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Inundação na Ucrânia tem de minas boiando a resgate de pets; veja vídeo

Rússia registra primeiras mortes após destruição de represa em Kherson; usina nuclear segue preocupando

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São Paulo

Os impactos mais imediatos da tragédia decorrente da destruição de uma represa na Ucrânia ocupada pelos russos vão surgindo aos poucos: de água contaminada por agentes químicos e biológicos ao risco de minas flutuando em cidades, passando por uma corrida para salvar cachorros e gatos ilhados.

A represa em Nova Kakhovka, em Kherson, explodiu na terça (6), dois dias após o início da contraofensiva de Kiev em pontos dos 1.000 km de frente de batalha contra Moscou, que invadiu o vizinho há 15 meses.

Voluntários ajudam a retirar moradores de área alagada em Kherson, na Ucrânia, que levam junto seus animais de estimação
Voluntários ajudam a retirar moradores de área alagada em Kherson, na Ucrânia, que levam junto seus animais de estimação - Alina Smutko - 8.jun.23/Reuters

Ambos os lados se acusam pela tragédia, alegando vantagens militares que o adversário poderia auferir com a situação. Algumas potências ocidentais, como EUA e Reino Unido, por ora evitam apontar culpados, algo notável dado o apoio delas a Kiev. Outras, como a Alemanha, acusam Vladimir Putin pela ação.

As áreas em torno dos 100 km do rio Dnieper entre a represa e o mar Negro foram alagadas. Segundo o governo de ocupação russo da maior parte da província de Kherson, campos minados instalados pelo Kremlin ao longo da margem ocidental para onde suas forças se retiraram em novembro foram afetados.

Assim, minas terrestres podem ter se deslocado até lugares habitados. A Cruz Vermelha fez o mesmo alerta. "No passado, sabíamos onde os riscos estavam. Agora, não. Só sabemos que estão em algum lugar rio abaixo. É com certo horror que vemos as notícias", disse à agência de notícias Reuters Erik Tollefsen, chefe da Unidade de Contaminação por Armas da entidade.

Minas podem ficar ativas por muito tempo: em 2015, armamentos do tipo da Segunda Guerra (1939-45) achados sob a água na Dinamarca estavam funcionando. A invasão atual é o maior conflito no continente desde aquele, e a cifra de minas deitadas de lado a lado é enorme, embora impossível de mensurar agora.

Outros riscos colocados são o da contaminação da água potável das cidades que se abasteciam no Dnieper. Há resíduos de agrotóxicos, 150 toneladas de óleo usado no complexo hidroelétrico destruído, restos de mineração e potenciais patógenos oriundos de cemitérios.

Cerca de 5.000 pessoas dos dois lados do rio foram retiradas, de acordo com autoridades locais. Em Nova Kakhovka, que está totalmente sob as águas, as cinco primeiras mortes devido à inundação foram registradas.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, visitou a capital homônima de Kherson, desocupada pelos russos em novembro. Ele voltou a criticar a ONU e a Cruz Vermelha, dizendo que "não compreende" por que não há um esforço internacional para ajudar as vítimas da crise —o fato de ser uma zona de guerra dividida entre beligerantes complica bastante os trabalhos coordenados.

Mais tarde, o chanceler Dmitro Kuleba anunciou ter chegado a um acordo com a ONU para enviar ajuda humanitária à região. Mais importante, anunciou que um acordo para receber ajuda do Centro de Resposta a Desastres da Otan, levantando sobrancelhas em Moscou sobre uma eventual presença de tropas da aliança ocidental no país.

Russos e ucranianos seguem se acusando de ataques com artilharia durante os esforços de retirada de moradores, particularmente idosos. Na capital de Kherson, a prefeitura disse que os bombardeios continuaram ao longo desta manhã (madrugada no Brasil). Já o governo de ocupação do outro lado do rio afirmou que ataques ucranianos mataram duas pessoas nesta quinta.

Além da crise humanitária, há uma corrida para salvar animais de estimação deixados para trás por donos em fuga das águas. Vídeos em redes sociais mostram cachorros e gatos se agarrando a pedaços de madeira e muros, sendo resgatados por voluntários.

O canal estatal de notícias Suspilne lançou uma campanha para arregimentar ajuda na região. Nesta quinta, ao menos 40 cachorros foram salvos em torno da capital regional, Kherson. Segundo a coordenadora dos esforços na cidade, Irina Bukhonska, "ninguém vê gatos". "Se o cachorro consegue nadar, ele tenta se salvar. O gato cai em um estupor, fica parado quando vê a água subindo", afirmou.

Em Nova Kakhovka, a disputa narrativa da guerra chegou aos bichos. Havia na cidade um zoológico particular com 300 animais de médio porte, e segundo relatos de redes sociais, todos morreram afogados. Já a prefeitura local afirma que todos eles já haviam sido realocados no fim do ano passado. Como quase tudo nesta guerra, a essa altura não é possível determinar quem está certo.

Usina nuclear preocupa, e contraofensiva continua

Nesta quinta, o operador do sistema hidroelétrico da Ucrânia afirmou que o nível do reservatório represado pela barragem destruída chegou a menos de 12,7 metros de profundidade junto à usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que está em mãos russas.

Se isso for confirmado, não será mais possível usar o sistema de captação de água para encher a piscina de resfriamento dos reatores da usina —5 dos 6 já estão desligados. Não há risco imediato de acidente, com um cenário de derretimento do núcleo dos reatores e consequente explosão à la Tchernóbil (1986), mas a piscina terá de ser abastecida por outros meios, como carros-pipa ou tubulações improvisadas.

O conflito continua, desta fez focado justamente na região de Zaporíjia, no sul. Kiev não admite que iniciou a contraofensiva, que por todos os sinais está na fase de ataques para testar pontos mais frágeis das defesas russas ao longo da frente.

Também nesta quinta, a Defesa da Rússia afirmou ter repelido mais um desses ataques na região durante a madrugada. O ministro Serguei Choigu diz que houve quatro incursões com 1.500 homens e 150 blindados e que os ucranianos teriam recuado após perder 350 soldados e 30 tanques. Os dados de ambos os lados sempre são inflados, logo não podem ser tomados pelo valor de face.

Zaporíjia, como Kherson e as duas autoproclamadas repúblicas do Donbass (Lugansk e Donetsk), foi anexada ilegalmente por Putin em setembro. Os russos não controlam, contudo, a faixa norte da região, onde fica a capital regional.

O abastecimento da Crimeia, feito por um canal construído em 1976 que retirava água do reservatório, por ora segue em nível normal, de acordo com o governo da península anexada por Putin em 2014.

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