Descrição de chapéu refugiados

Paquistão diz que 300 migrantes do país morreram no naufrágio perto da Grécia

País enfrenta pior crise econômica em décadas, o que motiva cidadãos a se arriscarem em travessias ilegais

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São Paulo

Autoridades do Paquistão afirmaram que mais de 300 cidadãos do país morreram no naufrágio de uma embarcação com migrantes, ocorrido na semana passada, perto da península de Peloponeso, na Grécia.

O balanço, divulgado neste domingo (18), não é confirmado por Atenas. Socorristas do país europeu contabilizam 81 corpos retirados do mar até agora. Segundo organizações que atuam em defesa do direito dos migrantes, porém, o barco que afundou transportava aproximadamente 750 pessoas.

"Este incidente devastador ressalta a necessidade urgente de abordar e condenar o ato abominável do tráfico ilegal de pessoas", disse o líder do Senado do Paquistão, Muhammad Sadiq Sanjrani, ao comentar a estimativa de mortos. "Estendemos nossas sinceras condolências às famílias enlutadas."

A Guarda Costeira da Grécia encontrou nesta segunda-feira (19) outros três corpos de pessoas que, acredita-se, sejam vítimas do naufrágio. Devido ao estado de decomposição avançado, porém, os oficiais informaram que não foi possível nem determinar o sexo das vítimas.

Manifestantes pedem mais direitos aos migrantes em ato na cidade de Pireu, na Grécia
Manifestantes pedem mais direitos aos migrantes em ato na cidade de Pireu, na Grécia - Louisa Gouliamaki - 18.jun.23/AFP

O naufrágio na última quarta (14) foi o mais mortal incidente do tipo registrado pela Grécia desde 2016. Nikolaos Alexiou, porta-voz da Guarda Costeira, disse que o barco superlotado afundou numa das áreas de maior profundidade do mar Mediterrâneo. Muitos dos migrantes estavam na parte interna da embarcação, o que pode ter dificultado ou impedido a fuga. As vítimas são do Egito, do Paquistão e da Síria.

Os paquistaneses enfrentam a pior crise econômica em décadas, com inflação recorde e crescimento baixo, o que motiva cidadãos do país a se arriscarem em travessias ilegais. Segundo a Frontex, a agência de fronteiras da UE, migrantes de Paquistão, Costa do Marfim e Guiné foram os mais flagrados em rotas do Mediterrâneo Central, consideradas as mais perigosas do mundo, nos dois primeiros meses deste ano.

Shehbaz Sharif, premiê do Paquistão, declarou luto nacional nesta segunda e ordenou uma "investigação de alto nível" para apurar as responsabilidades no incidente. Segundo a polícia paquistanesa, 14 pessoas suspeitas de tráfico humano e de envolvimento na tragédia foram presas.

"Garanto à nação que aqueles que forem considerados negligentes serão responsabilizados. A responsabilidade será fixada após o inquérito, e cabeças rolarão", escreveu Sharif nas redes sociais.

Autoridades da Grécia relataram que a embarcação navegava em direção à Itália e foi detectada em águas internacionais na noite de terça (13) pela Frontex. Na ocasião, o barco estava a 80 km da cidade grega de Pylos, e as pessoas a bordo teriam recusado assistência. Algumas horas depois, a embarcação afundou.

A versão tem sido contestada por familiares das vítimas. Tarek Aldroobi, que tinha três parentes a bordo, disse à CNN internacional que testemunhas viram as autoridades rebocando o navio com cordas. "O barco estava em boas condições, e a Marinha grega tentou rebocá-lo para a praia, mas as cordas estavam amarradas nos lugares errados", disse. "Quando a Marinha tentou puxá-los, o barco virou."

A Grécia nega que seus agentes tenham se envolvido no incidente. Ilias Siakanderis, porta-voz do governo, reiterou à emissora grega ERT que a Guarda Costeira avistou a embarcação duas horas antes do naufrágio e que os agentes deixaram o local após a ajuda ter sido recusada. "Quando o barco virou, não estávamos nem perto. Como poderíamos rebocá-lo?", disse Nikos Alexiou, porta-voz da Guarda Costeira.

A Grécia é acusada com frequência de rejeitar a presença de barcos com migrantes. No mês passado, vídeos que vieram à tona mostraram autoridades gregas deixando 12 migrantes africanos, entre os quais crianças, em um bote salva-vidas em alto mar, configurando uma deportação extrajudicial que viola leis internacionais e regras da União Europeia, bloco ao qual o país pertence.

Após o naufrágio, a polícia grega prendeu nove cidadãos do Egito em desdobramento do caso —assim como no Paquistão, eles são suspeitos de tráfico de pessoas. Já o Supremo Tribunal grego ordenou a abertura de uma apuração para apurar as razões do ocorrido. Athanasios Iliopoulos, advogado de um dos egípcios presos, disse que seu cliente não é contrabandista, mas uma vítima que pagou para ser levada à Itália. "Ele deixou seu país em busca de uma vida melhor na Europa devido a dificuldades econômicas."

As operações de busca continuam cinco dias após a tragédia. Até esta segunda, 104 pessoas foram resgatadas com vida. Acredita-se que a embarcação zarpou do Egito sem passageiros rumo a Tubruk, cidade do leste da Líbia, no norte africano, onde os migrantes teriam embarcado.

A Grécia é uma das principais rotas de entrada na União Europeia para refugiados e migrantes do Oriente Médio, da Ásia e da África. Muitos dos migrantes se arriscam em trajetos próximos às ilhas Cíclades e à região de Peloponeso para evitar as patrulhas no mar Egeu, mais ao norte.

Na região de Malakasa, onde tendas foram montadas para monitorar as operações de busca, parentes de desaparecidos aguardam informações. "Meu tio estava comigo no barco. Não consigo encontrá-lo", disse o egípcio Atia Al Said, 22, um dos sobreviventes, à agência de notícias Reuters.

Com Reuters

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