A Justiça da Rússia estendeu por três meses, nesta terça-feira (23), a prisão preventiva de Evan Gerchkovitch, repórter do jornal americano The Wall Street Journal detido em março sob acusação de espionagem. A decisão foi repudiada por autoridades dos Estados Unidos, que tinham a expectativa de vê-lo em liberdade no próximo dia 29.
O FSB (Serviço Federal de Segurança), órgão russo de inteligência, foi o autor do pedido de prorrogação da pena, agora prevista até 30 de agosto, mas que depois poderá ser novamente estendida. A decisão foi divulgada pela agência de notícias estatal russa RIA, e os motivos da ampliação não foram informados.
Gerchkovitch, cidadão americano de origem russa, foi acusado por Moscou de colher informações classificadas como segredo de Estado sobre uma fábrica militar e de transmiti-las a Washington. Não foram apresentadas provas das alegações, e o The Wall Street Journal as nega.
Diversas entidades, personalidades e políticos vêm se manifestando em defesa da liberdade do jornalista. O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu várias vezes a libertação do repórter, mas disse no mês passado que não tinha planos de expulsar diplomatas russos do território americano como retaliação.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matt Miller, afirmou que representantes da embaixada americana em Moscou compareceram à audiência nesta terça, mas foram impedidos de conversar com o jornalista. Os pais de Gerchkovitch também estavam no tribunal de Moscou, segundo a CNN internacional.
"Ele não deveria ter sido detido. Jornalismo não é crime. Ele precisa ser liberado imediatamente", afirmou à CNN o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, acrescentando que as autoridades dos EUA voltaram a cobrar acesso consular ao americano preso.
O The Wall Street Journal também repudiou a prorrogação da pena e voltou a dizer que as acusações contra o repórter são "comprovadamente falsas". "Embora já esperássemos que não haveria mudanças na detenção injusta, estamos profundamente desapontados. Continuamos a exigir sua libertação imediata."
Na lei russa, espionagem pode dar de dez a 20 anos de prisão. Apesar da pressão feita pelos EUA, o governo de Vladimir Putin não tem mostrado até aqui que pode recuar. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chegou a dizer que este era um assunto do FSB. Já Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria russa, afirmou que a apuração de Gerchkovitch "não era relacionada a jornalismo" e que é usual o emprego de disfarce de repórter para espionagem.
Para a Rússia, o jornalista preso se torna um ativo valioso para eventual libertação de detidos no exterior. Pouco antes da Guerra da Ucrânia, a jogadora de basquete americana Brittney Griner foi presa sob acusação de posse de drogas em um aeroporto moscovita. Ela só foi solta em dezembro passado, trocada pelo traficante de armas Viktor Bout, preso nos EUA.
O caso Gerchkovitch é o mais grave caso do gênero envolvendo um jornalista estrangeiro desde que a Rússia invadiu o país vizinho, em fevereiro do ano passado. Após o início da ofensiva, aumentaram os assédios a repórteres, e um grande contingente de profissionais da imprensa deixou o país.
Roger Carstens, enviado especial dos EUA à Rússia, disse que o governo americano fará "o que for preciso" para repatriar Gerchkovitch e também Paul Whelan, um ex-fuzileiro naval preso desde 2018 e acusado de carregar um pen drive com informações confidenciais. Em 2020, o ex-militar foi condenado a 16 anos de prisão. Ele diz ser vítima de uma armação.
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