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O que Putin fará após motim do Grupo Wagner e outras questões-chave

Muitas questões ainda estão pendentes na maior crise militar em território russo desde década de 1990

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BBC NEWS

Medidas emergenciais de segurança permanecem em Moscou após uma rebelião de mercenários do Grupo Wagner abalar a posição do presidente russo Vladimir Putin em meio a Guerra da Ucrânia. Muitas questões ainda estão pendentes.

O que Putin fará a seguir?

Em surpreendentes 24 horas, Vladimir Putin enfrentou o maior desafio à sua autoridade desde que chegou ao poder há mais de duas décadas. Embora o risco imediato pareça contido, especialistas russos dizem que o presidente não parece forte, mas sim bastante abatido.

O presidente russo, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia em Moscou, na Rússia - 22.jun.23/Getty Images

A aversão amplamente notada de Putin à traição apareceu refletida em seu severo discurso na TV na manhã de sábado (24), no qual acusou o líder de Wagner, Ievguêni Prigojin, de uma "facada nas costas".

O presidente não foi visto em público desde então, e nenhum novo discurso presidencial está sendo planejado em um futuro próximo. Em uma entrevista pré-gravada na TV estatal no domingo (25) —que parece ter sido conduzida antes da rebelião— Putin disse estar confiante no progresso da Guerra na Ucrânia.

Medidas de segurança antiterror ainda estão em vigor em Moscou, mas não está claro se o presidente Putin está na capital russa no momento. Alguns acreditam que Putin atacará de alguma forma, seja militarmente contra a Ucrânia ou contra aqueles dentro da Rússia que não o apoiaram.

O eurodeputado polonês Radek Sikorski disse à BBC que o líder russo "provavelmente expurgará" qualquer aliado que ele considerar "vacilante", o que significa que seu regime se tornará "mais autoritário e mais brutal ao mesmo tempo".

O que Prigozhin vai fazer na Belarus?

O homem por trás da rebelião, Ievguêni Prigojin, é um homem livre. Apesar de tentar derrubar a liderança militar da Rússia, a acusação de motim armado contra ele foi retirada. Mas não sabemos todos os detalhes do acordo feito entre o Kremlin e Wagner.

Analistas da Rússia não esperam que Prigojin desapareça silenciosamente. O líder mercenário se tornou uma figura de proa para dezenas de milhares de combatentes na Ucrânia. Ele também tem sido uma figura importante para o presidente Putin, operando nas sombras por um longo tempo.

Ele passou anos fazendo trabalho sujo para o Kremlin, desde lutar na Síria até lutar na Ucrânia em 2014, quando anexou a Crimeia. Mas depois de desafiar a autoridade de Putin, perguntas sobre quais garantias ele recebeu para sua segurança e seu papel no futuro ainda precisam ser respondidas.

Observadores estão questionando quanto controle o ditador de Belarus, Alexandr Lukachenko , será capaz de exercer sobre Prigojin —se de fato ele for para Minsk— e, se as forças de Wagner o seguirem, que ameaça representarão para a Rússia, Belarus e Ucrânia.

O que acontece com o Grupo Wagner agora?

Antes do motim armado, dezenas de milhares de mercenários de Wagner desempenhavam um papel fundamental na guerra de Putin contra a Ucrânia. Mas os dias de Wagner como exército independente já estavam chegando ao fim. Prigojin e suas forças têm resistido à pressão para absorvê-los no Ministério da Defesa russo. O desgosto com esse movimento é visto como um fator-chave para transformar uma rixa de longa data em rebelião.

Mas com o fim da insurreição de curta duração muitos estão se perguntando o que seus combatentes farão. As acusações aparentemente foram retiradas contra os envolvidos no motim. Vídeos nas redes sociais mostraram as tropas de Wagner deixando a cidade de Rostov-on-Don, onde assumiram o controle de bases militares.

O governador de Voronej, Aleksandr Gusev, disse que as forças de Wagner também estão deixando sua região. A cidade fica a meio caminho entre Rostov e Moscou.

No entanto, não está claro se eles irão simplesmente cooperar e ser integrados às forças armadas russas regulares —ou mesmo se os soldados regulares da Rússia servirão voluntariamente ao lado deles.

E eles simplesmente voltarão a lutar nas zonas de conflito existentes na Ucrânia, como sugere a mídia estatal russa? Alguns analistas levantaram preocupações de que os combatentes possam seguir Ievguêni Prigojin para o oeste se ele for para Belarus —o ponto mais próximo de onde a Rússia pode atacar a capital ucraniana, Kiev.

