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Trump enfrenta concorrentes em sua busca pelo voto evangélico em 2024

Cortejado por promessa de uma Suprema Corte antiaborto, grupo agora tem ressalvas ao ex-presidente

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Charles Homans
Nova York | The New York Times | The New York Times

Em uma recente manhã de domingo na Igreja Elmbrook, uma megaigreja evangélica sem denominação em Brookfield, Wisconsin, Jerry Wilson falou sobre o seu voto em 2024.

"Vai ser um republicano", disse ele, "mas não sei quem."

Em 2016 e 2020, ele votou em Donald Trump. "Ele realizou muito pelos cristãos, pelos evangélicos", disse Wilson, 64. Mas "ele tem muitos atributos negativos, e isso faz você parar e pensar, sabe? Eu gostaria de ver o que os outros candidatos têm a oferecer".

Trump, homem branco de pele alaranjada e cabelos loiros, discursa em cima de um púlpito iluminado. uma pessoa na plateia à sua frente ergue um cartaz onde se lê "we want trump" ("nós queremos trump")
O ex-presidente Donald Trump discursa na Conferência de Ação Política Conservadora, em Maryland - Evelyn Hockstein/Reuters

Os eleitores evangélicos brancos foram fundamentais na primeira eleição de Trump, e ele continua extremamente popular entre esse grupo. Mas uma pesquisa da Universidade Monmouth realizada entre o final de janeiro e o início de fevereiro mostrou Ron DeSantis, governador republicano da Flórida que não se declarou candidato à presidência, mas parece ser o rival inicial mais forte de Trump, à frente do ex-presidente por 7 pontos percentuais entre os eleitores autodenominados republicanos evangélicos, em uma disputa direta.

Foi um sinal precoce de que, ao tentar retornar ao cargo, Trump deve encarar uma base que mudou desde sua eleição em 2016 –e por causa dela.

Algumas das mudanças beneficiam claramente Trump, mas outras podem ter enfraquecido seu domínio sobre os eleitores evangélicos e os proeminentes pastores evangélicos, que muitas vezes são vistos como agentes de poder na política republicana.

A decisão da Suprema Corte em junho no caso Dobbs vs Jackson Women's Health Organization, que anulou o direito constitucional ao aborto, levou grande parte da luta para reverter ainda mais os direitos ao aborto –o objetivo político quase único dos evangélicos conservadores há mais de quatro décadas– para o nível estadual.

No ano passado, Trump criticou os candidatos republicanos por se concentrarem demais na "questão do aborto", declaração que foi vista como uma traição por alguns evangélicos de direita e um convite para buscar outras opções.

A política evangélica conservadora se expandiu e se moveu acentuadamente para a direita, animada por uma nova lista de questões como oposição aos currículos de raça e história nas escolas e direitos LGBTQIA+ e moldada pelos bloqueios da Covid-19 em 2020 e 2021, contra os quais alguns pastores consideraram uma grave afronta à liberdade religiosa. São áreas em que DeSantis baseou agressivamente sua postura.

"É um cenário diferente", disse John Fea, historiador da Universidade do Messias e autor de "Believe Me: The Evangelical Road to Donald Trump" [Acredite em mim: o caminho evangélico para Donald Trump].

Este ano, prováveis rivais de Trump buscaram e receberam o apoio de vários pastores alinhados a Trump em eleições anteriores.

Quando Nikki Haley, embaixadora de Trump na ONU e ex-governadora da Carolina do Sul, apresentou formalmente sua própria candidatura em fevereiro, o fez ao lado do televangelista John C. Hagee, que expressou seu apoio a Trump em 2016.

Em janeiro, quando o ex-vice-presidente Mike Pence apresentou seus comentários mais diretos até agora sobre o motim do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, o fez na gigantesca Primeira Igreja Batista de Dallas, em conversa no palco com seu pastor, Robert Jeffress, um dos líderes evangélicos mais influentes dos EUA e um fiel aliado de Trump durante sua presidência.

"Agradeço a Deus pelo presidente Trump, porque é por causa de suas nomeações judiciais que Roe vs Wade foi anulada" [a lei do aborto], disse Tom Ascol, pastor sênior da Igreja Batista da Graça em Cape Coral, na Flórida. Ele disse que o apoiaria novamente em uma disputa frente a frente com o presidente Joe Biden. Mas a primária presidencial republicana é outra questão.

Ascol disse que está procurando "uma pessoa de princípios e uma pessoa de coragem". Trump, disse ele, é "corajoso e sem princípios", citando suas recentes declarações sobre o aborto. Em janeiro, Ascol fez a oração inicial na posse de DeSantis em seu segundo mandato como governador.

Entretanto, ele ainda não fez um endosso na corrida presidencial. Nem Hagee, nem Jeffress. "Não foi um endosso; foi uma oração", disse Ari Morgenstern, porta-voz de Hagee, sobre sua aparição com Haley.

A pesquisa da Monmouth, realizada antes de Haley entrar oficialmente na corrida, mostrou Pence e Haley liderando com um dígito o apoio dos eleitores republicanos autoidentificados como evangélicos. Mas o forte desempenho de DeSantis, com avaliações positivas comparáveis às de Trump, sugere que o ex-presidente não pode considerar garantido o apoio primário do eleitorado.

Ron DeSantis aparece iluminado por um luz de palco, sorrindo em pé enquanto acena. ele é um homem branco que usa terno azul
O governador da Flórida, Ron DeSantis, fotografado em evento no Rhythm City Casino Resort, em Davenport - Jonathan Ernst/Reuters

Em 2016, Trump reorganizou o cenário da política evangélica, atraindo o endosso dos eleitores evangélicos brancos contra candidatos de fé evangélica mais profunda e para longe das advertências dos líderes religiosos, muitos dos quais desconfiaram inicialmente de Trump. Como presidente, ele o modificou novamente ao cumprir sua promessa de nomear juízes da Suprema Corte que derrubariam Roe vs Wade.

Mark Burns, pastor em Easley, na Carolina do Sul, que serviu como substituto na campanha de Trump em 2016 e endossou sua candidatura para 2024, disse que a presidência de Trump mudou as expectativas dos eleitores evangélicos sobre o que um presidente deve lhes entregar.

"Existem tantos presidentes cristãos que soam como cristãos, agem como cristãos, falam como cristãos, parecem bons cristãos –mas não criam políticas cristãs", disse ele. "Donald J. Trump não é essa pessoa."

Quando tentou a nomeação republicana pela primeira vez, sete anos atrás, Trump ofereceu aos evangélicos conservadores uma proposta abertamente transacional: se votassem nele, nomearia juízes da Suprema Corte que acabariam com o aborto legal.

Steven Cheung, porta-voz da campanha de Trump, disse em comunicado que "o histórico inigualável do presidente Trump fala por si", observando suas medidas para restringir o aborto além de derrubar Roe vs Wade, inclusive bloqueando organizações de saúde no exterior que discutem aborto ou planejamento familiar.

"Não houve maior defensor do movimento do que o presidente Trump", disse ele.

Mas Fea argumenta que o cumprimento de Trump de sua grande promessa aos evangélicos conservadores havia, paradoxalmente, libertado os líderes conservadores da igreja de sua aliança de conveniência com o ex-presidente.

"Eles toleraram muito de Trump e se recusaram a questioná-lo porque sabiam que havia questões maiores em jogo", disse ele. "Mas agora a lousa está limpa e você tem que repensar a questão: Trump vale a pena? Ele fez o que precisávamos que fizesse?"

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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