Geração Z movimenta política nos EUA e impõe derrotas a republicanos

Eleitores jovens deram vitória a candidatos progressistas em Wisconsin e Chicago e fizeram barulho no Tennessee

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Jonathan Weisman
The New York Times

Uma onda de ativismo jovem movimentou grandes vitórias progressistas em Wisconsin e Chicago e uma turbulenta revolta legislativa no Tennessee, enquanto os republicanos absorviam golpes políticos, começando com a denúncia em Manhattan de supostos crimes de seu principal candidato presidencial.

O ritmo das notícias parecia abalar a marca do Partido Republicano a cada hora: Donald Trump se tornou o primeiro presidente americano a ser levado a um tribunal para ouvir sua acusação.

O deputado Justin Pearson depois que parlamentares republicanos, que controlam a Câmara do Tennessee, votaram a favor de sua expulsão
O deputado Justin Pearson depois que parlamentares republicanos, que controlam a Câmara do Tennessee, votaram a favor de sua expulsão - Jon Cherry - 6.abr.23/The New York Times

Eleitores de Wisconsin deram aos democratas uma vitória esmagadora e maioria de um assento na Suprema Corte local, com o aborto e a forte manipulação do mapa político de Wisconsin em jogo.

E os ativistas progressistas ajudaram um dos seus a ascender a prefeito de Chicago, derrotando um democrata mais moderado que tinha o apoio dos republicanos dentro e ao redor da terceira maior cidade do país, superando argumentos conservadores sobre crime e policiamento.

Uma conclusão, ou talvez um gol contra, ocorreu no Tennessee, na quinta-feira (6), quando a esmagadora legislatura republicana votou pela expulsão de dois jovens deputados negros por seus papéis na liderança de protestos juvenis pedindo controle de armas, após um ataque a tiros numa escola cristã em Nashville, mas por poucos votos permitiu a permanência de uma legisladora branca que os apoiou.

Ao fazer isso, os republicanos do Tennessee conseguiram pouco mais que catapultar os deputados, Justin Jones e Justin J. Pearson, bem como Gloria Johnson, para o cenário nacional: os dois poderão ser reindicados para seus assentos por autoridades em seus distritos de Nashville e Memphis já na próxima semana, enquanto aguardam eleições especiais nas quais são favoritos.

"Se meu trabalho, junto com outros membros do RNC [Comitê Nacional Republicano], é proteger a marca do Partido Republicano, isso não ajudou", disse Oscar Brock, membro do RNC do Tennessee. "Vocês fortaleceram os eleitores jovens. Pior que desperdiçar apoio, fizeram inimigos onde não precisávamos."

É claro que houve pontos positivos para os republicanos: eles venceram uma eleição especial, dando-lhes uma supermaioria no Senado de Wisconsin, o que implica amplos poderes de impeachment.

E a mudança de uma democrata que se tornou republicana na Carolina do Norte deu aos republicanos uma supermaioria legislativa nas duas Casas no único estado do sul onde o aborto é amplamente legal, concedendo aos republicanos a capacidade de anular vetos do governador democrata Roy Cooper.

O clamor do ativismo e da raiva juvenis, porém, pode ter deixado uma impressão mais duradoura. A direita entende que o tempo não está do lado deles", diz o deputado democrata Maxwell Frost, 26, da Flórida, que em 2022 virou o primeiro membro da Geração Z a ser eleito para a Câmara. "O que vimos em Chicago e Wisconsin e na reação negativa no Tennessee é o crescimento dos jovens, e tudo ocorreu numa semana."

Os preocupados em qualquer partido que buscarem maus presságios poderão encontrar muitos. A acusação de Trump de que ele falsificou registros comerciais para esconder suborno a uma atriz pornô nos últimos dias da eleição de 2016 desencadeou uma bonança de arrecadação de fundos para sua campanha e reuniu muitos republicanos em sua terceira candidatura à Presidência. E uma série de novas pesquisas apontou para a melhora da competitividade de Trump contra Joe Biden em 2024.

Nem mesmo seus rivais pela indicação republicana ousaram questionar as alegações subjacentes da acusação de que Trump se envolveu em aventuras extraconjugais com uma atriz de filmes pornô e uma modelo da revista Playboy. "Não importa o quão espalhafatosas sejam as acusações nem se são verdadeiras ou falsas, fazer de um encontro sexual consensual entre dois adultos o ponto focal de uma acusação criminal ou impeachment atinge a maioria dos americanos como um abuso de poder e uma distração", afirma Ralph Reed, estrategista político veterano e voz dos conservadores cristãos.

Um dos destaques da semana foi o despertar dos jovens, muitas vezes negligenciados porque, apesar de seu ativismo, frequentemente não votam. Jovens foram cruciais para a vitória fácil de Janet Protasiewicz, candidata progressista para uma vaga na Suprema Corte de Wisconsin, e levaram o candidato a prefeito de Chicago Brandon Johnson a uma vitória incômoda sobre o adversário mais moderado, Paul Vallas.

E no Capitólio do Tennessee, em Nashville, os gritos de jovens manifestantes ecoaram pelos corredores antes, durante e depois das votações para derrubar os dois deputados estaduais, Jones, 27, e Pearson, 29.

Protesto na sede do governo do Tennessee contra a expulsão de deputados do Partido Democrata - Jon Cherry - 6.abr.23/The New York Times

O drama em Nashville foi incendiário em vários níveis, um caldeirão político de jovens contra velhos, negros contra brancos, uma minoria marginalizada contra uma maioria esmagadora –tudo se desenrolando no cenário da violência armada nas escolas. Depois havia as questões: armas e aborto.

Abordando a derrota de seu partido em Wisconsin um dia depois na Fox News, Ronna McDaniel, presidente do RNC, admitiu: "Onde você está perdendo por dez pontos há um problema de mensagem. O aborto é um problema, e não podemos permitir que os democratas definam os republicanos sobre isso".

Seus comentários, no entanto, provocaram uma tempestade de protestos de vozes antiaborto em seu partido, que não diminuiu sua pressão por restrições ao procedimento.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, potencial rival de Trump para a indicação presidencial, parece decidido a assinar um projeto de lei em Tallahassee para proibir o aborto após seis semanas. O governador republicano de Idaho, Brad Little, assinou uma legislação na semana passada que proíbe menores de viajar para fora do estado para abortar sem o consentimento dos pais. Ainda assim, McDaniel manteve seus comentários: "Não podemos colocar nossas cabeças na areia em 2024", disse ela.

Brock, membro do comitê do Tennessee, também alertou seu partido sobre sua resposta à violência armada depois que o tiroteio na Escola Covenant em Nashville deixou seis mortos, incluindo três crianças.

Os republicanos, disse, podem defender o direito de portar armas previsto na Segunda Emenda e ainda ouvir respeitosamente as discussões para maior regulamentação da segurança com armas.

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