O premiê da China, Li Qiang, iniciou nesta segunda-feira (19) sua primeira viagem ao exterior desde que assumiu o cargo, em março, com uma visita à Alemanha, parceira cada vez mais estratégica para Pequim diante da crescente desconfiança do Ocidente.
Li foi recebido por seu homólogo alemão, Olaf Scholz, e pelo presidente do país, Frank-Walter Steinmeier, com quem participou de reunião a portas fechadas. Os líderes do país europeu deram o tom do encontro: a cooperação entre as duas nações "continua sendo importante, mas mudou nos últimos anos", disse Steinmeier, segundo mensagens publicadas nas redes sociais por seu porta-voz, Cerstin Gammelin.
"A China é parceira da Alemanha e da Europa, mas também cada vez mais uma concorrente e rival no cenário político", afirmou o presidente da Alemanha. Já a chancelaria chinesa mencionou a importância que atribui aos diálogos com o país europeu e expressou a "esperança de expandir as relações".
Depois da Alemanha, Li visitará a França. O aceno da China à Europa ocorre em um momento em que Pequim e Washington buscam aliviar tensões que escalaram em fevereiro, quando as forças americanas abateram um suposto balão de espionagem chinês no espaço aéreo dos EUA.
Mais cedo, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reuniu-se com o líder da China, Xi Jinping, para reativar as comunicações entre as superpotências e reduzir o risco de conflito. Segundo o chinês, os dois lados "fizeram progressos e chegaram a acordos sobre algumas questões específicas".
Na semana passada, a Alemanha divulgou sua primeira Estratégia de Segurança Nacional da história, no qual aponta a Rússia como maior ameaça à segurança e sugere que a China, aliada de Moscou, pode ser um fator de desestabilização —mas sem acusações frontais, dados os laços comerciais e políticos.
A China é o maior parceiro comercial da Alemanha, que, por sua vez, é considerada por Pequim um de seus principais canais para diálogo na Europa. Nos últimos anos, porém, Berlim passou a intensificar as críticas contra o país asiático ante as ameaças feitas pelo regime de Xi contra a ilha de Taiwan e as acusações de perseguição contra os uigures —minoria muçulmana concentrada na região de Xinjiang—, além da ausência de uma condenação chinesa à Guerra da Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022.
As críticas contra Pequim se estendem para o campo da tecnologia. Na semana passada, a Comissão Europeia alertou que os gigantes chineses de telecomunicações Huawei e ZTE são um risco para a segurança europeia, o que levou autoridades alemãs a pedirem diversificação no setor.
Ao mesmo tempo, a China atravessa período de desaceleração econômica. No ano passado, a economia da China cresceu 3% em 2022, um de seus piores níveis em quase meio século. Não surpreende, portanto, que Li tenha escolhido a Alemanha como sua primeira visita internacional, segundo analistas.
"À medida que as relações com os Estados Unidos se deterioram, Pequim está interessada em mostrar que mantém relações construtivas com o principal ator da Europa", disse Thorsten Benner, diretor do Instituto Global de Políticas Públicas, à agência de notícias AFP.
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