Turquia prende mais de cem acusados por colapso de prédios em terremoto

Ação ocorre em meio a críticas ao governo por lentidão na resposta à tragédia

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São Paulo | Reuters

Com o crescente descontentamento na Turquia devido à lenta resposta para socorrer vítimas do terremoto e a possíveis falhas na construção de prédios e casas, o governo começou neste sábado (11) a deter empreiteiros, os quais culpou por alguns dos colapsos que já deixaram mais de 24 mil mortos no país.

Mais de cem pessoas foram detidas nas dez províncias afetadas pelo tremor, segundo a agência de notícias estatal no sábado. O Ministério da Justiça ordenou que as autoridades nessas regiões criassem as chamadas unidades de investigação de crimes de terremoto. Além disso, promotores devem passar a acusar criminalmente construtores e responsáveis pelo colapso dos edifícios que não cumpriram os códigos existentes, implementados após um desastre semelhante em 1999.

Socorristas trabalham em meio a escombros na cidade de Kahramanmaras
Socorristas trabalham em meio a escombros na cidade de Kahramanmaras - Ozan Kose/AFP

Segundo o jornal The New York Times, Mehmet Yasar Coskun, construtor de um prédio de 12 andares em Hatay que foi completamente destruído, foi detido na sexta (10) em um aeroporto de Istambul tentando fugir para Montenegro. Acredita-se que dezenas de pessoas tenham morrido quando o edifício desabou.

Outros dois construtores, de um prédio de 14 andares que desabou em Adana, fugiram da Turquia imediatamente após o terremoto, mas foram detidos no norte do Chipre, segundo a administração local.

Erdogan prometeu começar a reconstruir as cidades dentro de semanas, dizendo que milhares de prédios estavam agora inabitáveis. Os perigos de desabamento ainda não cessaram. Um vídeo feito na província de Hatay neste sábado mostra um prédio parcialmente desmoronado escorregando repentinamente e enterrando um socorrista em uma avalanche de destroços antes que seus colegas pudessem retirá-lo.

Também neste sábado, Erdogan defendeu o governo, dizendo que o terremoto foi "três vezes maior e mais destrutivo do que o de 1999, o maior desastre na memória recente" da Turquia. Embora reconheça que a resposta oficial tem sido lenta, afirmou que o país não estava preparado para um tremor desta magnitude.

Cerca de 80 mil pessoas estão sendo tratadas em hospitais, enquanto mais de 1 milhão de desabrigados estão em instalações temporárias após perderem suas casas.

As imagens de prédios reduzidos a ruínas ao lado de edifícios sem grandes avarias aparentes levantaram discussões entre especialistas sobre a qualidade das construções no país. O tipo de planejamento urbano e a falta de coordenação entre leis e regulações sobre o tema, além de sua politização, também são alvo de críticas. Um exemplo é a decisão de Erdogan, em 2018, que concedeu anistia a responsáveis por construções irregulares pouco antes das eleições daquele ano.

A medida era parte de um pacote de perdão de dívidas e tinha como alvo uma imensidão de construções irregulares do país. Para os proprietários de imóveis com alguma anormalidade, bastava se inscrever em um site no qual eram solicitados documentos pessoais e informações do imóvel, além de pagar uma taxa que seria calculada de acordo com o valor da construção e da área. Dali em diante, o imóvel seria considerado regularizado, teria multas perdoadas e poderia acessar as redes de energia, água e gás.

Em julho de 2018, cerca de um mês após a eleição, o número de inscrições para a regularização passou de 2,6 milhões, segundo artigo publicado na Revista Turca de Engenharia em 2020. Com poréns: em fevereiro de 2019, 21 pessoas morreram no desabamento de um edifício residencial que tinha três de seus oito andares construídos ilegalmente —o imóvel, porém, havia sido regularizado pela medida presidencial.

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