Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski faz visita surpresa a Londres, pede armas e se reúne com rei Charles

Envio de caças teria 'consequências militares e políticas para a Europa e todo o mundo', diz Rússia

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São Paulo

Após quase um ano de discursos por vídeo, Volodimir Zelenski aposta agora na diplomacia presencial na tentativa de garantir mais armamentos de países aliados num momento crítico da guerra contra a Rússia.

O presidente da Ucrânia viajou a Londres nesta quarta (8), na segunda vez em que vai ao exterior desde que Vladimir Putin ordenou a invasão do país vizinho, em 24 de fevereiro. A primeira, a Washington, ocorreu no final de 2022 e terminou com o compromisso dos EUA de enviar seu sistema de defesa antiaéreo Patriot, que segundo analistas teria potencial de mudar os rumos da guerra no Leste Europeu.

O rei Charles se encontra com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em sua primeira visita ao Reino Unido desde o início da guerra com a Rússia
O rei Charles se encontra com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, em sua primeira visita ao Reino Unido desde o início da guerra com a Rússia - Aaron Chown/Pool via Reuters

A agenda na capital inglesa incluiu um encontro com o premiê Rishi Sunak, um discurso ao Parlamento britânico e uma visita ao rei Charles 3º no Palácio de Buckingham. Na sequência, Zelenski foi a Paris para encontros com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com o premiê alemão, Olaf Scholz.

"O Reino Unido foi um dos primeiros países a ajudar a Ucrânia. Hoje, estou em Londres para agradecer ao povo britânico pelo apoio e ao premiê Sunak pela liderança", postou Zelenski nas redes sociais.

Na sede do Legislativo, a fala do presidente foi costurada por novos pedidos de armas, agradecimentos pelo apoio e frases bem-humoradas que provocaram risadas. "Há dois anos, ao deixar o Parlamento britânico, agradeci pelo delicioso chá inglês. Deixarei o Parlamento hoje agradecendo antecipadamente a todos —pelos poderosos aviões ingleses", afirmou Zelenski. "Senhoras e senhores, agradeço por sua bravura. Londres está ao lado de Kiev desde o dia 1, desde os primeiros segundos e minutos da guerra."

"Eu tenho orgulho da nossa Força Aérea. E trouxe um presente dela para vocês", disse, ao entregar um capacete cujo dono, segundo ele, é um dos pilotos mais eficientes do país. "Nele está escrito: 'Temos liberdade. Deem a nós asas para protegê-la'."

Lindsay Hoyle, presidente do Parlamento britânico, segura capacete de piloto ucraniano dado ao Reino Unido por Zelenski - Stefan Rousseau/Pool via Reuters

Ao fim das declarações, Zelenski foi aplaudido efusivamente pelos parlamentares presentes.

Em reação, a embaixada da Rússia no Reino Unido disse, segundo a agência estatal de notícias Tass, que enviar caças à Ucrânia teria "consequências militares e políticas para a Europa e todo o mundo".

O presidente ucraniano teve a oportunidade de novamente tomar chá no Reino Unido —desta vez com o Rei Charles 3º, com quem foi conversar após o discurso no Parlamento. O encontro foi no Palácio de Buckingham.

O rei disse estar encantado com a visita, e Zelenski respondeu que era uma grande honra estar ali. "Por muito tempo nós todos estivemos preocupados com você e pensando no seu país", afirmou o rei. O presidente agradeceu pelo apoio do Reino Unido, e a reunião seguiu em ambiente privado. Eles conversaram por 30 minutos na Sala 1844, a principal do palácio.

Em nota, Sunak afirmou que a viagem de Zelenski é "prova de sua coragem, determinação e luta, além de evidência da amizade inabalável entre os países" —o Reino Unido tem sido um dos maiores aliados de Kiev na Europa desde que a guerra estourou. À época, o premiê era o controverso Boris Johnson.

