Descrição de chapéu Financial Times Partido Republicano

Concorrentes de Trump buscam roubar parcela do 'amor evangélico' nos EUA

Ex-presidente recebeu 76% do voto evangélico branco na última eleição; rivais veem evento como chance de atrair apoio

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Lauren Fedor
Washington | Financial Times

É uma das grandes contradições da política americana. Como foi que um ex-dono de cassinos, casado três vezes e que foi gravado gabando-se de apalpar mulheres, acabou conquistando o apoio de cristãos evangélicos?

Mas o fato é que Donald Trump recebeu 76% do voto evangélico branco na última eleição em 2020, segundo a pesquisa de boca de urna da Edison Research, e insistiu que ainda tem o apoio total dos líderes das igrejas evangélicas num evento de campanha recente em Iowa.

O ex-presidente disse a uma estação de televisão local este mês depois de um encontro com pastores locais em Des Moines: "Temos um verdadeiro festival do amor com líderes religiosos do Iowa e em todo o país".

O ex-presidente Donald Trump é visto em telão durante encontro com evangélicos em Iowa, nos EUA - Eduardo Munoz -22.abr.23/Reuters

Cerca de um terço dos americanos se identificam como evangélicos ou cristãos ditos "renascidos em Cristo", mas eles exercem influência desproporcional nas disputas iniciais que vão moldar a corrida para a nomeação do candidato presidencial do Partido Republicano.

A expectativa é que dois terços dos participantes republicanos nos caucus de Iowa em 2024 serão fiéis evangélicos que frequentam a igreja, e é provável que eles formem uma parcela semelhante na disputa das primárias republicanas na Carolina do Sul, outro Estado que vota antecipadamente.

Todos os rivais de Trump vão tentar romper o domínio que ele exerce sobre os evangélicos em um evento de três dias que será realizado essa semana em Washington e que é organizado pela Coalizão Fé e Liberdade. A entidade foi imprescindível para Trump em 2016 e 2020 e cita entre seus princípios "o respeito pela santidade e dignidade da vida, da família e do casamento como os alicerces de uma sociedade livre".

Segundo alguns líderes evangélicos, os rivais de Trump podem conquistar o apoio deles e, com isso, ajudar reduzir a vantagem enorme do ex-presidente nas intenções de voto. Uma pesquisa da CNN divulgada esta semana indicou que Trump tem o apoio de 47% dos eleitores republicanos em todo o país. Nenhum outro pré-candidato chega perto disso.

Michael Demastus, pastor da Igreja de Cristo Forte Des Moines, participou da reunião recente com Trump em Iowa. Ele descreveu o ex-presidente como uma "força da natureza" que deve ser reconhecido por ter nomeado juízes conservadores e transferido a embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv para Jerusalém –outra prioridade evangélica.

Mas Trump se engana quando diz que conta com o apoio total dos líderes evangélicos, disse Demastus. O pastor tem se reunido nas últimas semanas com outros pré-candidatos republicanos, incluindo o governador da Flórida Ron DeSantis, o ex-vice-presidente Mike Pence e o senador da Carolina do Sul Tim Scott.

"Acho que há alguns que são partidários ferrenhos de Trump, mas há muitos que estão... que estamos dispostos a ouvir outras pessoas também", ele acrescentou.

Fundador da Coalizão Fé e Liberdade, o lobista Ralph Reed também disse que a disputa está longe de estar decidida. "O presidente Trump é o candidato mais bem cotado, sem dúvida, e isso não deve surpreender a ninguém, mas este será um processo altamente competitivo", ele disse, acrescentando que todos os pré-candidatos terão uma "audiência justa" no evento próximo.

A primeira tentativa de Trump de atrair os evangélicos, em 2016, começou mal depois que ele se atrapalhou com uma referência bíblica de Paulo aos coríntios. Semanas mais tarde, ele perdeu os caucus de Iowa para o senador do Texas Ted Cruz.

Mas Trump acabou conquistando a adesão dos evangélicos, o que somente cresceu depois que ele chegou à Casa Branca e cumpriu sua promessa de ser "o presidente mais pró-vida (antiaborto) já visto". Ele nomeou três juízes conservadores para a Suprema Corte e abriu o caminho para a revogação de Roe vs. Wade, a decisão da Suprema Corte que consagrara o direito constitucional ao aborto.

Vários dos rivais de Trump têm priorizado, em suas mensagens aos eleitores, um esforço de aproximação com o eleitorado cristão conservador.

Quando lançou sua campanha em Iowa, no início deste mês, Mike Pence repetiu uma frase que empregou com frequência em sua vida política: "Sou cristão, conservador e republicano, nessa ordem".

O slogan oficial da campanha de Tim Scott é "fé na América". No início da semana, o senador disse que está "empolgado por poder conversar com pessoas no caucus que declaram sua fé abertamente e guardam Jesus no coração" em conferência evangélica que será realizada em Iowa.

Mas analistas são céticos quanto às chances de os eleitores evangélicos se deixarem persuadir pela religiosidade ou qualidades pessoais dos candidatos. Robert Jones, fundador do Instituto de Pesquisas Públicas sobre Religião, disse que depois da primeira eleição de Trump, pesquisas revelaram que os evangélicos não estão mais preocupados com a moralidade ou as qualidades pessoais dos candidatos.

"Houve uma mudança real na ética política, que passou de uma ética pautada por princípios, segundo a qual vamos perguntar aos candidatos sobre seu caráter e vamos julgá-los por esse critério, para uma ética política do tipo ‘os fins justificam os meios’", ele disse.

Reed descreveu Pence como "amigo íntimo" e "o mais eficaz mensageiro para a comunidade evangélica que já vimos", com uma história de fé pessoal "extremamente poderosa". Mas acrescentou: "Isso não é obrigatório para a pessoa se sair bem com esse eleitorado, como Donald Trump demonstrou.

"Não é que os evangélicos não apreciem se você compartilha a fé deles. Eles apreciam. Mas estão preocupados principalmente em saber se você compartilha as posições deles sobre política pública."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.