Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia sofre ataques de todos os lados ao presidir Conselho de Segurança da ONU

Lavrov reage com crítica à própria entidade e diz que mundo chegou a limite 'tão ou mais' perigoso que o da Guerra Fria

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São Paulo

Diplomatas aproveitaram a presença do chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, em um encontro do Conselho de Segurança na sede da ONU, em Nova York, nesta segunda-feira (24) para atacar o país pela invasão da Ucrânia —a nação do diplomata assumiu neste mês a presidência rotativa do comitê, o mais poderoso do organismo multilateral.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, preside reunião do Conselho de Segurança da ONU na sede da entidade em Nova York - Michael M. Santiago/Getty Images/via AFP

Entre os que criticaram abertamente as ações do Kremlin estava o secretário-geral da ONU, António Guterres. Sentado ao lado de Lavrov, ele ressaltou que Moscou violou a carta fundadora da ONU ao invadir o território de Kiev. E, em uma menção mais direta, disse que sobretudo os membros permanentes do Conselho de Segurança —caso da Rússia— tinham o dever de "fazer o multilateralismo funcionar, em vez de contribuir para o seu desmantelamento".

"Tensões entre as grandes potências alcançaram um nível histórico. O mesmo se dá com riscos de um conflito, seja por infortúnio ou erro de cálculo", disse o português, que chegou a viajar a Moscou dois meses após o início da Guerra da Ucrânia em busca de uma resolução pacífica para os enfrentamentos, sem sucesso.

Em carta a Vladimir Putin, Guterres ainda propôs uma expansão do acordo que assegura a exportação de grãos ucranianos pelo mar Negro, algo considerado central para aliviar a crise de alimentos. Segundo o vice-porta-voz da ONU, Farhan Haq, o documento considera os posicionamentos manifestados pelas partes nos últimos meses e os riscos representados pela insegurança alimentar global. Cartas semelhantes teriam sido enviadas à Ucrânia e à Turquia, que fez a mediação do pacto.

Segundo Lavrov, Moscou estudará o documento. "Guterres falou sobre os esforços que vem fazendo para levar o mais longe possível a parte russa no acordo", disse Lavrov, segundo a agência estatal Tass. "Mas, francamente, até agora o progresso não é muito perceptível."

Lavrov não se desvencilhou do tom inflamado da retórica do secretário-geral e afirmou que o mundo chegou "a um limite perigoso, tão ou mais" do que aquele da Guerra Fria. Creditou, no entanto, a escalada das tensões à perda de confiança no multilateralismo —leia-se a própria ONU. "Vamos chamar as coisas pelo nome. Ninguém permitiu que uma minoria do Ocidente falasse em nome de toda a humanidade", disse.

Além de Guterres, representantes dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Suíça também usaram seus discursos para condenar a Rússia. A fala mais dura foi a da americana Linda Thomas-Greenfield, que se referiu ao chanceler russo como "nosso hipócrita anfitrião [do encontro]". "Enquanto sentamos aqui, estamos nos preparando para o próximo [massacre de] Butcha, o próximo [cerco a] Mariupol, a próxima Kherson, o próximo crime de guerra, a próxima atrocidade", disse, em referência a alguns dos episódios mais dramáticos do conflito que já completa 14 meses nesta segunda.

A embaixadora dos EUA na ONU acusou Moscou de violar o direito internacional ao deter americanos injustamente, e pediu a libertação de Evan Gerchkovitch, repórter do Wall Street Journal preso pelo governo de Vladimir Putin em março, acusado de espionagem. Os EUA negaram no início da semana vistos a jornalistas russos que deveriam acompanhar Lavrov a Nova York.

Thomas-Greenfield ainda citou Paul Whelan, ex-fuzileiro naval detido em 2018 e preso em 2020, também por suspeita de espionagem —ele afirma que estava na Rússia para um casamento quando foi surpreendido pelas autoridades. A irmã do ex-oficial, Elizabeth Whelan, esteve presente no encontro do Conselho de Segurança nesta segunda como observadora.

Diplomatas russos têm sido excluídos de uma série de eventos internacionais desde a eclosão da Guerra da Ucrânia —que o Kremlin ainda chama oficialmente de "operação militar especial".

A liderança do Conselho de Segurança não depende, no entanto, de conjunturas geopolíticas, e é alternada entre os seus 15 membros (cinco permanentes, dez temporários, eleitos pela Assembleia Geral a cada dois anos) por ordem alfabética.

A Rússia assumiu a presidência do órgão em 1º de abril, levando vários diplomatas a afirmarem que o evento tinha sido uma piada sobre a data, conhecida como Dia da Mentira. A última vez que o país havia presidido o comitê foi em fevereiro de 2022, justamente quando lançou suas tropas em direção à Ucrânia.

Com AFP e Reuters

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