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A visita de Lula à China não ocupou as manchetes apenas dos jornais brasileiros. Também por lá, a passagem do presidente brasileiro mobilizou a imprensa e atraiu internautas chineses. Apenas uma das várias trending topics da visita no Weibo, espécie de Twitter local, registrou 74,7 milhões de visualizações.
A Folha produziu várias reportagens sobre a viagem, mas destaco aqui os tópicos que mais chamaram a atenção dos chineses no ambiente virtual e como a imprensa de lá reportou a visita.
- Curiosamente, um dos temas a viralizar com mais força foi uma declaração de Lula em entrevista a Wang Guan, famoso jornalista local. O presidente disse que "às vezes acompanha os jogos de futebol na China que passam na TV brasileira". O campeonato, porém, não é transmitido por nenhum canal ou plataforma de streaming no Brasil desde 2020, e a fala virou piada, com muitos duvidando de sua veracidade ou zombando da qualidade dos jogadores chineses. Um internauta brincou: "Eu sei que você se preocupa com a China, mas realmente não há necessidade de se torturar assim";
- Janja também foi destaque em vários posts e reportagens de veículos menores. Diversas postagens comparavam a diferença de idade entre a primeira-dama —chamada em chinês de Yaniya (雅尼亚)— e Lula, mencionando falas apaixonadas dele em relação à esposa durante a campanha eleitoral em 2022. Uma sequência de fotos do presidente, sempre de mãos dadas com Janja durante os compromissos oficiais, também virou meme: uma postagem popular dizia, por exemplo, que Lula não desgrudava dela por medo de a primeira-dama escapar;
- Na imprensa, o tom assertivo do líder brasileiro ganhou destaque nos principais jornais do país. Na CCTV, as críticas de Lula em relação aos Estados Unidos e ao envolvimento dos americanos na Guerra da Ucrânia receberam aprovações entusiasmadas de comentaristas e âncoras. O uso do yuan nas transações comerciais entre os dois países e a integração entre os membros do Brics foram outros tópicos populares em veículos como China Daily e Xinhua.
Por que importa: Lula recebeu praticamente o mesmo destaque na imprensa e nas redes sociais que o presidente francês, Emmanuel Macron (que dias antes da chegada do brasileiro também concluiu uma visita de Estado de três dias à China). O líder brasileiro é conhecido no país, e as declarações de apoio a Pequim agradaram os comentaristas virtuais e a imprensa, a despeito do desconforto causado no Ocidente.
O que também importa
★ A China perdeu para a Índia o posto de país mais populoso do mundo, afirmou nesta semana o Fundo de População das Nações Unidas. Segundo o órgão, a Índia chegou a 1,4286 bilhão de habitantes, superando por pouco os vizinhos chineses, que agora são 1,4257 bilhão (os números não incluem Hong Kong, Macau e Taiwan). A mídia estatal da China reagiu e acusou o Ocidente de "exagerar" reações e desconsiderar uma "compreensão básica do desenvolvimento populacional (...) no qual a diminuição da taxa de natalidade é um problema comum", como reportou a CCTV. O dado, porém, é sintoma de uma questão maior: a rápida transição demográfica e envelhecimento da população chinesa, tendências que preocupam o governo e podem colocar em risco o crescimento do país no longo prazo.
★ Pelo menos 29 pessoas morreram em um incêndio em Pequim na quarta (19). Segundo nota enviada à imprensa pela equipes de emergência, o fogo atingiu a ala leste do departamento de internação do Hospital Changfeng. Mais de 71 pessoas foram resgatadas ---o estado de saúde delas ainda não foi confirmado. Embora as causas do incêndio ainda sejam desconhecidas, o Departamento de Segurança Pública de Pequim prendeu 12 pessoas ligadas à direção do hospital e a uma empresa que trabalhava na reforma do centro médico. A mídia local especula possível negligência.
★ A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, adotou um tom conciliatório e defendeu a busca de um relacionamento econômico "construtivo e justo" com a China. A fala aconteceu durante um evento na Universidade Johns Hopkins. Yellen defendeu que "o mundo é grande o suficiente para os dois países" e criticou quem defende uma relação de disputa entre Washington e Pequim.
★ O Departamento de Emergência de Pudong, distrito de Xangai, recomendou que o governo local multe a Tesla após considerar a empresa responsável pela morte de um funcionário no início de fevereiro. Segundo o relatório publicado por inspetores chineses, a fatalidade foi resultado de falhas sistêmicas em medidas de segurança na fábrica da montadora liderada pelo bilionário Elon Musk. Ele reagiu à notícia e disse que tinha sido "alertado" sobre o tema e "averiguaria" o que pode fazer.
Fique de olho
O FBI anunciou a prisão de duas pessoas suspeitas de coordenar uma delegacia clandestina chinesa no coração de Nova York. Segundo o órgão, a organização estava localizada em Chinatown e era vinculada ao Ministério de Segurança Pública chinês. Ainda segundo a polícia, os suspeitos tentaram destruir provas ao perceber que estavam sendo monitorados.
Por que importa: A denúncia de que a China mantém delegacias ilegais mundo afora para assediar e abduzir dissidentes não é nova. No ano passado, reportei sobre o assunto aqui na Folha, mostrando que uma ONG espanhola identificou delegacias do tipo também no Rio de Janeiro e em São Paulo. À época, o Ministério da Justiça, o Itamaraty e a Polícia Federal repassaram a responsabilidade de um órgão para outro. As investigações no Brasil não andaram.
Para ir a fundo
- A Universidade Tsinghua apresenta no dia 26 uma palestra explicando o modelo de desenvolvimento chinês. Realizado em parceria com a UFRJ e a Universidade do Chile, o evento contará com a participação do professor Liu Lingling, um dos acadêmicos mais respeitados da China. Inscrições aqui. (gratuito, em chinês com tradução simultânea para português e espanhol)
- O Instituto Confúcio da Unesp convidou a professora Verena Veludo, uma das referências no Brasil para ensino de mandarim, para um webinar bem completo sobre os caracteres chineses. A aula gravada está disponível no canal do órgão no YouTube. (gratuito, em português)
- A Observa China publicou um interessante artigo sobre oportunidades e os principais gargalos na cooperação do Mercosul com a China. O texto é assinado por Carlos Renato Ungaretti, pesquisador do Ipea, e Gustavo Cardozo, especialista em estudos asiáticos. (gratuito, em português)
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