Descrição de chapéu União Europeia

Portugal deveria se desculpar por seu papel na escravidão, diz presidente do país

Sem dar detalhes, Rebelo disse nesta terça que o país deveria ir além de apenas um pedido de desculpas

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Lisboa | Reuters

Portugal deveria se desculpar e assumir sua responsabilidade pelo comércio transatlântico de escravizados, afirmou nesta terça-feira (25) o presidente do país, Marcelo Rebelo de Sousa —o primeiro líder de uma nação do sul da Europa a sugerir tal atitude.

Do século 15 ao 19, seis milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força em navios portugueses e vendidos como escravos, principalmente para o Brasil, em um negócio extremamente lucrativo para a nação europeia.

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, a caminho de uma entrevista coletiva no Palácio de Belém, em Lisboa - Patricia de Melo Moreira - 28.jul.22/AFP

Até agora, porém, Portugal raramente comentou sobre o assunto, e pouco se ensina nas escolas lusitanas sobre o papel do país na escravidão —ao contrário, a era colonial, que sujeitou territórios de Angola, Moçambique, Brasil, Cabo Verde, Timor-Leste e Índia ao domínio português, é frequentemente recordada com orgulho pela maioria da população.

Sem dar detalhes, Rebelo disse que o país deveria ir além de apenas um pedido de desculpas. O presidente abordou o assunto na comemoração anual da Revolução dos Cravos de 1974, que derrubou a ditadura do país.

"Pedir desculpas às vezes é a coisa mais fácil de fazer. Você pede desculpas, vira as costas e o trabalho está feito", disse ele. O país, continuou, deveria "assumir a responsabilidade" por seu passado para construir um futuro melhor. As considerações foram feitas após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Paula Cardoso, fundadora da plataforma para profissionais negros em Portugal Afrolink, disse que as observações de Rebelo de Sousa foram importantes, pois trouxeram a questão à tona. Mas ela diz que gostaria de ouvir algo mais concreto. "Para ter algum impacto, essas reflexões devem ser acompanhadas de medidas e compromissos", afirmou a ativista à Reuters. Reparações e políticas públicas para combater as desigualdades causadas pelo passado de Portugal são essenciais, segundo ela.

Em uma ponderação contraditória que romantiza o modelo escravocrata, o presidente português disse que a colonização do Brasil também teve fatores positivos, como a difusão da língua e da cultura portuguesa. "Mas, do lado ruim, a exploração dos povos indígenas, a escravidão, o sacrifício dos interesses do Brasil e dos brasileiros", disse.

O ministro dos Direitos Humanos brasileiro, Silvio Almeida, disse que Rebelo deu um passo "extremamente positivo". "Nós continuamos sofrendo no Brasil os reflexos de uma herança da escravidão", disse Almeida em nota. "Reconhecer a exploração dos milhões de escravizados durante mais de 300 anos é um passo para caminharmos em direção a uma sociedade menos desigual."

O principal grupo de direitos humanos da Europa havia afirmado anteriormente que Portugal precisa fazer mais para enfrentar seu passado colonial e seu papel no comércio transatlântico de escravizados para ajudar a combater o racismo e a discriminação atuais. A última edição do European Social Survey, divulgada em 2020, revela que 62% dos portugueses manifestam alguma forma de racismo.

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