Brasileira que sobreviveu a terremoto decide ficar na Síria para ajudar vítimas

Ana Patrícia Maluf vive em Aleppo, onde é diretora pedagógica de uma escola e faz trabalho voluntário

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Piracicaba (SP)

A brasileira Ana Patrícia Maluf, 43, sobreviveu ao terremoto na Síria no início de fevereiro e decidiu permanecer em Aleppo, maior cidade do país e onde mora, para contribuir com a ajuda humanitária. "A fé e a esperança são valores que nos unem, independentemente de serem cristãos ou muçulmanos", diz ela.

Além de arrecadar e doar itens como comida, água, roupas, cobertores e remédios, ela, que participa do Movimento dos Focolares, voltado para projetos de desenvolvimento humano, visitou alguns idosos que, com dificuldade de locomoção, seguem em suas casas após o sismo.

Ana Patrícia Maluf em frente à Cidadela de Aleppo, um palácio medieval fortificado na cidade síria
Ana Patrícia Maluf em frente à Cidadela de Aleppo, um palácio medieval fortificado na cidade síria - Arquivo Pessoal

Ana Patrícia nasceu em São Carlos, no interior de São Paulo, e vive na Síria desde 2020. Católica, decidiu se mudar para o país, devastado por uma guerra que já dura 12 anos, para ajudar os vulneráveis.

Ela trabalha como diretora pedagógica de uma escola infantil fundada e financiada por uma associação italiana. Lá, a brasileira, que dedicou a vida a trabalhos voltados para a primeira infância, atende 70 crianças de 3 a 6 anos que ficam na instituição durante o dia para que suas mães possam trabalhar.

A Síria convive com sanções econômicas impostas pelo Ocidente desde o início da guerra civil, em 2011. Moradores relatam que o país, que já lida com a guerra e, agora, com as consequências do terremoto, também tem dificuldades para acessar itens como medicamentos e combustível. A inflação oscila, e o desastre humanitário é evidente.

"O preço da gasolina é 25% de um salário mínimo mensal, o que equivale a R$ 181", diz a brasileira. "Desde antes do terremoto, só temos energia elétrica 2 horas por dia; hospitais e ambulâncias convivem com uma forma precária de trabalho, agravada por conta do terremoto. Para fazer o resgate, até há poucos dias estavam escavando com as próprias mãos, por falta de maquinário", relata.

À Folha ela relembra como foi o dia em que o terremoto, que também atingiu a vizinha Turquia, ocorreu. "Estava em casa, um apartamento que divido com outros três brasileiros. Nos escondemos embaixo de uma mesa, os tremores duraram cerca de dois minutos. Você tenta se sentir protegido, mas não sabe ao certo o que fazer. A impressão que tinha é que íamos cair. Assim que pararam [os tremores], fomos à rua. Todos nós procuramos abrigo longe dos prédios."

O prédio onde mora não foi muito danificado, apenas apresenta rachaduras nas paredes. Ela continua a morar nele e não perdeu familiares ou amigos na tragédia, mas a destruição foi grande em vários pontos da cidade e até na rua onde mora.

"Fazia -3°C naquele dia. As pessoas estavam realmente desesperadas, gritavam e choravam muito por perderem entes queridos e suas casas terem desabafo. Ainda hoje há algumas que têm dormido nas ruas, usando plástico como cobertor, tentando se aquecer."

Destruição no quarteirão dos bairros de Azazeya, Selimaneya e Sirian El gededa em Aleppo, na Síria, devido ao terremoto
Destruição no quarteirão dos bairros de Azazeya, Selimaneya e Sirian El gededa em Aleppo, na Síria, devido ao terremoto - Domingos Dirceu Franco

A prioridade de Ana Patrícia e demais voluntários na ajuda humanitária foi garantir que hospitais tivessem suprimentos médicos e remédios suficientes para tratar os feridos. Além disso, assegurar o mínimo de conforto para os que buscavam abrigo.

Agora, a preocupação é tirar os desabrigados das ruas, vistoriar os lares que não desabaram com a ajuda de engenheiros civis que se solidarizaram e, assim, saber se as pessoas podem voltar a morar lá, além de prestar atendimento psicológico aos sobreviventes.

Mesmo três semanas após o terremoto, o número de mortos segue crescendo enquanto são concluídos os trabalhos de busca. O governo turco anunciou nesta sexta-feira (24) que, somente no país, 44.128 morreram. A cifra, somada aos números da Síria, faz com que o saldo de mortos ultrapasse 50 mil.

Erramos: o texto foi alterado

Ana Patrícia Maluf trabalha como diretora pedagógica de uma escola fundada por uma organização italiana em ​Aleppo, e não construída por ela mesma com a ajuda de missionários, como afirmava versão anterior deste texto. A brasileira também não participou do preparo das refeições distribuídas a pessoas afetadas pelo terremoto, como dito anteriormente.

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