Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Vídeo de suposta decapitação de soldado da Ucrânia choca até o Kremlin

Filmagem sem autenticidade confirmada inspira novo capítulo de guerra de versões no conflito

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São Paulo

Dois vídeos que supostamente mostram soldados da Ucrânia degolados e que viralizaram em perfis pró-Rússia nas redes sociais têm sido alvo de condenações pelo mundo —por parte de líderes ucranianos, claro, e até mesmo de autoridades do Kremlin, que chamou um dos registros de "terrível".

Nenhum dos vídeos teve sua autenticidade confirmada. O mais chocante deles, que mostra um homem tendo sua cabeça cortada por outro, não aparenta ser recente, uma vez que tem ao fundo plantas de um verde intenso —ou seja, provavelmente não foi filmado nos últimos meses, de inverno no Hemisfério Norte.

Já o outro exibe o chão coberto de folhagens, o que poderia indicar que foi gravado recentemente.

Tanque ucraniano passa diante de prédio destruído a caminho do front em Bakhmut e Tchasiv Iar - Kai Pfaffenbach - 11.abr.23/Reuters

O site The Insider, especializado em jornalismo investigativo, destrinchou o conteúdo da primeira gravação. O veículo afirma que ela exibe um soldado uniformizado com uma braçadeira amarela, possivelmente um prisioneiro de guerra ucraniano, deitado no chão.

Outro homem, este usando uma braçadeira branca na perna —símbolo associado a combatentes russos—, então decapita o suposto detido com uma faca, cujos gritos podem ser ouvidos. Outros homens cercam a dupla e incentivam o homem com a arma. "Vamos ao trabalho, parceiros! Corta isso! Quebra a espinha dele! Você nunca degolou uma pessoa antes? Tem que ir até o final", afirmam, em russo. Eles também exibem para a câmera um colete à prova de balas com uma insígnia ucraniana que pertenceria à vítima.

Quando o homem é degolado, a pessoa que realiza a filmagem diz, também em russo: "Agora põe isso numa bolsa e envia para o comandante". O Insider afirma que o vídeo foi postado no canal do Telegram de Vladislav Pozdniakov, fundador do grupo nacionalista Male State, conhecido por ameaçar virtualmente mulheres, negros e membros da comunidade LGBTQIA+, e reproduzido por perfis pró-Rússia no aplicativo.

Já o outro vídeo, de acordo com a CNN, teria sido feito por membros do Grupo Wagner, uma organização mercenária. Nele, corpos do que parecem ser dois soldados ucranianos sem cabeças mãos estão estirados ao lado de um tanque destruído. Uma voz por trás da câmera, aparentemente distorcida para impedir sua identificação, então diz que o veículo tinha sido arrasado por uma mina e ri dos mortos.

Ainda segundo a emissora americana de notícias, alguns russos afirmam nas redes sociais que o vídeo pode ter sido filmado perto de Bakhmut, no leste da Ucrânia, um dos principais fronts da guerra nos últimos meses e onde combatentes do Grupo Wagner estão profundamente envolvidos.

Ambos os governos russo e ucraniano comentaram apenas o primeiro vídeo. Apesar de ter admitido o horror da gravação, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, insistiu que é necessário verificar sua autenticidade em seu encontro regular com a imprensa, nesta quarta-feira.

"É claro que são imagens terríveis. Isso deve ser a razão para checar se são verdadeiras ou não, se isso de fato aconteceu e, em caso afirmativo, onde e por parte de quem", disse ele.

A Rússia nega que suas tropas tenham cometido atrocidades durante a guerra, e alguns perfis pró-Moscou nas redes já sugeriram, sem apresentar evidências, que as forças ucranianas seriam na verdade as responsáveis pelas decapitações, em uma busca por impedir a identificação posterior dos corpos.

A alegação é semelhante à feita pelo fundador do Grupo Wagner, Ievguêni Prigojin, que em janeiro disse que suas tropas haviam encontrado corpos com cabeças e mãos cortadas perto de Bakhmut.

Já o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, comparou o autor da decapitação no vídeo a um animal em mensagem em vídeo. "Há algo que ninguém no mundo pode negar: o quão facilmente essas feras matam."

O chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, optou por outra analogia. Afirmou que os russos eram piores que o Estado Islâmico, organização terrorista conhecida por divulgar vídeos degolando prisioneiros no Iraque e na Síria entre 2014 e 2017, países então parcialmente sob seu controle.

Kuleba também pediu que o Tribunal Penal Internacional —que recentemente emitiu um mandado de prisão para o presidente russo, Vladimir Putin— investigue o caso imediatamente e criticou a suposta contradição entre Moscou assumir a presidência do Conselho de Segurança da ONU no mesmo momento em que emergem registros de supostas atrocidades cometidas por suas tropas. "Terroristas russos precisam ser expulsos da Ucrânia e da ONU e ser responsabilizados por seus crimes", escreveu no Twitter.

Uma missão do Conselho de Direitos Humanos da ONU que monitora a situação no país invadido afirmou estar em choque diante dos vídeos, descritos como "particularmente macabros". "Infelizmente, este não foi um incidente isolado. Os últimos acontecimentos também precisam ser devidamente investigados, e os agressores, responsabilizados", declarou o órgão em comunicado.

Ao mesmo tempo em que a disputa retórica segue em frente, Moscou tenta avançar em matérias práticas. Nesta terça-feira, o Ministério de Defesa russo anunciou que realizou testes bem-sucedidos com um míssil balístico intercontinental (ICBM) descrito como "avançado" no Cazaquistão.

Com Reuters

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