Perfil de playboy de Trump volta a assombrá-lo após caso de atriz pornô

Acusação criminal em Nova York é capítulo mais recente de vida do republicano feita para os tabloides

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Dan Barry
The New York Times

As minúcias da acusação contra o ex-presidente Donald Trump ainda não foram reveladas, mas os detalhes mais visíveis são perfeitos para manchetes: Sexo. Estrela pornô. Sexo. Suborno. Sexo.

Trump afirma sua inocência de uma forma familiar, enquadrando-se como a vítima honesta de "bandidos e monstros da esquerda radical". Mas a natureza obscena da acusação ressuscita o Trump que existia bem antes de se tornar o 45º presidente —antes de seu onipresente slogan Make America Great Again (faça a América grandiosa novamente), antes de suas reivindicações de ser maior que George Washington ou Abraham Lincoln, antes dos dois impeachments e do motim no Capitólio.

Esse seria o Trump que gostava de se apresentar como um jogador, extremamente confiante de que sua riqueza e aparência o tornavam uma atração certeira para as mulheres. Um homem que podia falar sobre sexo a três com um apresentador de rádio, passear corajosamente por um vestiário cheio de candidatas a miss, classificar as mulheres numa escala de 1 a 10 com base em sua aparência física.

Homem loiro de terno sentado em banco traseiro de carro
Donald Trump posa para foto dentro de sua limusine - Jeffery A. Salter - 9.dez.99/The New York Times

É uma parte da persona Trump que volta a assombrá-lo, mais recentemente na quinta (30), quando um júri de Manhattan o marcou como o primeiro ex-presidente dos EUA formalmente acusado de um crime.

O pouco que se sabe sobre o caso é escandaloso o suficiente. Ele gira em torno de US$ 130 mil que o advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, pagou à estrela pornô Stormy Daniels para que se calasse sobre um suposto encontro sexual com o republicano em 2006, bem antes de sua Presidência e enquanto a terceira mulher dele ficava em casa com seu filho pequeno.

Trump, que recentemente iniciou sua campanha para a eleição presidencial de 2024, dificilmente é o primeiro presidente a ser vinculado à impropriedade sexual. Bill Clinton teve relações sexuais com uma estagiária com quem ele infamemente disse não ter tido relações sexuais —no Salão Oval da Casa Branca.

Os muitos casos de John F. Kennedy incluíram um com uma mulher que também era íntima de um chefe da máfia de Chicago. Warren G. Harding teve um filho com uma amante que alegou que eles fizeram sexo em uma chapelaria da Casa Branca. E outros. Mas a longa história pública de envolvimentos, bravatas e comentários grosseiros de Trump o distingue no panteão presidencial.

Na década de 1970, Trump frequentava os clubes de Manhattan e informava as colunas de fofocas sobre seus flertes, mantendo a aparência de ser só um garoto rico do Queens que trabalhava para a empresa do pai. Ele se casou com a modelo tcheca Ivana Zelnickova em 1977 e se concentrou em deixar sua marca no setor imobiliário. Mas o relacionamento deles naufragou em 1989, quando ela descobriu o que os outros já sabiam: Trump estava tendo um caso com uma modelo e atriz chamada Marla Maples.

A disputa olho por olho que se seguiu foi o presente do tabloide que continuou dando, com o destaque sendo uma primeira página do New York Post em 1990 que apresentou Trump sorridente e a manchete: "Marla se gaba para amigas sobre Donald, 'o melhor sexo que já fiz'". Lou Colasuonno, editor do Post que fez a primeira página, lembra-se de ter pensado: "Ele nunca vai nos processar por essa manchete".

As circunstâncias por trás da manchete fazem parte da tradição conflitante dos jornais. Mas Maples, cujo casamento com Trump terminou em 1999, posteriormente negou ter dito essas palavras, e Barbara Res, uma ex-executiva das Organizações Trump, disse mais tarde que, embora se preocupasse com o impacto disso sobre os filhos de Trump, o pai "achou que era o máximo".

A percepção da proeza sexual parecia central para a persona que Trump cultivava. Linda Stasi, romancista e ex-colunista do Post e do Daily News, lembrou em um e-mail que Trump uma vez deixou uma mensagem em seu correio de voz, fingindo ser outra pessoa —como costumava fazer—, dizendo com uma voz falsa que Trump estava almoçando em tal restaurante, rodeado de lindas modelos.

"Você deveria escrever sobre isso", lembrou ela sobre a fala do informante. "Seu sotaque falso era tão real quanto seu bronzeado alaranjado", escreveu Stasi, que acrescentou que na primeira vez que encontrou Trump ele disse: "Ora, você é bonitinha, hein?". A tendência documentada de Trump para o comportamento misógino não era segredo para o eleitorado quando ele concorreu à Presidência em 2016.

Um mês antes da eleição de novembro, o jornal The Washington Post publicou um vídeo de 2005 de Trump, então com 59 anos, falando sobre mulheres com a personalidade da televisão Billy Bush enquanto se preparavam para um episódio do programa "Access Hollywood". A transcrição da conversa deles parece um roteiro sem graça de uma sequência recusada de "Clube dos Cafajestes".

Alguns dos comentários gravados de Trump, salpicados de referências grosseiras à anatomia feminina, são mais famosos do que a maioria de seus discursos como presidente. "Apenas beije", aconselhou ele. "Eu nem espero. E quando você é uma estrela, elas deixam você fazer. Você pode fazer qualquer coisa."

Depois de inicialmente minimizar seus comentários como "brincadeiras de vestiário", Trump se desculpou com sua família e com a população americana. Em poucas semanas, conquistou a Presidência; em poucos meses, começou a questionar em particular a autenticidade da fita.

Mas o passado de Trump continuou vindo à superfície. No início de 2018, o Wall Street Journal divulgou a história sobre os US$ 130 mil que o advogado pessoal de Trump, Cohen, pagou a Daniels para comprar seu silêncio sobre seu suposto caso de uma noite após um evento beneficente, 12 anos antes.

Cohen foi mais tarde condenado por fraude fiscal e violações de financiamento de campanha, após admitir que havia pago suborno e ajudado a providenciar um pagamento semelhante para outra mulher, uma modelo da Playboy chamada Karen McDougal. Ele o fez, segundo disse, sob ordens de Trump, que nega. Trump também negou ter feito sexo com Daniels e passou a chamá-la de "cara de cavalo".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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