Descrição de chapéu China jornalismo mídia

Impostores se passam por jornalistas da Reuters para investigar dissidentes na China

Perfis falsos buscavam informações sobre protestos contra a Covid zero do ano passado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Hong Kong | Reuters

Dois jornalistas da agência de notícias Reuters que trabalham na China tiveram suas identidades falsificadas e usadas para abordar opositores do regime em redes sociais ao longo de diversos meses. O caso foi revelado por um ativista chinês baseado na Austrália no último sábado (25).

Os jornalistas em questão são Brenda Goh e Jessie Pang, respectivamente chefe da sucursal do veículo em Xangai e correspondente da empresa baseada em Hong Kong. Suas contas plagiadas começaram a surgir em plataformas como Telegram e Instagram no final de novembro.

foto de credencial de imprensa borrada
Imagem de credencial de Brenda Goh, chefe da sucursal da agência de notícias Reuters em Xangai, enviada por impostor a grupo de dissidentes chineses - @badiucao/Twitter/Reprodução

Capturas de tela mostram que, em ambos os casos, os impostores buscavam informações sobre pessoas ligadas à onda de protestos contra a política de Covid zero que mobilizava o país naquele mês —os atos representaram a maior demonstração contra o líder Xi Jinping desde que ele assumiu, uma década atrás.

O ativista que expôs o esquema, um cartunista político conhecido como Badiucao, afirmou que a princípio ele e pessoas próximas foram abordados no Telegram por alguém que dizia ser Pang. A suposta jornalista pedia informações sobre a plataforma virtual em mandarim Citizens Daily, que reúne obras de arte de protesto e foi muito usada por manifestantes para se articularem durante as manifestações.

"Olá a todos. Sou Jessie, da Reuters", disse o impostor que fingia ser a repórter, no Telegram. Ele então perguntou a dois membros do grupo: "Vocês têm algum laço com o Citizens Daily?".

Badiucao contou que o impostor tentou ganhar a confiança do grupo dando detalhes sobre a formação de Pang e seus textos mais recentes. Mas o cartunista começou a suspeitar das perguntas que ele fazia.

Ele então pediu que sua identidade fosse confirmada por meio da conta da jornalista no Twitter, verificada —o falso Pang disse que isso seria impossível porque ela era administrada por uma equipe da própria Reuters. Em seguida, o impostor enviou uma foto de uma credencial de imprensa que já havia expirado.

Em outro caso, um ativista que mora fora da China afirmou que um perfil de Goh o contatou via Telegram e trocou mensagens de texto com ele por meses, além de ter conversado por telefone em uma ocasião.

Para ganhar sua confiança, o impostor enviou uma foto da credencial da jornalista e outros detalhes pessoais, como sua nacionalidade. O ativista só descobriu que o perfil era falso depois de ler o post de Baudicao. Não se sabe quem está por trás dos perfis falsos. Depois que eles foram expostos, as contas e as conversas foram deletadas. Os perfis verificados de Pang e de Goh não parecem ter sido hackeados.

Um porta-voz da Reuters afirmou que o caso está sendo apurado, assim como o roubo das credenciais dos jornalistas, e que "ações apropriadas serão tomadas". Um administrador do Citizens Daily disse que o grupo suspeita que o regime chinês esteja envolvido na ação, mas não apresentou evidências para tal.

O Ministério das Relações Exteriores da China, a Administração do Ciberespaço da China e a Agência de Segurança Pública do país não responderam aos pedidos de comentário, assim como o Telegram. Um porta-voz do Instagram se limitou a afirmar que a plataforma derrubou uma conta falsa envolvida no caso.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.