Brasil tende a ignorar apelo dos EUA e apoiar português para agência da ONU

Governo Biden chegou a enviar ao Brasil candidata à chefia da Organização Internacional para Migração

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Brasília

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tende a ignorar pedidos dos Estados Unidos para apoiar o nome americano para a direção-geral da OIM (Organização Internacional para as Migrações).

Washington chegou a enviar a candidata Amy Pope a Brasília para reuniões, mas auxiliares do petista dizem que o voto brasileiro está consolidado na reeleição do português António Vitorino.

Amy Pope, candidata americana à direção-geral da Organização Internacional para Migrações, na embaixada americana em Brasília
Amy Pope, candidata americana à direção-geral da Organização Internacional para Migrações, na embaixada americana em Brasília - Pedro Ladeira - 6.fev.23/Folhapress

Os esforços dos EUA ocorrem às portas da ida de Lula a Washington, na próxima sexta-feira (10), para a primeira reunião do presidente brasileiro com o líder americano, Joe Biden, na Casa Branca. Embora saibam que o Brasil tende a endossar Vitorino, auxiliares do democrata devem reforçar com seus correspondentes brasileiros durante a viagem a importância que os americanos dão à vitória de Pope.

Ela é hoje diretora-assistente para Gestão e Reforma da OIM. Antes, ocupou cargos relacionados a migração em governos democratas: foi conselheira sênior para migração de Biden (2021), conselheira-assistente de segurança interna (2015-17) e diretora sênior em segurança transfronteiriça (2013-15).

A principal reunião de Pope no Brasil foi com a secretária-geral do Itamaraty, Maria Laura da Rocha. Ela também se encontrou com o secretário nacional de Justiça, Augusto Botelho, e o assessor-adjunto da assessoria internacional do Planalto, Audo Faleiro. Já Vitorino esteve em Brasília há mais de uma semana. Em sinal de prestígio, reuniu-se com o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB).

Com orçamento operacional estimado em US$ 1,2 bilhão (R$ 6,18 bilhões), a OIM é uma agência da ONU direcionada para garantir que migrações ocorram de maneira "humana e ordenada". Com ações voltadas para apoio humanitário, possui, por exemplo, uma missão na Ucrânia, onde atua na doação de geradores para aquecimento durante o inverno, assim como na distribuição de colchões, cobertores e combustível.

Na América Latina, entre outras iniciativas, provê abrigos temporários e centros de apoio —com a distribuição de itens básicos de sobrevivência— para migrantes que se arriscam pelo estreito de Darién, entre a Colômbia e o Panamá, uma das rotas mais perigosas de deslocamento para os Estados Unidos.

Uma das mensagens que Pope tentou transmitir às autoridades brasileiras é que, embora seja o nome apresentado por Washington, ela não representa a política migratória dos EUA. À Folha ela reforçou essa ideia: "Sou a candidata dos EUA, mas eu não represento as suas políticas [migratórias]".

Na entrevista, ela também fez críticas veladas a Vitorino, seu adversário. Questionada sobre o que é preciso mudar na organização, defendeu tirá-la do "século 20". "Precisamos sair do século 20 e entrar no século 21, certo? A liderança da OIM precisa estar totalmente engajada em viajar aos locais onde as migrações estão ocorrendo, para trabalhar junto às comunidades mais impactadas pela migração. Mas não podemos fazer isso com os métodos antigos. É preciso trazer novas ideias e energia."

Vitorino, um veterano da política portuguesa, tem 66 anos. Pope, 48. Caso ela vença o português, os EUA recuperarão o controle de uma organização que o país presidiu por décadas. Em 2018, o atual diretor-geral derrotou outro candidato de Washington, Ken Isaacs, indicado pelo ex-presidente Donald Trump —o resultado foi visto como uma rejeição dos membros da ONU à política migratória do republicano.

Apesar de os governos de Brasil e EUA terem se aproximado após a eleição de Lula, assessores do petista ouvidos em condição de anonimato pela Folha dão como certo o apoio a Vitorino. Embora o político português tenha lançado sua candidatura depois da de Pope, a manutenção do comando da organização é uma das prioridades da política externa de Lisboa e vem sendo costurada nos bastidores.

Na semana passada, Portugal organizou uma reunião com mais de uma dezena de embaixadores latino-americanos em Lisboa —inclusive o Brasil—, em que a candidatura de Vitorino foi defendida com força.

O atual diretor-geral da OIM teceu elogios ao governo Lula na esteira da sua passagem pelo país. "O Brasil voltou à esfera multilateral e está empenhado em participar nas diversas instâncias internacionais que têm como objetivo que as migrações sejam regulares, ordeiras e seguras", disse Vitorino à agência Lusa.

O português também elogiou o retorno do Brasil ao Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular —mecanismo abandonado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

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