O gabinete do atual primeiro-ministro britânico aproveitou a ocasião para anunciar mais sanções à Rússia e planos para acelerar o envio de armamentos ao país invadido, além de um programa de capacitação de combatentes ucranianos para pilotar caças avançados da Otan, a aliança militar ocidental.

Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, e Volodimir Zelenski, presidente ucraniano, posam em frente à sede do governo, em Downing Street, Londres - Henry Nicholls/Reuters

O comunicado não dá um prazo para o início dos treinamentos, mas autoridades britânicas dizem que aprender a pilotar esse tipo de aeronave leva anos. O compromisso, assim, sinaliza o estabelecimento de um plano de segurança de longo prazo com Kiev, mas pouco resolve o problema imediato com Moscou.

Também nesta quarta, Sunak afirmou em entrevista coletiva que os tanques britânicos Challenger prometidos a Kiev estarão operacionais no próximo mês. "As equipes ucranianas que chegaram na semana passada [para treinar no Reino Unido] usarão no mês que vem os tanques Challenger 2 para defender a soberania territorial da Ucrânia", afirmou o premiê ao lado de Zelenski.

Caças estão no topo da lista de desejos da Ucrânia. Putin, que define o conflito como uma reação à ameaça à segurança russa, afirma que o fornecimento ocidental de armas apenas prolongará a guerra.

Os países ocidentais aumentaram substancialmente as promessas de apoio militar à Ucrânia em meio a um período visto como decisivo para os combates. Nas últimas semanas, a Rússia realizou avanços importantes em batalhas no leste do país invadido, revertendo ganhos ucranianos do ano passado.

Na terça (7), Alemanha, Holanda e Dinamarca anunciaram o envio de ao menos cem tanques Leopard-1 a Kiev nos próximos meses. Os modelos são mais antigos que os 14 tanques Leopard-2 anunciados pelos alemães no último dia 25 e necessitam de modificações para serem usados em campo pelos ucranianos.

O número antes anunciado não teria impacto tão significativo, de acordo com especialistas, que dizem ser necessários de 100 a 300 blindados Leopard-2 para uma mudança concreta no conflito. Assim, o recém-anunciado envio dos Leopard-1 também abre dúvidas sobre a real efetividade da ajuda.

O premiê alemão criticou nesta quarta o que seria uma competição entre nações ocidentais no envio de armas à Ucrânia. "O que prejudica a nossa unidade é a competição pública para superar uns aos outros em relação a tanques de batalha, submarinos e aeronaves", afirmou Scholz ao Parlamento. "O lugar da Ucrânia é na Europa, seu futuro está na União Europeia. Essa promessa segue verdadeira."

Nesta quinta (9), Zelenski visita Bruxelas para participar de uma cúpula com líderes do bloco europeu. No início do mês, autoridades da UE foram à capital ucraniana para discutir o aumento de envios de armas e de dinheiro para o território invadido, além da cobertura de suas necessidades energéticas. A infraestrutura ucraniana tem sido um dos maiores alvo dos bombardeios russos nos últimos meses.

A visita da cúpula da UE foi vista como uma aproximação, mas a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, evitou falar sobre a inclusão do país no bloco, frustrando os desejos ucranianos para acelerar a adesão. Kiev pediu para ser membro quatro dias após os russos cruzarem suas fronteiras. O país solicitou a avaliação de entrada em caráter de urgência, mas qualquer processo de adesão é longo e difícil.

No encontro na capital belga, a expectativa é que os líderes apoiem o plano de paz com dez pontos de Zelenski. Lançado em novembro, em uma cúpula do G20, a lista exige a retirada das tropas de Moscou da Ucrânia e pede a criação de um tribunal especial para punir eventuais crimes de guerra russos. Outros pontos envolvem medidas para garantir a segurança alimentar e energética da nação do Leste Europeu.

O Kremlin de Putin, claro, já descartou atender às demandas ucranianas para encerrar o conflito.

Com Reuters e AFP

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