Um diplomata russo agrediu uma mulher também russa que protestava contra a Guerra da Ucrânia em frente ao consulado do país no Rio de Janeiro na tarde desta sexta (24). A agressão foi filmada pela amiga da vítima e testemunhada por dois policiais militares.
No dia em que o conflito completou um ano, a gerente de imóveis Uliana Lopatina, 37, e uma colega conterrânea que conheceu num grupo de mensagens decidiram colar cartazes na porta e no muro do imóvel localizado no Leblon, na zona sul carioca.
Os cartazes tinham as frases: "parem a guerra", "Putin, o inferno está te esperando" e "Putin vai para o inferno" em português e inglês, além de outras críticas em russo.
Instantes depois do ato de protesto, um homem saiu do consulado, arrancou os papéis, trocou palavras em russo com as duas e deu um tapa nas costas da amiga de Lopatina. Ao voltar para o imóvel, dois PMs que faziam a segurança da rua o chamaram.
O homem pediu desculpas a um dos agentes, que respondeu: "Não, não tem desculpa. O senhor agrediu ela", acrescentando que, se quisesse, a manifestante poderia dar queixa do crime na delegacia.
Segundo a tradução de Lopatina, no vídeo, o diplomata diz à sua amiga antes da agressão: "Me dê seu celular". Depois do tapa, ele ameaça a mulher dizendo que "ela terá mais do que já recebeu". A vítima pediu que sua identidade e a do agressor não fossem divulgadas.
"Ela não sabe se quer prestar queixa na Rússia, porque teme por sua segurança e de sua família. Ele tem imunidade diplomática e não pode ser processado aqui. Só na Rússia, mas eles [autoridades russas] não vão fazer nada", diz Lopatina.
Segundo ela, a colega tem medo de represálias caso decida voltar a morar no país, onde seus parentes ainda vivem. A vítima se mudou para o Brasil há alguns meses, depois do início da guerra, enquanto Lopatina vive nos EUA e está apenas de passagem como turista.
No Rio, a mulher agredida decidiu registrar um boletim de ocorrência por lesão corporal. Após a confusão, que aconteceu entre 12h e 13h, os policiais encaminharam as mulheres e o diplomata à Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), a cerca de um quilômetro dali.
"A vítima, uma testemunha e o autor, todos cidadãos russos, foram ouvidos. A mulher foi encaminhada para exame de corpo de delito. Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos", afirmou a Polícia Civil.
Questionada, a corporação afirmou que o agressor "é um funcionário do consulado" e "ainda não há confirmação de que é diplomata". No registro da ocorrência, porém, a profissão do homem de 59 anos consta como diplomata, junto ao número de seu documento.
A reportagem tentou contato com o consulado pelo telefone, pelas redes sociais e por email, mas ainda não obteve resposta. A Embaixada russa, horas depois, disse que está verificando os fatos.
Segundo o Itamaraty, agentes diplomáticos e membros do pessoal técnico-administrativo das embaixadas gozam de imunidade absoluta, não podendo ser presos, detidos ou processados no Brasil —desde que não tenham nacionalidade brasileira.
Já os funcionários e empregados consulares e das embaixadas têm imunidade parcial, restrita aos atos praticados no exercício de suas funções. Eles podem ser presos ou detidos por crimes comuns, desde que em decorrência de crime grave e com decisão judicial.
Procurada, a Polícia Militar confirmou os relatos: "Policiais militares do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas foram direcionados ao Leblon, onde ocorria um ato público na rua Professor Azevedo Marques. No local, houve um tumulto. A equipe policial interveio na situação. As pessoas envolvidas foram encaminhadas à delegacia."
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