Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

EUA e Alemanha vão enviar tanques de guerra para a Ucrânia

Maior escalada na ajuda militar ocidental a Kiev abre porta para outros países fazerem o mesmo

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São Paulo

Os Estados Unidos e a Alemanha anunciaram nesta quarta (25) que irão enviar tanques de guerra para ajudar o esforço da Ucrânia contra a invasão russa, iniciada por Vladimir Putin há 11 meses. É a maior escalada na ajuda militar ocidental para Kiev, após semanas de discussão acerca do tema: serão 31 tanques americanos M1 Abrams e 14 Leopard-2 alemães.

O anúncio de Washington se seguiu ao de Berlim, que permitirá que outros países que operam o Leopard-2 também enviem alguns dos blindados para os ucranianos. É o caso da Polônia, que pediu autorização para enviar 14 de seus 244 tanques. Noruega, Finlândia e Espanha também se dizem interessadas.

Um tanque M1A2 Abrams é preparado para ser entregue em uma base da Otan na Romênia
Um tanque M1A2 Abrams é preparado para ser entregue em uma base da Otan na Romênia - Octav Ganea - 14.fev.2017/Inquam Photos/Reuters

No caso dos EUA, houve uma mudança de rumo. Até aqui, Washington argumentava que seria contraproducente envolver os Abrams na guerra porque são tanques de treinamento complexo e que consomem muito combustível, devido ao fato de seu motor ser turbo, o que dificultaria a vida dos ucranianos.

Não foi anunciado qual modelo do Abrams será enviado, se o mais antigo M1A1 ou o modernizado M1A2. Os EUA têm 650 M1A1 e 1.995 M1A2 em operação, além de um estoque de 3.450 tanques —de onde virão os 31 anunciados, dando medida de que o envio é simbólico.

Ele implica a mudança geral da postura dos aliados de Kiev, que testaram mais uma chamada linha vermelha de Moscou na guerra. Também vão enviar tanques os britânicos, que prometeram 14 Challenger-2 na semana passada, somando até aqui 58 novos blindados.

No caso de Berlim, os alemães parecem romper o imobilismo e a relutância que marcam sua relação com a Guerra da Ucrânia, após semanas de pressão de seus aliados. A primeira reação russa foi previsível. "É uma decisão extremamente perigosa, que leva o conflito a um novo nível de confrontação", disse em nota o embaixador de Moscou na capital alemã, Serguei Netchaiev.

Já o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, publicou em redes sociais um agradecimento a Scholz. Mais tarde, ao comentar o envio americano, resgatou a terminologia da Guerra Fria entre EUA e União Soviética: "Hoje o mundo livre está mais unido do que nunca por um objetivo comum". E pediu mais: quer caças e mísseis de longo alcance, algo até aqui negado pelo Ocidente.

De todo modo, é um ponto de inflexão política na guerra, embora ainda seja cedo para estimar o impacto militar das medidas, que essencialmente depende da quantidade ofertada e em quanto tempo estarão disponíveis. Estudo do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, diz que alguma diferença pode ocorrer, dada a superioridade técnica dos modelos ocidentais sobre os russos, a partir de cem blindados.

O governo em Kiev queria 300, visando conter os avanços recentes de Vladimir Putin no leste e no sul do país, após meses de más notícias para Moscou. Os 58 tanques até aqui anunciados não farão sozinhos diferença significativa —Berlim vai dar versões A6, a segunda mais moderna do Leopard-2.

A Rússia tinha cerca de 3.000 tanques ativos antes da guerra, perdeu mais da metade disso (sem contar reposições) e tem mais de 10 mil modelos antigos em estoque. Em 2022, o grosso de sua frota na Ucrânia era de modelos modernizados T-72, mas recentemente os mais avançados T-90 têm sido vistos. Seu mais novo tanque, o T-14, não apareceu em combate ainda por problemas operacionais.

A Ucrânia já tinha recebido da Polônia no ano passado 230 T-72, modelos soviéticos que já operava. Quase metade dos cerca de mil blindados pesados que tinha antes da guerra já foi perdida.

O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse nesta quarta esperar que os Leopard-2A6 estejam em ação em três meses —se fossem blindados antigos em estoque, só estariam prontos na virada do ano. Estima-se que o treinamento de uma equipe completa para operá-los dure de 3 a 6 semanas.

O mesmo tempo deve demorar para a capacitação de times para operar os 14 Challenger-2 que o Reino Unido já havia prometido doar, com o complicador de ser um modelo diferente.

Já o presidente americano, Joe Biden, evitou estimativas, extraoficialmente de meses. "Entregar esses tanques a campo vai tomar tempo, que usaremos para assegurar que os ucranianos estejam prontos para integrá-los às suas defesas", afirmou. Os Abrams são armamentos ainda mais complexos, caros e difíceis de sustentar no campo de batalha por consumir muito combustível.

Por isso os olhos de todos estavam sobre Berlim, dada a abundância de Leopard-2, permitindo a vários países contribuir sem causar uma barafunda técnica para Kiev. O treinamento de ucranianos é vital para manter o discurso de que não há envolvimento direto de aliados, o que levaria a um cenário perigoso.

O premiê polonês, Mateusz Morawiecki, comemorou a decisão em post no Twitter. Finlândia e, agora, Noruega e Espanha também indicaram o desejo de enviar alguns Leopard-2. O blindado surgiu em 1979 como uma evolução do Leopard-1, ainda usado em locais como o Brasil, que tem 261 deles, e tem quatro gerações.

Outros países, como Reino Unido, também aplaudiram a decisão. O chanceler lituano, Gabrielius Landsbergis, publicou no Twitter uma imagem de um tanque entre as cores ucranianas e o trocadilho "tanke schön" ("danke schön" é obrigado em alemão).

Inicialmente, o governo de Scholz hesitava em enviar armas mais pesadas por temer um impacto direto na sua economia, já que dependia fortemente do gás russo para fazê-la rodar. Ao longo de 2022, a alto custo e subsídios, cortou quase todos os laços com o Kremlin no setor, algo que era considerado improvável.

Aparentemente, o temor de um embate que evolua para uma Terceira Guerra Mundial, que pautou o comportamento ocidental e as ameaças nucleares de Moscou ao longo da guerra, não é mais prevalente na Otan.

Prova disso já estava no pacote de armas aprovado na sexta passada (20) em reunião do clube de 30 nações mais 20 aliados em uma base americana na Alemanha. Mesmo ainda sem os tanques, a variedade de blindados, artilharia e defesa antiaérea apresentada sugere um envolvimento mais direto na guerra.

Algumas linhas, contudo, seguem: Scholz disse que, assim como os EUA estabeleceram quando vetaram o envio de caças MiG-29 poloneses para Kiev, a Alemanha não irá aprovar o fornecimento de aviões de combate —como expresso no pedido renovado do presidente ucraniano.

Além da questão militar, há a política. Zelenski está buscando asseverar autoridade, tendo promovido um expurgo de membros do governo após um escândalo de corrupção. Mas isso também mostra que há divisões sob seu governo, o que nunca é boa notícia durante uma guerra.

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