republicano demandou nove rodadas.

A história mostra, porém, que McCarthy pode ainda ter chance. Um século atrás, o republicano Frederick H. Gillett insistiu e foi eleito após perder oito votações.

O deputado da Califórnia enfrenta oposição principalmente da ala ultraconservadora do partido. Dos 20 colegas que vêm votando contra ele, 19 são ligados ao Freedom Caucus (bancada da liberdade), grupo republicano de ultradireita. Doze deles ainda repetem o discurso mentiroso de que a eleição de 2020, que Donald Trump perdeu para Joe Biden, foi fraudada. A maioria, não por acaso, teve apoio do ex-presidente nas midterms.

O impasse desta quarta serviu também para refletir o mau momento de Trump, que enfrenta dificuldades com a Justiça e desgaste dentro do partido ante o desempenho abaixo do esperado da legenda nas eleições de novembro e a ascensão de figuras como o governador da Flórida, Ron DeSantis.

Antes de as votações começarem, o ex-presidente manifestou apoio a McCarthy. "Algumas conversas realmente boas aconteceram ontem [terça] à noite, e agora é hora de todos os nossos ótimos deputados republicanos votarem em Kevin, fechar o negócio, conseguir a vitória e assistir à louca Nancy Pelosi [democrata ex-presidente da Câmara] voar de volta para casa para uma Califórnia falida", escreveu em uma rede social, usando maiúsculas em quase todo o texto.

"Republicanos, não transformem um grande triunfo em uma derrota gigante e vergonhosa."

Importante aliado de Trump durante o governo do republicano, McCarthy chegou a ecoar as alegações falsas de que ele vencera a eleição de 2020 antes que o resultado fosse confirmado. Depois da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, quando uma multidão insuflada pelo então presidente tentou impedir à força a confirmação da vitória de Biden, McCarthy mudou de lado e afirmou que o político era responsável pelo ataque. Habilidoso politicamente, porém, soube ler o cenário e se reaproximou recentemente.

Quem também se manifestou nesta quarta foi o atual presidente, que definiu a demora na definição da Câmara como "muito constrangedora". Biden será o principal alvo dos republicanos na Casa —que, com a maioria, prometem abrir investigações contra o governo e travar a pauta legislativa da Casa Branca.

McCarthy, porém, permanece firme em seu propósito de se tornar presidente da Câmara, segundo na linha de sucessão, atrás apenas da vice-presidente, Kamala Harris.

Caixas e caixas de pizza chegaram ao escritório do republicano na noite de terça, enquanto seu grupo político retomava as negociações para elegê-lo, após a performance humilhante das primeiras votações. Ele tem cedido às pressões da ala conservadora e feito promessas de mais poder ao grupo em comissões —e até de mudar o regulamento interno para que um grupo pequeno de deputados possa tentar destituir o presidente da Casa a qualquer momento de seu mandato.

Apesar do impasse, ainda não há um nome claro entre os republicanos que possa vencer McCarthy, mas a falta de consenso levanta especulações. O mais citado até aqui é Steve Scalise, deputado por Louisiana e número 2 do partido na Câmara. Ao contrário de McCarthy, ele não teve oposição interna na eleição para a liderança, em novembro, e é visto como mais conservador, o que agrada ao Freedom Caucus.

O escolhido nesta quarta para agregar os votos da ultradireita foi Byron Donalds, republicano da Flórida. Ele, porém, não é considerado um candidato competitivo.

A falta de um consenso na legenda contrasta com o Partido Democrata. Em novembro, a eleição de Hakeem Jeffries como novo líder, para suceder a poderosa Nancy Pelosi, não teve contestação. Nas votações para presidente da Câmara, como era esperado, todos os 212 deputados eleitos votaram em Jeffries —sua vitória, porém, é muito difícil de se concretizar sem a maioria.

Também não há hoje outro nome suficientemente forte entre os democratas para desafiar uma tentativa de reeleição de Biden, que terá quase 82 anos no próximo pleito.

Os republicanos fizeram referência a esse contraste ao lançar McCarthy à presidência pela quarta vez nesta quarta. "É claro, parece uma bagunça. Mas a democracia é uma bagunça por definição", disse Mike Gallagher.

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