Rússia, China e Ocidente se desafiam em jogos de guerra do Báltico ao Pacífico; veja vídeo

Rivais na Guerra Fria 2.0 flexionam musculatura militar em diversos teatros de operação

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São Paulo

Os principais aliados na Guerra Fria 2.0 pontificada pelos EUA e pela China estão em flexão de suas musculaturas militares, gerando queixas de lado a lado por exercícios que vão do mar Báltico ao Pacífico.

Nesta quarta (7), o Japão protestou contra patrulhas conjuntas de bombardeiros com capacidade nuclear da Rússia e da China em águas próximas ao arquipélago. Pequim e Moscou são aliados e, desde pouco antes da Guerra da Ucrânia, proclamaram o aprofundamento de laços, incluindo cooperação militar

Fuzileiros navais dos EUA e do Reino Unido treinam desembarque anfíbio na costa da Letônia, em Ventspils, durante o exercício militar Baltops 23
Fuzileiros navais dos EUA e do Reino Unido treinam desembarque anfíbio na costa da Letônia, em Ventspils, durante o exercício militar Baltops 23 - Ints Kalnins - 6.jun.23/Reuters

Na terça (6), dois bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear russos e dois chineses voaram pelo mar do Leste da China, entrando na zona de identificação da Coreia do Sul —áreas que não são espaço aéreo, mas que países delimitam de forma arbitrária para verificar possíveis ameaças.

É a sexta vez que tal patrulha ocorre desde 2019. Nesta quarta, o voo se repetiu com os Tu-95 russos e H-6K chineses, que decolaram de bases na China, numa demonstração de interoperabilidade.

Tanto Seul como, depois, Tóquio enviaram caças para interceptar os aviões nos dois dias, que voavam com escolta, sem incidentes. "Tais voos repetidos significam uma expansão das atividades perto do nosso país e são claramente dirigidas contra nós", afirmou o secretário do gabinete japonês, Hirokazu Matsuno. Ele disse que "as sérias preocupações" foram passadas para Moscou e Pequim.

Com a intensificação da Guerra Fria 2.0 e seu teatro ativo na Europa, o Japão abandonou a tradicional política pacifista do pós-Segunda Guerra e busca maior assertividade. Está unido aos EUA no bloco Quad, com Austrália e Índia, aumentou o gasto militar e abriu uma parceria com a rival histórica Coreia do Sul.

No mesmo contexto, preocupada com o incremento nos testes de mísseis da Coreia do Norte, Seul firmou um pacto com os EUA explicitando sua participação numa eventual guerra nuclear contra Pyongyang. A ditadura de Kim Jong-un é apoiada pela China e pela Rússia.

As águas da região seguem agitadas também, como a "fechada" dada por um navio de guerra chinês em um destróier americano no sábado (3) perto de Taiwan mostrou. A ilha é considerada uma província chinesa por Pequim, mas tem sua autonomia apoiada, se não oficialmente, por armas pelos EUA.

O episódio ressalta o risco de acidentes, como a derrubada de um drone americano por um caça russo no mar Negro em março. Os EUA se queixaram recentemente do mesmo comportamento por parte de um caça chinês contra um avião espião seu no mar do Sul da China, outra área contestada no Indo-Pacífico.

Na Europa, palco do conflito ativo inserido na confrontação maior, a tensão está na região norte do continente. No mar Báltico, forças russas e da Otan, a aliança militar do Ocidente liderada pelos Estados Unidos, estão fazendo simulações de combate simultâneas.

Do lado ocidental, 50 navios e 45 aviões participam da Baltops 23, um exercício anual, mas que ganha novos contornos com a entrada da Finlândia na Otan —a Suécia, que integra as 19 nações em ação, está na fila, até que a Turquia retire o veto à sua adesão, o que deve ocorrer até a cúpula da aliança, em julho.

Sem aviso, a Rússia lançou um exercício que disse ser planejado de sua Frota do Báltico, baseada em Kaliningrado, encrave entre a Lituânia e a Polônia. Com 3.500 homens, 40 navios e 25 aeronaves, foi ao mar na segunda (5), um dia após o início do Baltops. A manobra acaba em 15 de junho, um dia antes do fim da ocidental.

Já Moscou protestou contra a presença de um grupo de porta-aviões liderado pelo maior e mais poderoso navio do gênero no mundo, o USS Gerald Ford, nas águas do Ártico próximas da Noruega. Lá está em curso o maior exercício da Otan na região em anos, o Arctic Challenge 2023. Prevista para acabar na sexta (9), a manobra foi desafiada pelos russos com um voo na região, na semana passada, de dois Tu-95, que podem ser empregados em ataques nucleares. Não houve incidentes, mas o risco é constante.

Em outra frente, também foram divulgados detalhes do maior exercício aéreo da história da Otan, o Air Defender 23. Serão 250 aviões de guerra de 25 países operando a uma distância mais segura das linhas de atrito com a Rússia, sobre a Alemanha. Berlim informou que o tráfego aéreo sobre o país deverá ser afetado durante a simulação, que vai do dia 12 ao 23 deste mês. A demonstração de força tem endereço certo, a Rússia, embora obedeça a uma certa periodicidade, como de resto quase todos esses exercícios.

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