A Otan, aliança militar liderada pelos EUA, afirmou nesta quinta (27) que já entregou 230 tanques para a contraofensiva prometida pela Ucrânia contra a invasão russa, considerada iminente por analistas.
"Mais de 98% dos veículos de combate prometidos para a Ucrânia já foram entregues. Isso significa mais de 1.550 blindados, 230 tanques e outros equipamentos, incluindo uma vasta quantidade de munição", afirmou o secretário-geral do clube militar, o norueguês Jens Stoltenberg.
Ele não foi preciso acerca do período dessa entrega e qual o tipo de equipamento. Em 2022, a Polônia havia enviado cerca de 230 tanques soviéticos T-72 para Kiev, mas foi apenas em janeiro deste ano que a Otan concordou em fornecer modelos ocidentais, em especial versões antigas do alemão Leopard-2.
Se todos os 230 citados hoje forem novos, a cifra quase bate a meta das Forças Armadas da Ucrânia, de ter 300 tanques novos para tentar reconquistar os quase 20% de território perdidos para os russos desde 24 de fevereiro de 2022. Em relação aos blindados, o número bastante elevado sugere que Stoltenberg falava de entregas desde o ano passado, embora só agora veículos mais modernos, como o americano Bradley e o alemão Marder, tenham entrado na lista de doações ao governo de Volodimir Zelenski.
São números significativos. Antes da guerra, a Ucrânia tinha 987 tanques, todos os quais modelos soviéticos. Segundo o site Oryx, de monitoramento de perdas militares a partir de dados abertos, até esta quinta Kiev havia perdido 490 deles —destruídos, danificados, abandonados ou capturados.
Stoltenberg afirmou que foram treinadas nove brigadas blindadas para o emprego dos novos equipamentos ocidentais, o que pode envolver de 25 mil a 45 mil soldados, a depender da disponibilidade de pessoal. Polônia e Eslováquia doaram alguns caças soviéticos MiG-29, rompendo o tabu de que tal entrega levaria os russos a considerá-los parte da guerra.
A contraofensiva ucraniana é esperada para ocorrer agora que as condições do solo já são mais estáveis, após o inverno do Hemisfério Norte. Ao longo da estação, a ofensiva coube só aos russos, que concentraram suas ações no "moedor de carne" de Bakhmut, em Donetsk, uma das regiões russófonas do leste do país anexadas ilegalmente no ano passado.
Moscou avançou, mas não conseguiu tomar a estratégica cidade. Os ataques, contudo, continuam. Observadores sugerem que a contraofensiva ucraniana possa ocorrer em Kherson, ao sul, numa tentativa de cortar a ligação por terra estabelecida entre a Rússia e a Crimeia, anexada em 2014.
Mas há dúvidas sobre a capacidade de Kiev, dado o entrincheiramento das defesas russas. Tanques são essenciais nesse sentido: uma vez rompida a frente, é necessária a ocupação do território com tropas e blindados com alto poder de fogo.
Enquanto isso, em Moscou, a carta nuclear voltou a ser sacada pelo governo de Vladimir Putin, ainda que de forma velada. Durante uma entrevista, a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, afirmou que a Rússia não quer uma escalada nuclear com o Ocidente, mas que sua paciência não deve ser testada.
"Vamos fazer de tudo para evitar o desenvolvimento dos eventos de acordo com o pior cenário, mas não ao custo de infringir nossos interesses vitais. Não recomendo a ninguém que duvide ou coloque em teste na prática a nossa determinação", afirmou. Desde que a guerra foi iniciada, Putin e autoridades de seu governo fizeram ameaças semelhantes, com mais ou menos agressividade. Nesta semana, o ex-presidente Dmitri Medvedev afirmou que é alto o risco de uma Terceira Guerra Mundial.
A visão do Kremlin é a de que o conflito foi necessário porque a Otan buscava absorver a Ucrânia, chegando à maior fronteira ocidental da Rússia e a um país que a elite russa considera praticamente seu. Na prática, contudo, o que Putin conseguiu até aqui foi a expansão da fronteira com a aliança, com a entrada da antes neutra Finlândia —a Suécia espera a boa vontade de turcos e húngaros para fazer o mesmo movimento.
Ao mesmo tempo, foi dada uma sinalização importante do ponto de vista diplomático. O Kremlin elogiou o telefonema entre o líder chinês, Xi Jinping, e Zelenski, na quarta (26). Xi é o maior aliado de Putin, e sua entrada em jogo, com o envio de uma delegação para Kiev, sugere que pode haver um avanço —ainda que o Ocidente considere a China parcial, buscando uma solução que seja favorável à Rússia.
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