Descrição de chapéu Folhajus União Europeia

Deputada alemã se afasta de grupo Brasil-Alemanha após pressão por criticar Moraes

Vice-líder da ultradireita e aliada de Bolsonaro, Beatrix von Storch disse que ministro era 'o maior criminoso do Brasil'

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DW

Mais de um mês após ter se referido ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes como "o maior criminoso do Brasil" nas redes sociais, a deputada alemã Beatrix von Storch, do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), anunciou seu afastamento, por tempo indeterminado, do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro no Bundestag, o Parlamento alemão.

O caso foi noticiado nesta quinta (15) pelo jornal alemão Die Tageszeitung. Sob pressão de rivais na AfD, Von Storch afirma em carta entregue ao grupo parlamentar de cooperação bilateral que lamenta pela forma "nada diplomática" com que se expressou e que as palavras tenham dificultado o trabalho conjunto.

A deputada alemã Beatrix von Storch, da AfD, no Bundestag, o Parlamento da Alemanha, em Berlim
A deputada alemã Beatrix von Storch, da AfD, no Bundestag, o Parlamento da Alemanha, em Berlim - Odd Andersen - 19.jan.23/AFP

Apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), antifeminista e fundamentalista cristã, Von Storch estava na comitiva de cinco deputados que viajou ao Brasil em maio e postou as palavras poucos dias após uma agenda com Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O ministro é um desafeto do bolsonarismo.

"Tivemos a ‘honra' de conhecer o maior criminoso do Brasil: Alexandre de Moraes", escreveu Von Storch numa postagem que depois deletou. "O coração de todo totalitário se derrete ao ver o poder desse senhor."

Durante a viagem ao Brasil ela também havia se encontrado com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, a quem se referiu como "portador da esperança dos conservadores".

No final de maio, a deputada fez uma sequência de postagens sobre o Brasil. Em uma delas, a neta de Lutz Graf Schwerin, nazista que foi ministro de Finanças de Adolf Hitler, reitera as críticas a Moraes, acusando-o de violar a Constituição, atentar contra a separação de Poderes e perseguir conservadores. A deputada também já questionou a legitimidade do processo eleitoral brasileiro.

Deputada diz lamentar escolha de palavras, não conteúdo

Segundo o jornal Die Tageszeitung, Von Storch, em reunião com o partido, teria avaliado como um erro as palavras que escolheu para se expressar, mas não o conteúdo do que disse.

Tratada como ofensa pela imprensa alemã, a declaração sobre Moraes não foi bem recebida no Brasil –o governo convocou o embaixador alemão e expressou seu descontentamento, e o embaixador brasileiro na Alemanha declarou que não participaria mais de eventos em que a deputada estivesse presente.

Os demais membros do grupo parlamentar de cooperação bilateral passaram a pressionar pela saída da deputada. O social-democrata Manuel Gava questionou o interesse de Von Storch num intercâmbio produtivo entre os dois países e se referiu ao comportamento da deputada como "vergonhoso e indigno".

Jair Bolsonaro posa para foto ao lado de um casal alemão
A deputada alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido de ultradireita AfD, e o marido durante encontro com o então presidente Jair Bolsonaro - beatrix.von.storch no Instagram

Em requerimento interno encaminhado no início desta semana, 11 correligionários de Von Storch no Bundestag argumentaram que a atitude dela prejudicou a relação entre os países, fechou as portas da embaixada brasileira ao partido e inviabilizou agendas oficiais no Brasil. Como reparação, sugeriram que a deputada se desculpasse oficialmente e tivesse seu direito de fala no Parlamento suspenso por seis semanas legislativas. O caso foi encaminhado à liderança da bancada da AfD para análise.

Quem é Von Storch?

Ativa em círculos de direita desde seus tempos de faculdade, Von Storch, 52, chegou a trabalhar como advogada, mas no fim dos anos 2000 deixou a profissão para se dedicar à política. Ela é casada com Sven von Storch, de quem adotou o sobrenome.

Sven, membro de uma família alemã que se fixou no Chile após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra, dirige junto com sua mulher vários coletivos e lobbies ultraconservadores na Alemanha, que promovem ideias anti-imigratórias e "valores cristãos" e se opõem ao casamento gay.

Em 2013, veículos da imprensa alemã levantaram a suspeita de que o casal havia embolsado € 98 mil que haviam sido doados para um desses coletivos dirigidos por Sven. Beatrix von Storch negou irregularidades e disse que sacou o dinheiro para colocá-lo em um cofre como medida de prevenção.

Sven também costuma publicar textos no site Freie Welt, ligado aos coletivos do casal, advertindo contra o que chama de "grande reset" mundial e a "ideologia de gênero", entre outros temas que costumam ser explorados pela direita mundial, inclusive a bolsonarista.

Um partido de ultradireita

Em 2013, Beatrix von Storch se filiou à AfD, à época ainda uma sigla majoritariamente eurocética moderada que contava com vários liberais. Inicialmente, os fundadores tinham como objetivo combater o uso do euro como moeda e promover a volta do marco alemão.

Mas a AfD se converteu de maneira veloz em um agrupamento ultranacionalista e anti-imigração nos anos de 2014 e 2015. A deputada foi uma das responsáveis pela guinada. Vários fundadores deixaram a sigla, afirmando que o partido havia se tornado um veículo "iliberal".

A AfD é hoje um guarda-chuva para diferentes grupos de ultradireita, como fundamentalistas cristãos e ultranacionalistas. Muitos membros são acusados regularmente de nutrir simpatias pelo nazismo.

Em 2020, um ex-porta-voz da sigla causou indignação ao ser gravado afirmando que se "orgulhava de sua ascendência ariana" e se descrevendo como um fascista. Meses depois, ele foi novamente gravado sugerindo que imigrantes deveriam "ser mortos com gás". Outros membros de destaque da sigla também foram alvo de críticas por posições abertamente racistas ou que minimizavam o nazismo.

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