Aliado de Putin apoia plano de paz chinês para a Ucrânia

Pequim recebe ditador da Belarus e ignora pressões dos EUA contra Xi Jinping na guerra

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São Paulo

Ditador da Belarus e um dos raros apoiadores incondicionais de Vladimir Putin, Aleksandr Lukachenko abriu sua visita oficial à China, nesta quarta-feira (1º), com uma declaração de apoio ao plano do governo de Xi Jinping para tentar mediar uma solução para a Guerra da Ucrânia.

"Belarus apoia plenamente sua iniciativa em favor da segurança internacional", afirmou o líder belarusso, de acordo com o regime de seu país, em encontro com o dirigente chinês em Pequim.

O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, e o líder da China, Xi Jinping, assinam declaração conjunta no Grande Salão do Povo, em Pequim
O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, e o líder da China, Xi Jinping, assinam declaração conjunta no Grande Salão do Povo, em Pequim - Liu Bin/Xinhua

Mais importante que o valor de face do falatório é o propósito da visita, desenhada para mostrar que Pequim ignora as recentes acusações americanas de que apoia o esforço russo na invasão do vizinho.

A pressão de Washington, na forma de repetidas acusações de que a China pretende enviar armas para Putin da mesma forma que o Ocidente faz com Volodimir Zelenski, cresceu nas últimas semanas.

Foi a reversão de um movimento de aproximação iniciado por Xi no fim do ano passado, após encontro com o americano Joe Biden. O gatilho da mudança foi a chamada crise dos óvnis, quando os EUA abateram um balão chinês acusado de espionagem sobre seu território. Pequim, claro, nega as acusações, da espionagem à intenção de armar Putin. Mas a real questão é como essa renovada animosidade se insere no contexto da Guerra Fria 2.0 travada entre as duas maiores economias do mundo desde 2017.

Ao antagonizar-se a Pequim, Washington busca evitar fissuras na unidade ocidental em torno de si, galvanizada no conflito europeu e que pode se espraiar no futuro em um eventual embate com a China, provavelmente acerca da ilha de Taiwan. Mas vários aliados americanos na Europa têm laços comerciais importantes com o gigante asiático, o que embaralha a equação.

Seja como for, ao receber um pária internacional como Lukachenko, Xi demonstra que seguirá com sua aliança com Putin, selada com pompa em Pequim 20 dias antes do início da guerra russa contra Kiev.

Ao mesmo tempo em que lançou linhas de oxigênio econômicas, aumentando em 48% a importação de itens russos, em especial petróleo e gás, Xi também buscou vantagens comerciais e uma certa ambiguidade política. Nunca condenou a invasão russa, que usa território mas não tropas da Belarus, e condena o regime de sanções ocidentais contra Moscou por temer ser a próxima vítima. Ainda sugeriu desconforto com a guerra em conversas com Putin e pede repetidamente a paz.

Com efeito, seu plano de paz divulgado no aniversário de primeiro ano do conflito, na sexta (24), é um "best of" de propostas. Pede respeito à soberania territorial e cessação de hostilidades, mas também fim de sanções e da expansão de blocos militares —em português: da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA cuja eventual entrada da Ucrânia foi um dos "casus belli" de Putin.

O plano foi rejeitado no Ocidente, que vê a China como apoiadora da Rússia, elogiado em Moscou e recebido com frieza pela Ucrânia —que de todo modo não quer briga com Pequim e já disse não acreditar na acusação americana de fornecimento eventual de armamentos ao adversário.

Sobre o que de fato Xi e Lukachenko conversaram ninguém sabe, dada a opacidade usual desses encontros. O líder chinês só fez divulgar platitudes sobre a necessidade de melhorar a relação bilateral.

Ucrânia usa drones contra a Crimeia

Nos campos de batalha, a Ucrânia voltou a usar drones contra as forças russas. Nesta quarta, os alvos foram posições militares na Crimeia, a península anexada por Putin em 2014 na esteira da revolta que derrubou o governo pró-Kremlin de Kiev, prelúdio do conflito atual.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, o ataque foi "maciço, mas repelido" sem vítimas ou danos. Não é a primeira vez que os ucranianos miram a região, que já teve o QG da Frota do Mar Negro de Moscou, linhas ferroviárias, uma base aérea e a ponte que a liga à Rússia continental alvejadas.

O incidente ocorre um dia após uma série de ataques com drones no território russo, inclusive com o emprego de um modelo ucraniano que quase atingiu uma central de compressão de gás perto de Moscou.

Nesta quarta, o assessor presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak tentou negar a autoria das ações, dizendo que suas forças só operam em seu país, levantando a hipótese de que os ataques foram de russos insatisfeitos com o governo. O Kremlin disse não acreditar nele.

Enquanto isso, a pressão russa sobre Bakhmut está praticamente acabando com a resistência de Kiev na cidade, estratégica para a eventual tomada do restante da região de Donetsk, no leste, que Putin não controla apesar de tê-la anexado de forma ilegal em setembro. O governo ucraniano afirmou que pode abandonar a cidade "de forma estratégica", dada a incapacidade de suportar a ofensiva atual, que já dura seis meses. Analistas debatem se o altíssimo custo em vidas humanas e equipamento de tal vitória não seria alto demais para Putin, mas o fato é que ambos os lados apostaram muito nessa batalha.

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