Maior ciclone em Mianmar em dez anos deixa 29 mortos e mais de mil casas danificadas

Ventos chegaram a 210 km/h e forçaram retirada de ao menos 750 mil moradores no país vizinho, Bangladesh

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Rangún (Mianmar) | Reuters e AFP

Ao menos 29 pessoas morreram e 700 ficaram feridas durante a passagem do ciclone Mocha pela região oeste de Mianmar, informou a junta militar birmanesa nesta segunda-feira (15). A tempestade de categoria cinco —a maior na escala— é a mais intensa a atingir o país em dez anos, de acordo com autoridades.

Mulher com guarda-chuva enquanto tenta limpar destroços após passagem do ciclone Mocha pelo campo de refugiados Pyone Yay, no nordeste de Mianmar
Mulher com guarda-chuva enquanto tenta limpar destroços após passagem do ciclone Mocha pelo campo de refugiados Pyone Yay, no nordeste de Mianmar - Sai Aung Main/AFP

O estado de Rakhine, no nordeste, foi o mais impactado. Ventos que chegaram a 210 km/h danificaram cerca de mil prédios e casas, e centenas de pessoas estão desabrigadas. Pelo menos 100 mil pessoas tiveram de ser retiradas da região e levadas para locais mais seguros, segundo a imprensa local.

Equipes trabalham para resgatar centenas de ilhados no oeste do país, mas as buscas são dificultadas por cortes nas linhas de comunicação. À agência de notícias Reuters um porta-voz do Exército disse que as redes civis foram "severamente interrompidas" devido à tempestade. Em Sittwe, onde vivem 150 mil pessoas, a maior parte das construções foi danificada, incluindo o principal hospital do município, que perdeu partes do telhado. Pelo menos 14 centros de saúde sofreram danos no país.

O Centro de Coordenação de Assistência Humanitária da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático) alertou para o potencial de um "desastre catastrófico" e afirmou que estava coordenando o envio de suprimentos básicos de países como Tailândia e Malásia.

Mianmar é uma das nações mais pobres da Ásia, e quase 40% da população vivia abaixo da linha de pobreza antes da tempestade, de acordo com o Banco Mundial. O país também enfrenta crise política. O Exército assumiu o poder do país em 2021, por meio de um golpe de Estado. Desde então, ofensivas contra minorias étnicas e confrontos com opositores têm sido frequentes, em atos de repressão que incluem ataques aéreos e uso de armas pesadas mesmo em áreas habitadas por civis. A ONU estima que ao menos 1,2 milhão de pessoas tenham sido desalojadas pelos enfrentamentos depois do golpe.

O ciclone Mocha atingiu as costas de Mianmar e de Bangladesh, no golfo de Bengala, pela primeira vez no domingo (14). Não causou grandes danos aos campos de refugiados da minoria muçulmana rohingya, como se temia, mas originou uma grande tempestade no oeste birmanês.

Em Bangladesh, milhares de trabalhadores e voluntários foram mobilizados junto com equipes médicas e de resgate. "Estamos concentrados em salvar vidas. As pessoas que correm o risco de deslizamentos de terra serão retiradas", disse Mohammad Shamsud Douza, membro do governo que lida com refugiados. Ao menos 750 mil pessoas deixaram suas casas no país e cerca de 300 moradias foram destruídas.

Os ciclones, chamados de furacões no Atlântico e de tufões no Pacífico, são uma ameaça na costa norte do Oceano Índico, onde moram milhões de pessoas. Em 2008, a tempestade Nargis matou ao menos 138 mil pessoas ao atravessar o delta do Irrawaddy, em Mianmar. Para especialistas, a crise climática causada pela ação humana não é responsável pelos ciclones, mas faz os fenômenos mais intensos e destrutivos.

De acordo com o World Weather Attribution, que reúne cientistas especialistas em aquecimento global, "o número geral de ciclones tropicais por ano não mudou, mas a crise climática aumentou a ocorrência das tempestades". Assim, os ciclones mais violentos, entre as categorias 3 e 5, tornaram-se mais frequentes.

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