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Governista se aproxima de vitória na Nigéria; oposição se une para anular eleição

Pleito presidencial é marcado por problemas técnicos e ameaças a órgão eleitoral

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São Paulo

Os principais partidos de oposição da Nigéria se uniram nesta terça-feira (28) para denunciar supostas fraudes nas eleições presidenciais e exigir uma nova votação, ao mesmo tempo em que resultados preliminares do pleito indicam a liderança do candidato governista, Bola Tinubu.

Com a apuração concluída em 33 dos 36 estados, Tinubu, do Congresso dos Progressistas, contabilizava 35%, ou 8,2 milhões dos votos válidos, tornando-se o favorito para substituir Muhammadu Buhari.

Para vencer, ele precisa de maioria simples, desde que tenha conquistado ao menos 25% dos votos em 24 dos estados do país. Se nenhum candidato alcançar o feito, o segundo turno ocorre em três semanas.

Bola Tinubu, candidato governista à Presidência da Nigéria (de azul, no centro), chega a centro de votação em Ikeja, em Lagos, escoltado por seguranças
Bola Tinubu, candidato governista à Presidência da Nigéria (de azul, no centro), chega a centro de votação em Ikeja, em Lagos, escoltado por seguranças - James Wessels - 25.fev.23/Reuters

Eleito duas vezes governador de Lagos na virada dos anos 2000, Tinubu ficou conhecido por ter aumentado as receitas do estado, onde está a cidade homônima, capital econômica da nação. Também conseguiu reduzir a taxa de crimes violentos, desafogar o trânsito infernal e limpar as ruas.

Apoiadores esperam que ele replique o êxito, agora em nível nacional, em meio a um contexto de violência generalizada e desemprego nas alturas, coroado por uma desordenada iniciativa para atualizar as cédulas da moeda local, processo que gerou escassez de papel-moeda.

Tinubu também herdaria uma série de problemas da administração de Buhari —uma lista que inclui assaltos armados, homicídios e sequestros cada vez mais frequentes e escassez de combustível e de energia. Além disso, o candidato de 70 anos demonstrou pouca firmeza em diversos momentos durante a campanha, gaguejando e respondendo a perguntas de jornalistas com obviedades.

Já seus dois principais rivais, Atiku Abubakar, do Partido Democrático Popular (PDP), e Peter Obi, do Partido Trabalhista, tinham 29% e 25% dos votos válidos, respectivamente, segundo as contagens preliminares. Obi, um raro nome da terceira via, vinha chamando a atenção na disputa, destacando-se por ser o único cristão na linha de frente da corrida e devido à sua força entre eleitores mais jovens.

As legendas de ambos alegam que os resultados das eleições foram alvo de uma "manipulação em larga escala" e exigem a anulação do pleito, sob a justificativa de que o processo perdeu sua credibilidade. "A eleição está irremediavelmente comprometida, e perdemos totalmente a confiança em todo o processo", disseram lideranças do PDP e do Trabalhista em entrevista coletiva.

De fato, as eleições foram marcadas por uma série de dificuldades técnicas em razão da implementação do Bvas, um novo sistema de votação. Semelhante à tecnologia de biometria utilizada no Brasil, o dispositivo prometia não só inibir fraudes —uma questão histórica no país—, como permitir a divulgação dos resultados das eleições online, logo depois do fechamento das urnas.

Erros em vários locais de votação impediram, no entanto, que os apoios fossem contabilizados diretamente pelo sistema, o que levou à contagem manual em muitos locais, frustrando em certa medida o principal objetivo do Bvas —cortar as raízes da manipulação eleitoral.

Também foram relatados episódios de violência e de intimidação no fim de semana, ainda que em menor grau do que em pleitos anteriores. Integrantes do Inec, o órgão eleitoral nacional, foram alvos de ameaças de morte, caso de um dos responsáveis pela contagem de votos do estado de Rios, no sul do território.

O Inec, aliás, não acatou o pedido de novas eleições. "Há procedimentos a serem seguidos por partidos ou candidatos que se sintam lesados quando estão insatisfeitos com o resultado. Estes procedimentos não incluem pedir a renúncia do diretor do Inec ou a anulação de um pleito", disse o órgão em nota.

Não foi desta vez que os nigerianos compareceram às urnas em peso. O país de 221 milhões de habitantes tem 93,5 milhões de cidadãos aptos a votar, mas o voto não é obrigatório. Faltando três estados para o fim da contagem, a soma de votos válidos era de apenas 19,5 milhões (menos de 21%).

Com AFP e Reuters

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