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Presidente da Colômbia demite ministros e agrava crise em reforma da Saúde

Petro exonerou titulares das pastas de Educação, Esporte e Cultura em primeira alteração ministerial desde a posse

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São Paulo

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, demitiu nesta segunda-feira (27) três ministros de seu gabinete, agravando a crise em torno da série de reformas nas áreas do trabalho, da Previdência e da Saúde que o primeiro líder de esquerda da história do país tenta aprovar no Congresso.

Saíram do governo o ex-reitor da Universidade dos Andes Alejandro Gaviria (Educação), a campeã olímpica María Isabel Urrutia (Esportes) e a dramaturga Patricia Ariza (Cultura). Foram escolhidos para os cargos, respectivamente, Aurora Vergara, Astrid Rodríguez e Ignacio Zorro —o último, nomeado de forma interina, é professor de piano das filhas de Petro, segundo a imprensa local.

Petro anuncia a demissão de três ministros no Palácio Presidencial da Colômbia, em Bogotá - Juan Diego Cano - 27.fev.23/Presidência da Colômbia via AFP

Documento obtido pela mídia colombiana mostrou, em publicação do portal Cambio, no domingo (26), que as mudanças propostas pela ministra da Saúde, Carolina Corcho, foram criticadas pelos titulares da Fazenda, da Agricultura e da Educação. As discordâncias giram em torno da questão fiscal do projeto, o que, segundo Petro, foi corrigido, mas também há divergências quanto à concepção do serviço de saúde.

Se aprovada, a reforma vai custar US$ 1,86 bilhão (R$ 9,7 bilhões) em 2024, informou o Ministério da Fazenda, e vai aumentar progressivamente nos próximos 10 anos até chegar a US$ 2,64 bilhões (R$ 13,7 bilhões) em 2033.

O principal ponto de discussão é a administração das EPS, ou Entidades Promotoras de Saúde —responsáveis por organizar o Sistema Geral de Saúde do país e cobrar as contribuições que os cidadãos devem fazer para usar o serviço. Atualmente, a gestão dessas entidades é mista, ou seja, tem participação do Estado e da iniciativa privada. A reforma do governo Petro quer diminuir o poder dessas entidades e aumentar o papel do órgão que administra publicamente os recursos. As mudanças, de acordo com o governo, pretendem corrigir discrepâncias territoriais no acesso à saúde.

Gaviria, que chefiou a pasta de Saúde e Proteção Social de 2012 a 2018, sustenta que as EPS devem ser mantidas onde funcionam bem. "O sistema atual é produto de 30 anos de inovação e trabalho coletivo. Destruí-lo seria suicídio", já havia dito ele em outro documento vazado à imprensa, no início de fevereiro.

Os apontamentos teriam sido feitos em uma reunião de ministros, de acordo com a mídia local. "A reforma proposta apresenta uma estratégia estranha: destruir o que funciona nas cidades para supostamente corrigir o que não funciona nas zonas rurais." Além disso, defendeu o ex-ministro, a experiência da Colômbia com serviços geridos unicamente com recursos públicos é "desastrosa".

Embora tenha demitido Gaviria após as divergências, Petro começou o anúncio desta segunda dizendo que a diversidade de opiniões é um valor do qual compartilha. O presidente justificou a sua decisão afirmando que as reformas precisam de debate na sociedade, mas também de consenso e determinação para que sejam aprovadas.

"Este governo da mudança não vai desistir de reformar para melhorar a saúde, a Previdência e as condições de trabalho para todos os colombianos e colombianas", afirmou. "Estamos em um momento decisivo para nossas reformas e precisamos de mais coesão e determinação."

O presidente afirmou ainda que a saúde é um direito, "não um negócio". "A atividade privada, que é bem-vinda, não pode impedir ou limitar esse direito", disse ele, em referência à briga em torno das EPS.

Os ministros da Fazenda, José Ocampo, e da Agricultura, Cecilia López, que também assinaram o texto vazado no domingo, estavam ao lado de Petro durante seu discurso. O presidente afirmou que levou em consideração as observações da carta e fez ajustes ao texto antes de apresentá-lo ao Congresso. O agora demitido Gaviria descreveu a publicação veiculada pelo portal como "vazamento mal-intencionado".

No Twitter, o ex-titular da Educação agradeceu a Petro pelo convite para fazer parte do governo. "Minhas opiniões sempre tiveram propósito construtivo dentro de uma gestão pluralista", escreveu. Em publicação no Instagram vista com algum grau de ironia, porém, Gaviria disse ter saído "por questões de saúde".

Já Ariza, da Cultura, criticou a demissão em entrevistas à imprensa colombiana e disse não saber a justificativa para a exoneração. "Sei que o presidente está exercendo um direito, porque todos os ministros somos de livre nomeação e remoção, mas eu teria preferido que ele tivesse me dito olhando nos olhos."

A reclamação da ex-ministra dos Esportes, Urrutia, vai na mesma linha. "Nunca me disseram nada", disse à revista Semana. A medalhista olímpica afirmou ter sido demitida por ser honesta e, questionada se havia corrupção no ministério que liderava, a ex-levantadora de peso respondeu que sim, assim como em todas as pastas. "Não me deixaram fazer muita coisa em cinco meses. Essa é a frustração." Não ficou claro o porquê das demissões de Ariza e Urrutia, que não assinaram a carta crítica à reforma da Saúde.

A Chefe de Gabinete da Presidência, Laura Sarabia, rebateu as críticas pelo Twitter. "É importante esclarecer que as duas ministras e o ministro que estão saindo conheciam a decisão do presidente Gustavo Petro antes do comunicado presidencial. As versões de que foram notificados pelos meios de comunicação são, no mínimo, imprecisas", escreveu. "As ministras, como todo o gabinete, foram convocadas a uma reunião pela tarde, na qual seriam avisadas da decisão. Por razões que desconheço não compareceram e foram avisadas por telefone."

Pela mesma rede social, a congressista de esquerda Jennifer Pedraza Sandoval criticou a decisão e disse que essa não foi a mudança pela qual a população votou. "Suspeitas as mudanças nos ministérios da Cultura e dos Esportes horas depois da reunião de Preto com César Gaviria (Partido Liberal), Efraín Cepeda (Conservador) e Dilian Francisca (Partido Social de Unidade Nacional), chefes da política tradicional."

Aurora Vergara, que assumirá o Ministério de Educação, é uma socióloga nascida em Cali e até esta segunda era a vice-ministra da pasta, indicada por Gaviria. Em entrevista ao jornal colombiano El País, ela contou que saiu de sua cidade de origem após seu pai desaparecer no apogeu do Cartel de Cali. Vergara cresceu em Istmina e fez mestrado e doutorado na Universidade de Massachusetts.

Astrid Rodríguez, licenciada em educação física pela Universidade Pedagógica Nacional e doutora em estudos sociais, é a nova ministra do Esporte. Ela foi professora da secretaria de Educação de Bogotá e desde 2010 atuava na formulação de políticas públicas do ministério.

Ignacio Zorro, ministro interino da Cultura, é um conhecido educador musical na Colômbia. Além de professor da Universidade Nacional e membro do Conselho Nacional de Música, ele dirigiu o projeto "Formação de profissionais em música para Colômbia" da OEA (Organização dos Estados Americanos). Zorro era vice-ministro da Criatividade na pasta que agora lidera.

Com AFP e Reuters

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