Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia ordena duplicação da produção de mísseis antes de contraofensiva ucraniana

Moscou enfrenta desafios de abastecimento bélico em momento de escalada do conflito

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São Paulo

O ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, pediu à estatal Tactical Missiles Corporation para dobrar sua produção de mísseis para a Guerra da Ucrânia, informou a mídia estatal nesta terça (2).

"As ações das unidades russas que conduzem a operação especial dependem em grande parte do reabastecimento de estoques de armas, equipamentos militares e meios de destruição", disse ele, acrescentando que empresas do setor foram instruídas a aumentar "o ritmo e o volume de produção".

Soldados russos em Moscou, durante preparativos para o Dia da Vitória
Soldados russos em Moscou, durante preparativos para o Dia da Vitória - Cirilo Kudriavtsev - 27.abr.23/AFP

Embora Moscou e Kiev enfrentem desafios de abastecimento bélico, especialistas dizem que a Rússia tem ficado sem munição de alta precisão, já que o lançamento de mísseis contra a Ucrânia diminuiu.

Nesta terça, o Ministério da Defesa do Reino Unido disse que os problemas logísticos são centrais e que Moscou não tem munição suficiente. "A Rússia continua dando a mais alta prioridade à mobilização de sua indústria de defesa, e ainda assim não consegue atender às demandas do tempo de guerra."

O país europeu já havia feito apontamentos nessa direção. Em dezembro, a inteligência militar britânica disse que a Rússia estava limitando seus ataques com mísseis de longo alcance contra a Ucrânia devido à falta de armamento; em março, voltou a ventilar a desconfiança ao dizer que Moscou provavelmente estava racionando projéteis de artilharia ou usando explosivos desatualizados.

A falta de armamento também incomodou Ievguêni Prigojin, chefe do grupo paramilitar privado Wagner, que atua na guerra no lado russo. O empresário disse na segunda (1º) que suas tropas estavam recebendo só um terço dos projéteis de artilharia de que precisavam para o ataque a Bakhmut, no leste ucraniano.

Há meses Prigojin reclama da falta de suprimentos de Moscou e diz que o apoio reduzido está atrapalhando a ofensiva russa em um momento de escalada do conflito.

Os russos dispararam vários mísseis S-400, normalmente usados em defesa aérea de longo alcance, em Kiev no mês de janeiro, gerando especulações de que a Rússia tinha um déficit considerável de mísseis de cruzeiro. E, em várias ocasiões, o presidente Vladimir Putin criticou o ritmo de fabricação do país.

Em janeiro, em comentários televisionados, ele repreendeu um de seus ministros pelo fato de a produção de aeronaves levar "muito, muito tempo". Em março, lamentou ainda a escassez de trabalhadores especializados na fabricação de itens de defesa. Também o ex-presidente Dmitri Medvedev, número 2 do Conselho de Segurança, chegou a afirmar que os diretores de empresas de fabricação de armas poderiam ser responsabilizados criminalmente por não cumprirem os prazos de seus contratos com o Estado.

Ainda em março, Putin assinou um decreto permitindo que o governo, em caso de lei marcial, assuma a gestão dos fabricantes de defesa que não cumprissem os contratos estatais.

Do lado de Kiev, também há sinalizações de que a disponibilidade de equipamentos militares pode crescer. Nesta quarta-feira (3), o comissário para Comércio da União Europeia (UE), o francês Thierry Breton, disse que as obsoletas fábricas de armas do continente podem em breve receber um reforço de US$ 551 milhões no guarda-chuva de um plano a ser anunciado pelo bloco para expandia a produção.

Potencialmente, afirmou ele, a medida aceleraria também o envio de munição à Ucrânia. Breton disse que a invasão do país do Leste Europeu expôs as deficiências na indústria de defesa da Europa e o efeito que os anos de relativa paz no continente legaram à sua capacidade de produção de armamentos.

Há uma brecha nas discussões da UE, porém: uma divergência entre seus membros se um fundo separado do bloco poderia ser usado para comprar munições fora da Europa, em países como EUA e Coreia do Sul, para ajudar a UE a entregar um milhão de cartuchos de munição à Ucrânia neste ano.

Durante o inverno europeu, a Ucrânia reforçou suas defesas antiaéreas, e agora Kiev está se preparando para lançar uma contraofensiva usando armas doadas por aliados. Em paralelo, milhares de soldados voltaram recentemente de uma série de treinamentos no Ocidente.

Moscou, por sua vez, acirrou as investidas, o que fez a guerra ganhar fôlego. Na semana passada, a Rússia realizou seu maior ataque de mísseis sobre o território ucraniano em quase dois meses, matando quase 25 pessoas, e, na madrugada desta quarta-feira (3), teria lançado 26 drones kamikaze ao país vizinho, de acordo com o Exército ucraniano, que diz ter repelido 21 deles.

Também nesta quarta-feira, a Rússia acusou a Ucrânia de estar por trás de um suposto ataque a drones ao Kremlin. Segundo as autoridades, o objetivo seria assassinar Vladimir Putin.

A alegação, sem a apresentação de quaisquer evidências, foi refutada por Kiev. "A Ucrânia trava uma guerra exclusivamente defensiva e não ataca alvos no território da Rússia", afirmou Mikhail Podoliak, principal assessor do presidente Volodimir Zelenski, em postagem no Twitter.

A guerra de versões não impediu o Kremlin de divulgar nota afirmando que "o lado russo se reserva o direito de tomar medidas de retaliação onde e quando considerar adequado".

A declaração foi encarada como uma indicação de que Moscou pretende usar o episódio para intensificar ainda mais o conflito —e gerou suspeitas de uma operação de "bandeira falsa", ou seja, um ataque contra si mesmo para iniciar uma guerra, retaliar adversários ou escalar uma situação estabelecida.

Na segunda, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, afirmou que as condições-chave para o sucesso eram disponibilidade de armas e pessoas treinadas. "A partir de hoje, estamos entrando na reta final, quando podemos dizer: 'Sim, está tudo pronto'", disse Reznikov.

Com Reuters e The New York Times

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