Descrição de chapéu Rússia

Principal opositor de Erdogan na Turquia acusa Rússia de interferir nas eleições

Moscou nega estar por trás de deepfakes atribuídas ao país por líder nas pesquisas, Kemal Kilicdaroglu

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Ancara | Reuters

Principal candidato da oposição na Turquia, Kemal Kilicdaroglu acusou a Rússia nesta sexta-feira (12) de interferência nas eleições. No domingo (14), ele vai enfrentar Recep Tayyip Erdogan, naquele que é considerado o maior teste do atual presidente em 20 anos no poder.

Kilicdaroglu, à frente nas pesquisas por uma pequena margem (49% a 46%), alegou no Twitter que o país de Vladimir Putin está por trás de montagens e vídeos deepfake —gerados por inteligência artificial que permite encaixar rostos e vozes de qualquer pessoa em outros contextos— que buscam difamá-lo.

Kemal Kilicdaroglu, candidato à Presidência da Turquia e principal opositor de Recep Tayyip Erdogan, durante entrevista à agência de notícias Reuters, em Ancara - Cagla Gurdogan - 12.mai.23/Reuters

"Se você deseja que nossa amizade continue depois de 15 de maio, tire as mãos do Estado turco. Continuamos sendo a favor da cooperação e da amizade", afirmou o político na postagem.

A Rússia negou qualquer tentativa de interferir no pleito. Em seu encontro regular com a imprensa, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que "quem quer que tenha dado essa informação a Kilicdaroglu é um mentiroso" e acrescentou que Moscou valoriza enormemente seus laços com Ancara.

Kilicdaroglu não apresentou evidências que apoiassem suas alegações, embora tenha afirmado à agência de notícias Reuters que não as teria feito se não tivesse provas.

Também não especificou a que montagens e deepfakes estava se referindo —na noite anterior, porém, um vídeo que justapõe imagens do opositor e do líder da milícia Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) proferindo o mesmo slogan tinha sido citado pelo atual presidente em uma transmissão em rede nacional.

"Kilicdaroglu tem o homem que lidera o grupo terrorista por trás de si. Ele diz 'vamos lá' e o outro diz 'vamos lá'", disse Erdogan na ocasião, em referência ao slogan compartilhado. Ao longo de sua campanha, o presidente insinuou repetidas vezes, sempre sem apresentar provas, que a coalizão de seis partidos que o enfrenta nas urnas tem algum vínculo com a milícia, hostilizada pela maior parte da população.

Não é a primeira vez que a Rússia é acusada de interferir em eleições no exterior —o caso mais conhecido é o do pleito que culminou com a vitória de Donald Trump nos EUA, em 2016, algo que o Kremlin nega.

Erdogan tem uma relação complexa com Putin. Embora tenha reforçado suas conexões com Moscou nos últimos mandatos, Ancara ainda é a principal adversária do Kremlin na disputa de influência no Cáucaso e no mar Negro, e as duas nações estão em lados opostos no conflito entre Azerbaijão e Armênia.

Ambos os líderes compartilham, porém, a desconfiança em relação aos EUA. O turco vivenciou uma série de imbróglios diplomáticos com Washington nos últimos anos, em questões que vão do apoio americano a milícias curdas na Síria e no Iraque à recusa do país da América do Norte em extraditar o clérigo muçulmano Fethullah Gulen, acusado de arquitetar a tentativa de golpe contra Erdogan em 2016.

Ele também criticou o embaixador dos EUA em Ancara, Jeff Flake, por se reunir publicamente com Kilicdaroglu. "A Turquia enviará uma mensagem ao Ocidente com esta eleição", disse —seu ministro do Interior, Suleyman Soylu, foi além, e descreveu o pleito como "uma tentativa de golpe ocidental".

Ergodan, que é acusado de enfraquecer a independência do Judiciário, corroer a liberdade de imprensa e enfraquecer o respeito aos direitos humanos na Turquia, enfrenta um contexto bastante desfavorável nesta eleição. Sua popularidade está em baixa em razão de uma grave crise econômica, e a atuação de seu governo após o terremoto que matou mais de 50 mil no país foi considerada insatisfatória por muitos.

Há cinco anos, ele venceu em primeiro turno com quase 53% dos votos, diante de adversários fragmentados. Dessa vez, as pesquisas de intenção de voto indicam que a disputa deve ir para o segundo turno –a votação final, caso seja necessária, está marcada para 28 de maio.

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