Governo dos EUA investiga vazamento de documentos sobre Guerra da Ucrânia

Autoridades manifestam preocupação com o compartilhamento de conteúdos sensíveis à medida que detalhes são revelados

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São Paulo

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou a abertura de uma investigação sobre o vazamento nas redes sociais de uma série de documentos sigilosos que detalham segredos de segurança em regiões estratégicas na Ucrânia, no Oriente Médio e na Ásia.

Autoridades vêm manifestando preocupação com o compartilhamento de conteúdos sensíveis à medida que detalhes são revelados. Entre as informações vazadas estão o teor de supostas discussões feitas pelo governo sul-coreano sobre a pressão dos EUA para que Seul forneça armas à Ucrânia, país invadido pela Rússia há 13 meses.

Soldados ucranianos disparam obuseiro contra posições russas nos arredores de Bakhmut, no leste da Ucrânia - Aris Messinis - 8.mar.23/AFP

Segundo o The New York Times, o governo sul-coreano manifestou resistência em fornecer armas diretamente às forças ucranianas, mas concordou em vender projéteis de artilharia para ajudar os Estados Unidos a reabastecerem seus estoques, com a condição de que o usuário final fosse o Exército americano. Internamente, porém, autoridades do país asiático demonstraram preocupação com a possibilidade de desvios dos armamentos a Kiev, segundo os documentos vazados.

A Coreia do Sul assinou acordos para fornecer centenas de tanques, aeronaves e outras armas à Polônia, país membro da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA, desde o início do conflito no Leste Europeu. Mas o presidente sul-coreano, Yoon Suk-yeol, tem enfatizado que uma lei do país proíbe o fornecimento de armas a países diretamente envolvidos em conflitos, o que impede o fornecimento a Kiev.

A situação deixou o governo americano em posição desconfortável. Segundo analistas sul-coreanos, os documentos vazados sugerem que os EUA estão espionando autoridades do país. Questionado se planejava apresentar um protesto ou exigir uma explicação da Casa Branca, o gabinete do presidente Yoon Suk-yeol informou que revisaria precedentes em outros países.

Mais de cem documentos sigilosos podem ter sido vazados, algo potencialmente prejudicial. Um alto funcionário da inteligência dos EUA descreveu a situação como um pesadelo para EUA e países aliados que compartilham informações de inteligência, como Austrália, Nova Zelândia e Canadá.

Investigações preliminares apontam que os documentos não incluem apenas relatórios secretos de inteligência sobre assuntos relacionados à Guerra da Ucrânia, mas também análises sobre as Forças Armadas dos EUA.

O Departamento de Justiça americano informou que iniciou a investigação neste sábado (8), em conjunto com o Departamento de Defesa. À agência de notícias Reuters, três autoridades do governo disseram sob a condição de anonimato que a Rússia ou ativistas pró-Moscou provavelmente estão por trás dos vazamentos, segundo as apurações iniciais.

Analistas militares afirmam que os documentos parecem ter sido modificados, exagerando estimativas de ucranianos mortos na guerra e subestimando as estimativas de mortes entre os soldados russos.

Um dos documentos compartilhados aponta que as forças russas sofreram de 16 mil a 17,5 mil baixas desde a invasão em 24 de fevereiro do ano passado. Publicamente, porém, o governo dos EUA tem divulgado estimativas muito maiores, que chegam a 200 mil russos mortos e feridos no conflito.

Especialistas ouvidos pelo jornal The New York Times afirmam que as modificações podem indicar um esforço de desinformação de Moscou. Mas as revelações nos documentos originais, que aparecem como fotos de tabelas de entregas antecipadas de armas, forças de tropas e batalhões e outros planos, representam uma importante falha da inteligência dos EUA no esforço para ajudar a Ucrânia.

Também foram vazados avisos sobre a programação de ataques de Moscou e seus alvos, o que tem sido crucial para a defesa ucraniana. Analistas do Departamento de Defesa dos EUA lamentam que o material pode ser valioso para Moscou ao indicar até que ponto a inteligência de Washington conseguiu penetrar o sistema de inteligência russo.

Um atenuante é que os documentos têm cinco semanas, o que, na prática, oferece um retrato da visão americana em 1º de março e, portanto, limitado. Para o olho treinado de um analista de inteligência ou militar de alto escalão de um país adversário, porém, os arquivos podem oferecer pistas tentadoras.

Mikhailo Podoliak, assessor presidencial da Ucrânia, buscou minimizar o vazamento. Segundo ele, os materiais contêm grande quantidade de informações fictícias e parecem uma operação de desinformação para semear dúvidas sobre a planejada contra-ofensiva ucraniana. "Estes são apenas elementos padrão de jogos operacionais da inteligência russa. E nada mais", disse.

O Pentágono também comunicou que examina o assunto. O ex-funcionário Mick Mulroy alerta que o vazamento representa uma violação significativa de segurança. "Como muitos dos arquivos eram fotos de documentos, parece que foi um vazamento deliberado feito por alguém que desejava prejudicar esforços da Ucrânia, dos EUA e da Otan", afirmou.

Não ficou claro como os documentos foram parar nas redes sociais, mas os EUA detectaram o compartilhamento de parte dos materiais em canais pró-Rússia no Twitter, Telegram e Discord.

Com AFP e Reuters

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