Dono de submarino ignorou alertas de segurança como 'gritos infundados'

Especialista disse a empresário que vidas estavam em risco, segundo emails obtidos pela BBC

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São Paulo

O empresário americano Stockton Rush, 61, dono da OceanGate e piloto do submarino que implodiu no oceano Atlântico, esnobou várias mensagens enviadas por especialistas que alertavam para a insegurança da embarcação, segundo troca de emails obtida pela rede britânica BBC.

Um dos alertas foi feito por Rob McCallum, especialista em exploração em alto mar. Em 2018, ele acusou Rush de colocar a vida de seus clientes em risco. Também sugeriu que o empresário suspendesse as expedições com o submersível Titan até que o veículo recebesse certificações de órgãos independentes.

"Você está colocando a si mesmo e a seus clientes em uma dinâmica perigosa", escreveu McCallum, segundo a BBC. "Em sua corrida ao Titanic, você está espelhando o grito de guerra famoso: '[a embarcação] é inafundável'", acrescentou, em referência à fama do transatlântico antes de naufragar.

Stockton Rush mostra controle de submarino; ele é dono da OceanGate e estava a bordo da embarcação que implodiu
Stockton Rush mostra controle de submarino; ele é dono da OceanGate e estava a bordo da embarcação que implodiu - Reprodução

Os destroços do submarino Titan foram encontrados nesta quinta (22). O estado das peças é compatível com uma perda de pressão do veículo, o que teria provocado uma "implosão catastrófica", segundo a Guarda Costeira dos EUA. Cinco pessoas estavam a bordo para uma expedição até os restos do Titanic.

A OceanGate alegava que o veículo era inovador e, por isso, segundo a empresa, a embarcação não atendia aos padrões de certificação. Em resposta a McCallum, Rush disse que estava cansado de lidar com "representantes da indústria que usam argumentos de segurança para impedir a inovação".

"Ouvimos gritos infundados de 'você vai matar alguém' com frequência", escreveu Rush. "Considero isso um sério insulto pessoal." A troca de emails teria sido interrompida após advogados da OceanGate ameaçarem entrar com uma ação na Justiça contra McCallum por importunação.

O especialista não foi o único a alertar o dono da OceanGate sobre os riscos do Titan. Em carta enviada a Rush, também em 2018, o comitê de veículos subaquáticos da Sociedade de Tecnologia Marítima, grupo que reúne líderes da indústria de embarcações submersíveis, apontou possíveis consequências "catastróficas" em decorrência da abordagem experimental.

"Quando a OceanGate foi fundada, seu objetivo era buscar o mais alto nível de inovação no projeto e na operação de submersíveis tripulados. Por definição, a inovação está fora de um sistema já aceito", rebateu a companhia depois da carta, em uma publicação intitulada "Por que o Titan não é certificado?".

O submersível perdeu contato com a superfície 1h45 após o início do mergulho. Segundo o porta-voz da Guarda Costeira, ainda é cedo para falar quando exatamente ocorreu a implosão. Especialistas dos EUA e do Canadá e veículos de busca permanecem no mar nesta sexta, investigando as causas do incidente.

O Titan era dirigido por um controle semelhante ao de videogames, e seu interior era apertado e simples, com três monitores, um botão, uma janela pequena e um banheiro improvisado.

Além de Rush, estavam no submersível o bilionário britânico Hamish Harding, 58, presidente-executivo da Action Aviation, o empresário paquistanês Shahzada Dawood, 48, vice-presidente do conglomerado Engro, e seu filho Suleman Dawood, 19, além do francês Paul-Henri Nargeolet, 77, especialista no Titanic.

A OceanGate cobrou US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) por uma vaga na expedição de oito dias para ver os restos do Titanic, que afundou em sua viagem inaugural após bater num iceberg, em 1912. Os destroços do transatlântico, cuja tragédia matou mais de 1.500 pessoas, estão 1.450 km a leste de Cape Cod, no estado americano de Massachusetts, e 640 km ao sul de St. John, no Canadá.

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