Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Líderes da UE visitam Ucrânia em meio a alertas de nova mobilização russa no leste

Aproximação entre Kiev e bloco não significa maior celeridade de processo de adesão, como Zelenski deseja

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Vista como demonstração da aproximação entre Ucrânia e União Europeia, a visita de líderes do bloco a Kiev nesta quinta-feira (2) ocorre em meio a uma escalada dos conflitos no leste do país —e à expectativa de um cenário ainda mais devastador no final do mês, quando a guerra completa um ano .

O prognóstico foi anunciado pelo ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Keznikov, no dia anterior. À imprensa francesa ele afirmou que a Rússia planeja uma grande ofensiva para coincidir com o primeiro aniversário dos combates, em 24 de fevereiro, pondo em campo as tropas mobilizadas pelo Kremlin no fim do ano passado. O número oficial de soldados convocados é de 320 mil, mas Keznikov alegou que o efetivo parece estar mais próximo dos 500 mil homens, que já estariam se organizando nas fronteiras.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, durante encontro em Kiev - Presidência da Ucrânia - 2.fev.23/via Reuters

O chanceler russo, Serguei Lavrov, também indicou que seu país prepara uma surpresa para a data, mas numa fala enigmática: segundo ele, diplomatas trabalham para garantir que eventos organizados pelo Ocidente no dia "não sejam os únicos a atrair a atenção mundial". A Rússia comemorou nesta quinta os 80 anos da Batalha de Stalingrado, quando os soviéticos derrotaram os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Para Keznikov, o ataque seria concentrado em duas regiões do país já disputadas —o leste e o sul. A primeira, aliás, tem se transformado no ponto focal da guerra. Entre a noite de quarta e manhã desta quinta, outra ofensiva russa foi registrada, com mísseis atingindo a cidade de Kramatorsk. Ao menos três pessoas morreram e outras 18 ficaram feridas, além de um prédio ter sido completamente destruído.

Batalhas mais sangrentas têm ocorrido em Bakhmut, onde as forças de Moscou conseguiram interromper as linhas de suprimento do Exército ucraniano. Ao estilo do que ocorreu em Mariupol, tomada no mais violento cerco da guerra até aqui, a cidade hoje virou ruína. Dos cerca de 70 mil habitantes que abrigava, sobraram 6.500 —o prefeito implorou a eles que saíssem dali no início desta semana.

"Temos notado um aumento das operações ofensivas no leste do país", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em pronunciamento em vídeo na quarta. "A situação se tornou mais difícil."

Nesta quinta, ao comentar o ataque a Kramatorsk, ele voltou a pedir mais ajuda militar do Ocidente. "A única forma de impedir o terrorismo russo é derrotá-lo. Com tanques. Aviões de caça. Mísseis de longo alcance", afirmou —só os EUA já doaram mais de US$ 20 bilhões em auxílios militares ao país invadido, de acordo com dados compilados pelo Instituto da Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.

A depender da UE, que já enviou quase US$ 35 bilhões à Ucrânia e prometeu uma mesada bilionária para o território neste ano, de cerca de US$ 1,65 bilhão (R$ 8,2 bilhões), mais ajuda está a caminho.

Entre os tópicos que as autoridades do bloco pretendem discutir com Zelenski na viagem de dois dias a Kiev estão o aumento das remessas de armamentos e de dinheiro e a cobertura das necessidades energéticas do país, cuja infraestrutura tem sido alvo dos bombardeios russos nos últimos meses.

"Estamos aqui juntos para mostrar que a União Europeia apoia a Ucrânia tão firmemente quanto sempre", afirmou Ursula von der Leyen, líder da Comissão Europeia —o braço executivo da UE—, após chegar de trem à capital, acompanhada de uma dúzia de representantes do grupo.

A primeira conversa foi concluída com o anúncio de mais um pacote de sanções contra Moscou, a ser lançado até o aniversário da guerra. Von der Leyen afirmou que as medidas têm sido responsáveis por erodir a economia russa e fazê-la retroceder uma geração —uma fala exagerada, dada a pouca efetividade das punições para deter o conflito em si e a resistência demonstrada pelo mercado do país liderado por Vladimir Putin, embora analistas afirmem que elas podem, sim, ter impacto crescente no futuro.

A alemã também anunciou a criação de um centro internacional para coletar evidências de crimes de agressão —isto é, o "uso de força armada por um Estado contra a soberania, a integridade territorial ou a independência política de outro"— de Moscou contra Kiev. Segundo ela, o órgão responderia à equipe da Eurojust (Agência Europeia para a Cooperação Judiciária Penal) que investiga matérias do tipo.

O centro tem sede em Haia, na Holanda, onde fica o Tribunal Penal Internacional —que, por sua vez, apura supostos crimes de guerra cometidos pelos invasores na Ucrânia, mas não pode abrir ações por infrações ligadas ao crime de agressão por países não signatários do seu estatuto, caso da Rússia.

Von der Leyen evitou, por outro lado, tocar no tema da inclusão da Ucrânia na UE, frustrando os desejos ucranianos para acelerar a adesão. Kiev pediu para entrar no bloco quatro dias após os russos cruzarem suas fronteiras. Na sequência, Moldova e Geórgia, outras ex-repúblicas soviéticas e que, assim como a Ucrânia, lutam contra separatistas em regiões ocupadas por Moscou, seguiram o mesmo caminho.

A UE deu sinal verde para a candidatura de Kiev em meados do ano passado, num gesto acima de tudo simbólico em meio à guerra. Ainda nesta quinta, Zelenski disse a Ucrânia merece que o bloco europeu avance com as negociações ainda neste ano e que esse processo inspiraria seus soldados a lutar contra as tropas russas.

Mas o caminho da adesão pode levar anos, já que o processo exige reformas profundas no país. Uma delas é a adoção de uma série de medidas anticorrupção —a Ucrânia amarga o segundo lugar no ranking dos mais corruptos do continente, atrás apenas da Rússia.

O governo de Zelenski vem realizando operações nesse sentido nas últimas semanas, com o afastamento de diversas autoridades, a emissão de mandados de busca e apreensão contra outras e, mais recentemente, a prisão do bilionário Ihor Kolomoiskii, antigo aliado do presidente.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.