Descrição de chapéu The New York Times

Detector de metais faz inglês achar pingente ligado a Henrique 8º 'sem querer'

Historiadores afirmam que joia pode mudar o que se sabe sobre monarca e sua relação com Catarina de Aragão

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Daniel Victor
Londres | The New York Times

Charlie Clarke, 34, dono de um café em Birmingham, na Inglaterra, estava deprimido após seu cachorro morrer de câncer, então foi até a casa de um amigo no interior para respirar um pouco de ar fresco. Ele levou junto um detector de metais, para exercer o hobby que havia adotado seis meses antes.

Ao ouvir bipes fortes enquanto caminhava pela propriedade do amigo, nas proximidades de Warwickshire, pensou que talvez tivesse encontrado uma lata de refrigerante. Em vez disso, a cerca de 30 centímetros abaixo do solo estava um tesouro que eletrizou historiadores e pode mudar o futuro de Clarke.

Pingente ligado à corte de Henrique 8º encontrado por homem com detector de metais - Birmingham Museums' Trust/Reprodução

O empresário puxou uma corrente de ouro e um pingente em forma de coração, adornado com símbolos que seu amigo reconheceu como ligados a Henrique 8º e sua primeira mulher, Catarina de Aragão. A princípio, ele pensou que o acessório devia fazer parte de uma fantasia. Ao mesmo tempo, parecia pesado demais para isso, segundo disse em entrevista na sexta-feira (3). "Eu sabia que era especial", afirmou.

O pingente em si era um espetáculo ornamentado: a frente era decorada com um arbusto de romã —um emblema de Catarina— e uma rosa dupla entrelaçada, empregada pelos Tudor a partir de 1486. Do outro lado, conectadas por uma fita, estavam as letras "H" e "K", de Henry e Katherine (uma das grafias do nome da soberana), escritas em caligrafia gótica.

Quem acha um tesouro no Reino Unido é obrigado a relatar suas descobertas por lei. Isso permite que os museus tenham a chance de adquiri-lo, pagando uma taxa que é dividida de forma equânime entre quem descobriu o item e o proprietário do terreno onde ele foi encontrado. Depois de achar o pingente, em 2019, Clarke o levou pela primeira vez a uma especialista em Birmingham. Ele se recorda que ela "tremeu quando o segurou, e seu queixo caiu".

Em seguida, a joia foi enviada ao Museu Britânico, cujos pesquisadores também ficaram entusiasmados. "Todos nós pensamos: 'meu Deus, isso é real? Poderia ser?'", diz Rachel King, curadora da área de Renascimento europeu do Museu Britânico.

Os pesquisadores confirmaram a autenticidade do pingente e afirmaram que ele foi produzido cerca de 500 anos atrás. Aqueles que o examinaram especulam, porém, sobre a história por trás dele. A joia parece ter sido feita às pressas, supostamente mais para ser visto do que para durar, segundo King. A corrente é pequena, sugerindo que alguém de baixa estatura o usava.

King conta que nenhum retrato do período mostra homens ou mulheres com joias daquele tipo, mas uma coisa é certa: Henrique 8º adorava festas. Uma hipótese é que o adorno foi criado para um banquete ou como prêmio a um torneio de justas; os vencedores poderiam usá-lo ou fundir o pingente e pegar o ouro.

Ninguém sabe como o colar acabou no campo em Warwickshire. A curadora aventa que ele pode ter sido enterrado por alguém que tentava protegê-lo, ou talvez por um ladrão que queria esconder seu furto.

King afirma, porém, que o pingente foi a descoberta mais significativa nos 25 anos desde que o governo britânico começou a registrar tesouros britânicos e que nada comparável da era renascentista foi encontrado no último século. Ela também disse que a maioria dos itens relacionados a Catarina foi destruída e que há "muito pouco que mantém sua memória viva".

Retrato de Catarina de Aragão (1485-1536), primeira mulher de Henrique 8º e rainha consorte da Inglaterra entre 1509 e 1533, feito por Lucas Horenbout
Retrato de Catarina de Aragão (1485-1536), primeira mulher de Henrique 8º e rainha consorte da Inglaterra entre 1509 e 1533, feito por Lucas Horenbout - Wikimedia Commons/Reprodução

Quando o item for finalmente vendido, provavelmente por uma alta quantia, o dinheiro será dividido entre Clarke e seu amigo, o proprietário do terreno. Clarke afirma que o dinheiro pode mudar a vida dele e de seu filho de quatro anos. "Birmingham, de onde eu venho, é um lugar bastante difícil", diz o empresário. "Se eu puder dar a ele uma boa educação com isso, será ótimo."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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