Liz Truss quebra o silêncio e culpa establishment britânico por seu fracasso político

Em artigo, ex-primeira-ministra reconhece erros, mas afirma que não teve chance de implementar políticas

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Londres | Reuters

A ex-primeira-ministra britânica Liz Truss fez neste domingo (5) os primeiros comentários formais acerca de sua fugaz e fracassada passagem por Downing Street. Em artigo publicado no jornal Sunday Telegraph, a política culpou a ortodoxia econômica, segundo ela dominante no seu Partido Conservador, no Reino Unido e no Ocidente, por impedi-la de implementar um plano de crescimento.

Truss foi indicada pela legenda para a sucessão do atribulado Boris Johnson, que renunciou em meio a uma série crescente de escândalos. Mas seu mandato se revelaria ainda mais caótico: em pouco mais de 40 dias, ela viu a rainha Elizabeth 2ª morrer, o que paralisou o país, mas sobretudo a economia ruir, muito em parte devido a um projeto apresentado por ela que minou a confiança do mercado.

Liz Truss discursa pela última vez em frente à residência oficial do premiê britânico, em Londres, em seu último dia no cargo - Henry Nicholls - 25.out.22/Reuters

Ante as críticas ao plano que previa cortes de impostos e um miniorçamento sem previsão de fontes de investimento, o custo de vida disparou, a cotação da libra desabou e ela se viu forçada a renunciar também, dando lugar ao atual premiê, Rishi Sunak, a quem havia derrotado no pleito interno. Sunak já tem mais do que o dobro de dias de mandato que a antecessora —ainda que não tenha conseguido recuperar de todo a estabilidade britânica.

No texto deste domingo, Truss afirma que acreditava que a receita que ela propunha era a mais correta, mas que seu governo "subestimou uma bolha de interesses já estabelecidos" e a ortodoxia econômica.

"Não digo que sou inocente pelo que aconteceu, mas eu fundamentalmente não tive uma oportunidade realista de implementar minhas políticas, devido à ação de um establishment econômico muito poderoso, aliada à falta de apoio político", escreveu a política.

"Eu assumi Downing Street [endereço da residência oficial dos premiês britânicos] acreditando que meu mandato seria respeitado e aceito. Como me enganei. Ainda que eu soubesse que o sistema teria resistências a meu programa, subestimei seu poder."

No cargo, vale lembrar, ela chegou a pedir desculpas pelo que definiu como erros. "Assumo a responsabilidade. Eu queria agir para ajudar as pessoas com suas contas de energia e para lidar com a questão dos altos impostos, mas fomos longe demais e rápido demais", disse, dias antes de renunciar.

Truss agora aponta para correligionários e aliados, ao afirmar que os parlamentares do Partido Conservador mostraram oposição às mudanças propostas por ela, "para uma economia de menos impostos e regulações" e um cenário global que "limitasse a competição" entre grandes potências. Com efeito, a própria legenda passou a defender sua saída em meio à crise de popularidade do governo.

"Como eu defendi na campanha, eu queria buscar crescimento. Mas isso batia de frente com as visões instintivas do Tesouro e com o ecossistema ortodoxo."

Ela teve, em seu breve mandato, dois titulares para as Finanças: Kwasi Kwarteng, que se tornaria um bode expiatório ao ser demitido no auge da tempestade política, e Jeremy Hunt, que reverteu praticamente todo o programa de Truss ainda com ela no poder e acabou mantido no posto por Sunak.

A política ainda chamou, no artigo para o Sunday Telegraph, algumas das medidas econômicas de seu sucessor de prejudiciais. O primeiro-ministro já recebeu alertas de entidades como o Fundo Monetário Internacional —que também atacou a gestão Truss— sobre as previsões econômicas do Reino Unido.

Sunak ainda enfrenta uma onda de greves e em certo grau a mesma instabilidade no partido que abalou Truss. O atual ministro dos Negócios, Grant Shapps, disse neste domingo que todos querem menos impostos, mas que o governo precisa priorizar a redução do déficit e da inflação para retomar o crescimento.

A oposição já usou o texto de Truss para voltar a criticar os rivais políticos, pedindo por uma mudança nos rumos do Reino Unido. "Os conservadores destruíram a economia, derrubaram a libra, ameaçaram o sistema previdenciário e fizeram com que a classe trabalhadora pagasse o preço", disse Rachel Reeves, responsável pela área econômica no Partido Trabalhista.

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