Israel promete suspender novos assentamentos na Cisjordânia e depois recua

Compromisso, desautorizado por Netanyahu, havia sido anunciado em reunião com autoridades palestinas na Jordânia

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São Paulo

Diante da escalada de violência na Cisjordânia, autoridades israelenses e palestinas se reuniram neste domingo (26) na Jordânia e discutiram uma agenda para reduzir a tensão na região.

Após o encontro que incluiu autoridades da área de segurança, foi divulgado um comunicado conjunto no qual Israel assumia o compromisso de suspender de forma temporária a expansão de assentamentos. Entretanto, houve reação negativa de membros da coalização ultradireitista liderada por Binyamin Netanyahu e, horas depois, o premiê negou o acordo. "Não haverá congelamento", disse.

Palestinos armados protestam na Faixa de Gaza contra encontros de autoridades na Jordânia - Said Khatib - 26.fev.23/AFP

Além da suspensão temporária dos assentamentos desautorizada por Netanyahu, no comunicado, Israel e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) se comprometem em trabalhar juntos para evitar novos atos de violência. "Os entendimentos representam progresso para aprofundar as relações", diz trecho do texto.

O encontro teve a participação ainda de autoridades dos EUA, do Egito e da Jordânia. Entre eles, o diretor do serviço de inteligência palestino, Majed Faraj, o diretor do serviço de inteligência interno israelense, Ronen Bar, e o coordenador do Conselho Nacional de Segurança americano para o Oriente Médio, Brett McGurk.

O resultado causou ruído na cúpula do poder em Israel. O ministro das Finanças, um ultradireitista, confrontou a decisão de suspender a construção de assentamentos. "Não haverá congelamento na construção e no desenvolvimento de assentamentos, nem por um dia", escreveu Bezalel Smotrich nas redes sociais antes da manifestação de Netanyahu.

Grupos de oposição palestinos, como o Hamas, criticaram a decisão do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, de apoiar o encontro. O partido Fatah, de Abbas, comunicou que considera a reunião necessária para "tomar decisões difíceis e assumir a responsabilidade" com o objetivo de evitar mortes palestinas.

A Cisjordânia é um território palestino ocupado por Israel desde 1967. Mais de 475 mil israelenses moram em assentamentos na região, onde vivem aproximadamente 3 milhões de palestinos.

A expansão dos assentamentos foi uma promessa de campanha de Netanyahu, que lidera o governo mais à direita da história de Israel, com a participação de líderes ultranacionalistas. Nos últimos dias, aliados do premiê vinham pressionando pela construção de moradias como resposta aos ataques em Jerusalém.

Enquanto ocorria o encontro na Jordânia, dois israelenses foram mortos a tiros na Cisjordânia. Autoridades israelenses afirmaram que o atirador é palestino, e forças de segurança foram mobilizadas para inspecionar os veículos nas principais vias da região.

O episódio aumenta as estatísticas de violência. As tensões na região aumentaram em janeiro, com a morte de dez palestinos durante uma ação do Exército israelense.

Na ocasião, autoridades israelenses disseram ter trocado tiros com militantes da Jihad Islâmica e do Hamas, grupos considerados terroristas por diversos países ocidentais.

A Autoridade Palestina —concebida como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado— disse que inocentes foram mortos na ação e que encerraria sua parceria com Israel na área da segurança. A cooperação, que já foi interrompida em outros momentos de crise, era considerada por muitos como responsável por impedir ataques contra Tel Aviv e por manter certa estabilidade na Cisjordânia.

Desde então, vários ataques foram registrados na região. Em um dos mais mortais, sete pessoas foram mortas a tiros em frente a uma sinagoga, em Jerusalém Oriental, no mês passado.

Desde o início do ano, ao menos 60 palestinos, a maioria militantes e alguns civis, foram mortos na onda de violência. Autoridades também manifestam preocupação com a proximidade do Ramadã (mês sagrado muçulmano), que começa no final de março.

A política para expansão dos assentamentos é criticada por organizações de direitos humanos e também por líderes de outros países. Neste mês, as chancelarias de Alemanha, França, EUA, Itália e Reino Unido divulgaram comunicado conjunto no qual disseram que a medida iria exacerbar a crise entre israelenses e palestinos, já agravada após uma série de ataques nas últimas semanas.

Também neste domingo, o Comitê Ministerial de Legislação, órgão que encaminha matérias para o Parlamento, aprovou um projeto de lei que institui a pena de morte para pessoas condenadas por terrorismo. A proposta deverá ser votada pelos parlamentares na quarta (1º).

O texto prevê a sentença de morte para aqueles que assassinarem cidadãos israelenses em "ato realizado por motivo racista ou ódio e com o propósito de prejudicar o Estado de Israel e o renascimento do povo judeu em sua pátria". A ONG Anistia Internacional criticou o projeto, argumentando que a sentença de morte é "cruel e desumana".

O vaivém das informações em relação aos assentamentos acontece ainda num momento em que o governo Netanyahu enfrenta protestos desencadeados por um projeto que ameaça a autonomia do Judiciário do país. Neste sábado (25), mais de 100 mil cidadãos se reuniram em cidades do país para protestar contra a proposta.

Com AFP e Reuters

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