Descrição de chapéu RFI África

Viagem de Kamala à África é ofensiva dos EUA para conter Rússia e China no continente

Vice de Biden chega a última etapa da missão diplomática de nove dias

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Alexandra Brangeon
RFI

"Vocês ainda vão nos ver na África", disse Antony Blinken em dezembro passado, em Washington, durante a cúpula Estados Unidos-África. O secretário de Estado americano já visitou o Níger e a Etiópia. No início deste ano, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, esteve no Senegal, Zâmbia e África do Sul.

Desta vez, foi a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris em pessoa, a viajar ao continente, em uma verdadeira ofensiva.

kamala harris, mulher negra de pele clara, cumprimenta Philip Mpango, homem negro retinto. a foto ainda mostra o segurança que abre a porta do carro para kamala e uma mulher que acompanha mpango. o carro ainda está decorado com bandeiras dos eua e da tanzânia
A vice-presidente dos EUA Kamala Harris encontra o vice-presidente da Tanzânia, Philip Mpango, antes de sua partida do país, no aeroporto Julius Nyerere, em Dar es Salaam - Emmanuel Herman - 31.mar.23/Reuters

Assim que chegou a Acra, no início da semana, ela deixou claro o tom da visita. "Estou muito entusiasmada com o futuro da África. Muito entusiasmada com o impacto no resto do mundo, incluindo os Estados Unidos. Quando vejo o que está acontecendo neste continente, o fato de que a média de idade é de 19 anos e o que isso significa em termos de crescimento, oportunidades, inovações e possibilidades, vejo todas essas grandes oportunidades, não apenas para o continente, mas para o mundo inteiro", disse Kamala.

Recuperar o atraso

Washington quer fortalecer e desenvolver os laços com a África –especialmente os econômicos– e promover investimentos para tentar conter a ascensão da China e da Rússia no continente. Os Estados Unidos querem recuperar o atraso, diz Ousmane Sène, diretor do Centro de Pesquisa da África Ocidental. Um atraso que se ampliou sob a presidência do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

"A América está muito presente nas áreas de cooperação no continente, mas no setor econômico sua presença é mínima", sublinha Sène. "Os Estados Unidos precisam conhecer a África. O continente africano é um grande desconhecido para eles. Devem aprender a descobrir esta África positiva, esta África que avança a passos largos em todas as áreas, que está pronta para acolher todos os investidores europeus, americanos e asiáticos. Investimentos em que todos ganham. As possibilidades estão aí, adormecidas. E outros estão explorando. Se você olhar os países que mais investem na África, tem os chineses, mas também os indianos e os turcos", explica.

Gana atravessa uma grave crise econômica, com uma inflação galopante superior a 50% e seu ministro da Economia esteve recentemente em Pequim para renegociar a dívida do país. O mesmo vale para a Zâmbia, da qual mais da metade da dívida externa é detida por bancos chineses –mais de US$ 6 bilhões (R$ 30,4 bilhões)– e que está inadimplente, e para a Tanzânia, onde a China é o principal investidor com nada menos do que uma centena de projetos em andamento, em diversas áreas como mineração, transporte, agricultura, pesca e turismo.

Um novo campo de batalha entre grandes potências

Para Christopher Fomunyoh, diretor regional para a África do National Democratic Institute, os Estados Unidos também querem dar mais destaque aos países que optaram pela boa governança e pela democracia. "Gana é o primeiro país da África Subsaariana a conquistar a independência. A Tanzânia é o único, atualmente, a ter uma mulher como presidente, chefe do Executivo. E a Zâmbia é coanfitriã de uma cúpula mundial sobre democracia e boa governança", analisa.

A África é novamente um campo de batalha entre as grandes potências, acredita o colunista guineense Boubacar Sanso Barry. Ele acrescenta que os africanos devem aproveitar essa luta de influência entre Estados Unidos, China e Rússia. "Vemos tudo isso como uma forma de redefinir relações. Isso dá margem ao continente africano para poder discutir, debater e negociar com os parceiros em questão. Agora, talvez os Estados Unidos, a França e todos os outros parceiros ocidentais saibam que, se não tivermos cuidado, os lugares que deixamos vagos podem ser preenchidos por outros parceiros. Acho que estamos ficando menos condescendentes, impomos menos as coisas, tentamos relativamente de igual para igual, como parceiros e não como ex-potências coloniais", afirma.

Nesse sentido, Kamala Harris, primeira mulher afro-americana vice-presidente dos Estados Unidos, parece a portadora ideal desta nova visão americana da África.

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