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Sob acusações de conluio com a inteligência chinesa, o parlamentar canadense Han Dong deixou o Partido Liberal (o mesmo do premiê Justin Trudeau). É apenas o mais novo capítulo de uma novela que se desenrola desde a semana passada.
Reportagem do portal Global News revelou um encontro secreto do parlamentar com o cônsul chinês em Toronto em 2021. Citando fontes anônimas, a publicação afirmou que:
- Han Dong aconselhou que Pequim adiasse a libertação de Michael Kovrig e Michael Spavor, dois cidadãos canadenses presos na China;
- Sugeriu isso como retaliação à prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei detida no Canadá por supostas violações de sanções americanas;
- Indicou que libertação de Spavor e Kobrig poderia beneficiar o Partido Conservador, de oposição.
O "caso dos dois Michaels" tornou-se objeto de comoção nacional e acelerou o esfriamento nas relações do país com a China.
Han nasceu em Xangai. Embora aparentemente não estivesse representando oficialmente o governo, ele se tornou tema sensível em Ottawa. Trudeau evitou tocar no assunto ao longo da semana.
A reportagem publicada do Global News faz parte de uma série produzida em parceria com o jornal The Globe and Mail com base em documentos vazados e entrevistas com oficiais de inteligência.
Desde o início de março, o veículo revelou que Pequim tentou interferir nas eleições canadenses, trabalhando para beneficiar candidatos específicos em 2021. A líder do Partido Conservador, Erin O'Toole, reagiu às acusações estimando que a possível interferência pode ter custado à sua sigla até nove cadeiras no Parlamento.
Por que importa: movimentos semelhantes de contatos escusos e interferências em pleitos eleitorais pelos chineses já tinham sido reportados anteriormente na Austrália, mas são uma novidade no Canadá.
Nas últimas semanas, cresceu o descontentamento no país com Trudeau, que tenta se equilibrar em uma corda bamba entre a dependência de investimentos e importações chinesas e a necessidade de adotar mais firmeza no relacionamento com Pequim.
- Ainda que tímidos, clamores pela renúncia do premiê começaram, com alguns políticos classificando-o de "fraco" ao lidar com a China.
O que também importa
★ A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, chegou na quarta (29) aos EUA em uma viagem que irritou Pequim. Tsai visita Belize e Guatemala —que reconhecem a ilha em vez da China continental. Também passou por Nova York e deve ainda fazer escala em Los Angeles. O Ministério das Relações Exteriores chinês descreveu a viagem como uma "violação do princípio de uma única China" e acusou americanos de minarem a "soberania e a integridade territorial da China". Tsai afirmou que "não vai sucumbir" aos desejos de Pequim.
★ O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, pediu que empresários e governos locais trabalhem para evitar "caos e conflitos" na Ásia. Número 2 na hierarquia chinesa, Li participa de um fórum na ilha de Hainan, sul do país, que este ano conta com a presença de nomes de pesos como o CEO da Apple, Tim Cook, e o fundador da Blackstone, Steve Schwarzman.
★ O Conselho de Estado chinês divulgou na terça (28) um relatório apontando uma lista de violações de direitos humanos promovidas pelos EUA. O texto acusa os americanos de fazerem vista grossa à discriminação racial, à violência policial, ao discurso de ódio e à crise carcerária. O texto aponta crimes cometidos pelos militares do país (o relatório fala em 900 mil mortos pelas forças americanas desde 2001, incluindo cerca de 335 mil civis). Entre observadores, o documento foi visto como uma tentativa chinesa de descredibilizar acusações americanas quanto a crimes contra os direitos humanos em solo chinês.
★ Após reatar laços diplomáticos com o Irã com intermediação da China, a Arábia Saudita anunciou que vai se juntar à Organização de Cooperação de Xangai. Estabelecido em 2001, o órgão funciona como instrumento de trocas políticas, econômicas e como fórum para discussões relativas à segurança regional. O anúncio denota significativa influência chinesa no Oriente Médio, região que historicamente sempre esteve sob o guarda-chuva europeu ou dos EUA.
Fique de olho
Brasil e China anunciaram a criação de uma câmara de compensação capaz de liquidar negócios e viabilizar empréstimos sem passar pelo dólar. O instrumento será gerido pelo ICBC, um dos maiores bancos chineses, e é mais uma etapa no ambicioso projeto de Pequim em internacionalizar o yuan. Os bancos centrais dos dois países também assinaram um acordo que permitirá a conversão direta de yuan para real (e vice-versa), tornando negócios menos custosos e burocráticos.
Por que importa: Internacionalizar o uso do yuan tornou-se imperativo nos objetivos de médio e longo prazo na China desde a crise em 2008 e, especialmente, após sucessivas rodadas de sanções unilaterais impostas pelos EUA mundo afora.
Hoje, a tarefa ainda se encontra muito distante do ideal almejado. O acesso ao yuan continua limitado por entraves legais, as operações ainda são custosas e o uso da moeda esbarra em um mercado financeiro chinês imaturo.
Assim, não deixa de ser uma vitória e tanto da China assinar um acordo do tipo com o Brasil, especialmente levando em conta o alto volume de trocas comerciais entre os países.
Para ir a fundo
- A Apex Brasil lançou um relatório bastante completo com o perfil de negócios na China, apresentando oportunidades para negócios e investimentos a empresas brasileiras. O documento está disponível aqui. (gratuito).
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