Como isso afetará a Guerra na Ucrânia?

O Grupo Wagner tem fornecido algumas das tropas de choque mais bem-sucedidas lutando na Ucrânia, embora muitos de seus combatentes tenham saído das prisões, atraídos com a promessa de liberdade para o serviço na linha de frente. Eles estiveram fortemente envolvidos na captura da cidade de Bakhmut pela Rússia, por exemplo.

A Rússia afirma que a rebelião não teve impacto em sua campanha na Ucrânia até agora. No entanto, forças russas sem dúvida ouviram o que está acontecendo, e as notícias podem ser desmoralizantes.

Alguns sugerem que pode haver combates entre unidades rivais nos próximos dias, dependendo do tipo de tremores secundários que ocorrerem na Rússia após os eventos de sábado.

Na Ucrânia, além da preocupação com os riscos de que a Rússia possa aumentar seu envolvimento, os líderes militares buscarão oportunidades na instabilidade do outro lado da fronteira.

As forças de Kiev lançaram uma contra-ofensiva para recuperar territórios capturados pelos ocupantes e acreditam que a agitação na Rússia oferece uma "janela de oportunidade".

Ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, Bill Taylor disse à BBC que as forças ucranianas estavam "em uma boa posição" para explorar as fraquezas táticas expostas pelo movimento repentino.

O que os EUA e outros sabiam com antecedência?

Enquanto o motim de Prigojin parecia pegar o Kremlin desprevenido, as agências de espionagem dos EUA já haviam percebido sinais de que ele planejava agir e informaram o presidente Joe Biden junto com os principais líderes do Congresso no início desta semana.

A inteligência dos EUA detectou que o líder do grupo mercenário estava reunindo armas, munições e outros equipamentos perto da fronteira com a Rússia, informou a CNN.

De acordo com o New York Times, o presidente Biden conversou com os líderes da França, Alemanha e Reino Unido por causa de preocupações de que o controle de Putin sobre o vasto arsenal de armas nucleares da Rússia pudesse escorregar em meio ao caos.

Os chefes de espionagem dos EUA acompanhavam a deterioração do relacionamento entre Prigojin e as autoridades de defesa russas há meses, e a inteligência concluiu que era um sinal de que a Guerra da Ucrânia estava indo mal tanto para Wagner quanto para os militares regulares.

Membros do Grupo Wagner se preparam para partir da sede do Distrito Militar
Mercenários do Grupo Wagner deixam Rostov-on-Don, cidade que haviam ocupado no início do motim - Anadolu Agency via Getty Images

Enquanto isso, o Washington Post diz que os EUA podem ter percebido que Prigojin estava planejando algo já em meados de junho.

Um gatilho importante foi um decreto em 10 de junho do Ministério da Defesa da Rússia ordenando que todos os destacamentos voluntários, como o Grupo Wagner, assinassem contratos com o governo, o que seria efetivamente uma aquisição das tropas mercenárias de Prigojin.

Funcionários disseram ao jornal que "havia sinais suficientes para poder dizer à liderança que algo estava acontecendo", mas a natureza exata dos planos de Prigojin não estava clara até pouco antes do início do motim.

O presidente Putin também foi informado por sua própria inteligência que Prigojin estava tramando algo, informou o jornal. Não está claro exatamente quando ele foi informado disso, mas foi "definitivamente mais de 24 horas atrás", disse o jornal citando uma autoridade dos EUA.

O que o povo russo pensa?

O discurso de Putin à nação enquanto a crise se desenrolava está sendo visto como um sinal de quão seriamente ele via a ameaça. "Muitos dentro da elite culparão pessoalmente Putin pelo fato de que tudo foi tão longe e que não houve reação adequada do presidente em tempo hábil", escreveu no Telegram uma importante analista da Rússia, Tatiana Stanovaia.

"Toda essa história também é um golpe nas posições de Putin."

Embora seja difícil tirar conclusões sobre a opinião pública russa em geral, os líderes do país ficariam preocupados com a visão de espectadores civis aplaudindo as unidades Wagner na cidade de Rostov.

Quando as tropas mercenárias deixaram a cidade, foram saudadas por uma multidão aparentemente solidária que aplaudiu, aplaudiu e tirou fotos. No entanto, é importante notar que alguns moradores correram para deixar a cidade de trem no sábado, após a chegada do Grupo Wagner.


Este texto foi publicado originalmente aqui.

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