Terremoto já soma 33 mil mortes, e Turquia se aproxima de marca de 1939

Grupos rebeldes dificultam chegada de ajuda enviada pelo governo para regiões afetadas na Síria

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Antáquia (Turquia) | Reuters e AFP

O número de mortos do terremoto que devastou partes da Turquia e da Síria chegou a mais de 33 mil neste domingo (12), de acordo com dados divulgados por autoridades de ambos os países.

Até o momento, o tremor de magnitude 7,8 deixou 29.695 mortos no sul da Turquia, segundo a agência pública de gestão de catástrofes, aos quais se somam ao menos 3.500 óbitos registrados na nação vizinha, onde as cifras não têm sido atualizadas há dois dias.

Assim, a Turquia se aproxima de seu recorde histórico —33 mil perderam suas vidas num sismo em 1939, que, assim como o tremor de agora, também teve magnitude 7,8.

Prédios destruídos pelo terremoto na cidade de Antáquia, na Turquia
Prédios destruídos pelo terremoto na cidade de Antáquia, na Turquia - Hassan Ayadi - 9.fev.23/AFP

Quase uma semana após a tragédia, as equipes de resgate ainda tentam encontrar sobreviventes sob os escombros, e as autoridades turcas iniciaram ações legais contra empreiteiros de prédios que desabaram.

Neste domingo, um pai e uma filha, um bebê e uma menina de 10 anos de idade estavam entre os resgatados que foram retirados das ruínas de prédios desabados na província de Hatay. Vídeo divulgado pela Prefeitura de Istambul mostrou equipes de socorro puxando Cudi, 10, por um buraco no chão de um edifício danificado antes de carregá-la em uma maca. Ela ficou enterrada por 147 horas.

Entretanto, cenas assim se tornam raras à medida que o número de mortos aumenta implacavelmente.

Ao longo da estrada principal que leva à cidade de Antáquia, onde os poucos prédios que restaram apresentavam grandes rachaduras ou fachadas desmoronadas, o tráfego ocasionalmente parava enquanto as equipes de resgate pediam silêncio para detectar sinais de vida remanescente sob as ruínas.

A qualidade das construções num país localizado em meio a várias falhas sísmicas entrou em pauta após o tremor. O vice-presidente Fuat Oktay disse que, até agora, 131 pessoas foram identificadas como suspeitas pelo desabamento de alguns dos milhares de edifícios colapsados nas dez províncias afetadas.

"Vamos acompanhar isso meticulosamente, até que o processo judicial necessário seja concluído, em especial para edifícios que sofreram danos pesados e causaram mortes e feridos", afirmou.

Num cenário em que cidades viraram pó, os sobreviventes montaram barracas o mais próximo possível de suas casas danificadas, para evitar que fossem saqueadas. Gizem, socorrista em Sanliurfa, no sudeste do país, disse ter visto saqueadores na cidade de Antáquia. "Não podemos intervir, a maioria carrega facas."

Um morador de Kahramanmaras disse que joias foram roubadas de sua casa, e na cidade portuária de Iskenderun a polícia se posicionou em cruzamentos de ruas comerciais. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pressionado devido à criticada resposta do governo à tragédia, prometeu punir os saqueadores.

O terremoto ocorreu às portas das eleições presidenciais e parlamentares deste ano, na qual Erdogan concorre a um novo mandato. Mesmo antes do desastre, sua popularidade estava caindo devido à alta da inflação e à desvalorização da moeda turca. Alguns dos afetados pelo sismo, além de políticos da oposição, acusam o governo de lentidão nos esforços de socorro. Críticos questionam por que o Exército, que desempenhou papel crucial após um outro trágico terremoto, em 1999, não foi convocado antes.

Erdogan reconheceu os problemas, como na entrega de ajuda —apesar das estradas e ruas danificadas—, mas disse que a situação foi controlada. Ele pediu solidariedade e condenou a politicagem "negativa".

Na Síria, rebeldes da guerra civil que assola o país há 12 anos agora atrapalham o trabalho de socorro.

O desastre atingiu com força o noroeste sírio, controlado por opositores à ditadura de Bashar al-Assad, deixando desabrigadas outra vez muitos que já tinham sido deslocados em outras oportunidades ao longo do conflito. A região recebeu pouca ajuda em comparação com as áreas controladas pelo governo.

Segundo a ONU neste domingo, porém, a ajuda enviada de zonas controladas pelo regime para áreas sob o comando de grupos radicais de oposição foi retida por problemas de aprovação com o grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), responsável por grande parte da área afetada pelo terremoto.

Uma fonte do HTS em Idlib afirmou que o grupo não permitiria nenhuma carga vinda do governo e que o auxílio viria da Turquia, pelo norte. Segundo a fonte, Ancara abriu todas as estradas, e o grupo não permitirá que o regime sírio se aproveite da situação para mostrar que está ajudando.

O enviado da União Europeia para a Síria, Dan Stoenescu, instou as autoridades em Damasco a "se envolverem de boa fé" com os trabalhadores humanitários. "É importante permitir o acesso desimpedido para que a ajuda chegue a todas as áreas onde ela é necessária", afirmou ele.

Vários países árabes deram apoio a Assad depois do terremoto. Já os países ocidentais, que tentam isolar Assad desde a repressão aos protestos em 2011 e a eclosão da guerra civil, contribuem com os esforços de socorro da ONU na Síria, mas forneceram pouca ajuda direta a Damasco. O primeiro carregamento de ajuda europeia para partes do país controladas pelo governo chegou à capital neste domingo.

O coordenador de ajuda emergencial da ONU, Martin Griffiths, que no Twitter reconheceu que a organização que representa "falhou com as pessoas no noroeste da Síria", viajará para Aleppo nesta segunda (13) para avaliar os danos provocados pelo sismo. Em Damasco, Geir Pedersen, enviado da ONU para o país, pediu que a política seja colocada de lado. "O momento é de unidade para ajudar a população."

O terremoto é o sexto desastre natural mais letal do mundo neste século. Na Turquia, 80 mil feridos estão internados em hospitais e mais de 1 milhão de desabrigados estão em instalações temporárias.

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