Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Mercenário aliado de Putin critica Rússia e ameaça deixar combates por falta de munição

Ievguêni Prigojin, líder do Grupo Wagner, mostra cadáveres de combatentes em vídeo e critica Defesa de Moscou

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São Paulo

Cercado de cadáveres estendidos em um gramado, o fundador do grupo mercenário russo Wagner, Ievguêni Prigojin, usa uma lanterna para iluminar os corpos ensanguentados e ainda com farda na escuridão. "Estes são os rapazes que morreram hoje. O sangue ainda está fresco", afirma, irritado.

Após se abster por semanas de críticas à Defesa da Rússia, Prigojin voltou a atacar com um vídeo repleto de palavrões às autoridades de seu país. "Choigu! Gerasimov! Onde está a merda da munição?", grita, referindo-se ao ministro da Defesa, Serguei Choigu, e ao chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov. "Eles vieram aqui como voluntários e estão morrendo enquanto vocês engordam em seus gabinetes."

Os responsáveis pelas mortes, disse Prigojin, vão para o inferno —de acordo com o russo, as perdas do Grupo Wagner seriam cinco vezes menores se a empresa fosse abastecida adequadamente.

Ievguêni Prigojin critica alto escalão russo em meio a corpos que seriam combatentes mortos da Wagner, em local não revelado - @concordgroup_official no Telegram/via AFP

As brigas entre o grupo mercenário e os chefes da Defesa começaram no ano passado, quando Prigojin começou a acusá-los de incompetência e de privação de munição devido a rusgas pessoais. O Grupo Wagner lidera há meses o ataque contra a cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia.

Nesta sexta (5), porém, ele disse que suas forças deixarão a cidade na próxima quarta (10). Em carta endereçada também ao presidente russo, Vladimir Putin, diz que está fazendo um apelo público porque seus pedidos não foram atendidos desde que começou a relatar problemas, em março de 2022. "Estou retirando as unidades Wagner de Bakhmut porque, na ausência de munição, elas estão condenadas."

A escassez de projéteis, afirma na carta, é de 90%, e os recursos ofensivos acabaram no início de abril. O Grupo Wagner manteve o combate, argumenta Prigojin, mesmo enfrentando forças inimigas com cinco vezes mais aparatos. "Dos 45 km² de Bakhmut, restam 2,5 km². Ao não fornecer projéteis, vocês não estão nos privando da vitória, vocês estão privando o povo russo da vitória", afirma. "Quem tiver críticas, venha a Bakhmut e levante-se com armas nas mãos no lugar de nossos camaradas mortos."

Os últimos movimentos de diferentes atores da guerra corroboram a hipótese de falta de munição do lado russo —problema que também afeta a Ucrânia em uma proporção diferente, segundo especialistas.

Na terça (2), Choigu pediu à estatal Tactical Missiles Corporation que dobre sua produção de mísseis. "As ações das unidades russas que conduzem a operação especial dependem em grande parte do reabastecimento de estoques de armas, equipamentos militares e meios de destruição", disse o ministro.

No mesmo dia, o Ministério da Defesa do Reino Unido engrossou tal avaliação ao afirmar que os problemas logísticos são centrais e que Moscou não tem munição suficiente. "A Rússia continua dando a mais alta prioridade à mobilização de sua indústria de defesa, e ainda assim não consegue atender às demandas do tempo de guerra", afirmou a pasta britânica.

Em janeiro, os russos dispararam vários mísseis S-400, normalmente usados em defesa aérea de longo alcance, em Kiev. A estratégia gerou especulações de que a Rússia tem um déficit considerável de mísseis de cruzeiro. Até Putin criticou o ritmo de fabricação de armas. No início do ano, repreendeu um de seus ministros pelo fato de a produção de aeronaves levar "muito, muito tempo".

Em março, lamentou a escassez de trabalhadores especializados na fabricação de itens de defesa. Dmitri Medvedev, número 2 do Conselho de Segurança, foi mais longe e disse que diretores de fábricas de armas poderiam ser responsabilizados criminalmente por não cumprirem prazos com o Estado.

Também nesta sexta, a Rússia ordenou a saída de famílias com crianças e idosos no sul ucraniano ocupado pelos russos após um aumento de bombardeios do país rival.

"Nos últimos dias, o inimigo intensificou o bombardeio de assentamentos perto da linha de frente", escreveu nas redes sociais o chefe da região de Zaporíjia, Ievguêni Balitski, nomeado pela Rússia. "Tomei, portanto, a decisão de retirar primeiro todas as crianças e seus pais, idosos, pessoas com deficiência e pacientes hospitalares." Os locais esvaziados incluem Energodar, cidade onde fica a maior usina nuclear da Europa e que agora está perto da linha de batalha.

Segundo a agência estatal russa Tass, houve ainda um incêndio em uma refinaria de petróleo no sudoeste da Rússia nesta sexta. O local, segundo os serviços de resgate locais, foi atacado com um drone no dia anterior. "Os trabalhadores da refinaria foram resgatados e ninguém ficou ferido", afirmou a agência. O incêndio teria sido provocado por um novo ataque de drones, estratégia usada em uma série de ofensivas denunciadas pelo Kremlin, incluindo uma suposta tentativa de assassinar Putin, na quarta-feira.

Sem apresentar evidências, Moscou despertou suspeitas de uma operação de "bandeira falsa" —quando um país simula um ataque contra si mesmo para iniciar uma guerra, retaliar rivais ou escalar uma situação. Após chamar a suposta ação de "ataque terrorista", Medvedev afirmou no Telegram que "não há mais opções, exceto a eliminação física de [Volodimir] Zelenski", o presidente ucraniano.

Durante o inverno europeu, a Ucrânia reforçou suas defesas antiaéreas, e agora Kiev está se preparando para lançar uma contraofensiva usando armas doadas por aliados. Em paralelo, milhares de soldados voltaram recentemente de uma série de treinamentos no Ocidente.

Com Reuters e AFP

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