Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Putin diz que Rússia sofreu ataque inédito e cancela viagem

Segundo presidente, ação na fronteira ucraniana foi feita por terroristas; analistas suspeitam de 'bandeira falsa'

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São Paulo

Um nebuloso e inédito ataque atribuído a um grupo russo pró-Ucrânia levou o presidente Vladimir Putin a cancelar uma viagem e a convocar reunião com seu Conselho de Segurança nesta quinta-feira (2), em meio a uma série de ações contra o país que invadiu o vizinho há um ano.

O episódio ocorreu em duas vilas ao lado da fronteira ucraniana, Liubechan e Suchani, na região de Briansk, no sul da Rússia. De acordo com a mídia estatal do país, cerca de 40 soldados invadiram as localidades e atiraram nos residentes —ao menos uma pessoa foi morta.

Bombeiro ucraniano trabalha no resgate em prédio atingido por míssil russo em Zaporíjia
Bombeiro ucraniano trabalha no resgate em prédio atingido por míssil russo em Zaporíjia - Katerina Klotchko/AFP

Em vídeos, combatentes com a identificação usual da Ucrânia, faixas amarelas nos braços e nas pernas, fazem declarações ao lado de prédios da administração local e em frente a uma caixa de correio russa. "Comecem um motim! Lutem!", diz um deles.

Eles dizem fazer parte do Corpo de Voluntários Russos, uma unidade de cidadãos russos e ucranianos que, segundo Kiev, lutam contra o Kremlin. Segundo blogueiros militares russos, trata-se de uma unidade treinada pela CIA, a agência de inteligência americana. Nada disso é comprovável.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirma que o país foi vítima de um ataque terrorista e que Putin cancelou a ida a Stravopol para acompanhar os desdobramentos da ação. Se confirmada, será a primeira vez que soldados pró-Ucrânia invadiram o território desde o início da guerra, em 24 de fevereiro de 2022.

O líder do Kremlin discutiu a crise com seu Conselho de Segurança. Em uma rápida fala televisionada, ele chamou os invasores de "terroristas neonazistas" e disse que a "Rússia irá prevalecer". Tal intrusão mudaria o status do embate com Kiev, hoje concentrado em torno de Bakhmut, em Donetsk, no leste ucraniano, e por isso mesmo alguns analistas veem com desconfiança o incidente.

Para eles, o Kremlin pode ter armado uma operação de falsa bandeira, em que um país simula um ataque contra si mesmo para iniciar uma guerra, retaliar adversários ou escalar uma situação estabelecida —justificando, por exemplo, uma mobilização adicional à de 320 mil reservistas já feita no fim de 2022.

Não se sabe ao certo como a ação acabou. A agência estatal russa Tass afirmou que o FSB, o serviço federal de segurança, enviou uma equipe para "destruir os nacionalistas ucranianos que violaram a fronteira estatal". Canais de Telegram ligados às forças de segurança russas identificaram dois soldados como membros de supostos grupos neonazistas ucranianos, mas, por ora, nada disso é verificável.

Kiev negou relação com o caso. Segundo o assessor presidencial Mikhailo Podoliak, no Twitter, a Rússia precisa "temer seus próprios guerrilheiros", insinuando que foram locais os responsáveis pelo ataque.

O incidente se soma a ataques com drones em localidades russas na terça (28), dia que também registrou uma ação de hackers que inseriu uma mensagem falsa de ataque com mísseis em rádios e TVs russas.

Na segunda (27), guerrilheiros da oposição na Belarus disseram ter destruído um avião-radar A-50 russo numa base perto de Minsk, mas imagens de satélite e de TV posteriores demonstraram que eles estavam mentindo, um claro exemplo de que a desinformação não tem uniforme nesta guerra.

Mesmo isso tem nuances, contudo: o grupo que diz ter cometido o ataque, o Bipol, publicou um vídeo nesta quinta-feira mostrando o voo do que parece um pequeno drone doméstico sobre a base, pousando em cima do prato de radar do A-50, embora não haja nenhum sinal de dano ao avião. Também nesta quinta, um avião de transporte militar pesado Il-76 pegou fogo e foi destruído em sua fábrica em Ulianovsk, matando uma pessoa. A fabricante Iliúchin afirmou que o episódio foi acidental, de todo modo.

A confusão tira um pouco o foco da ação em Bakhmut, onde o líder do grupo mercenário russo Wagner, Ievguêni Prigojin, disse ter entrado com suas forças nesta quinta. Ele postou um vídeo de seus soldados em uma área da cidade, que a Ucrânia disse que pode abandonar para evitar mais perdas.

Se Bakhmut cair, o caminho pode se abrir para que Putin tente controlar os cerca de 50% que faltam da região de Donetsk, uma das quatro anexadas ilegalmente em setembro do ano passado. Em outra delas, Zaporíjia, um ataque com mísseis nesta noite atingiu um prédio residencial na capital homônima, que ainda está sob controle ucraniano. Pelo menos quatro civis morreram, segundo a prefeitura local.

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