Descrição de chapéu Financial Times China

Agências anticorrupção da China incentivadas por Xi agora são alvo de escrutínio

Funcionários poderosos sob a onda de investigação local aprofundada desde 2012 se tornam, eles próprios, suspeitos

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Edward White
Seul | Financial Times

Durante dez anos, o líder chinês, Xi Jinping, usou vigilantes internos do Partido Comunista Chinês para erradicar a traição política e a corrupção em quase todas as áreas do funcionalismo público. Agora, esses temidos investigadores têm novo alvo: eles próprios.

Pelo menos 20 funcionários das unidades anticorrupção da China –a Comissão Central de Inspeção Disciplinar (CCID) e a Comissão Nacional de Supervisão (CNS)– foram investigados neste ano, de acordo com anúncios oficiais e análises acadêmicas.

Jornalistas trabalham em sala de imprensa durante feira de importações em Xangai; ao fundo, telas com imagens do líder Xi Jinping
Jornalistas trabalham em sala de imprensa durante feira de importações em Xangai; ao fundo, telas com imagens do líder Xi Jinping - 4.nov.21/AFP

O número de casos nos últimos seis meses é maior do que o total anual desde 2014, no auge da cruzada anticorrupção de Xi. Alex Payette, presidente-executivo do Cercius Group, uma consultoria especializada em política chinesa, diz que o escrutínio dentro do órgão anticorrupção se tornou "muito intenso". "Eles estão passando para uma fase diferente da repressão à corrupção", afirma.

Em janeiro, apenas alguns meses após confirmar seu terceiro e inédito mandato, Xi emitiu um novo alerta aos altos funcionários da CCID. A China "só se tornará forte se o partido mantiver sua força", afirmou.

"Funcionários corruptos que não mostram nenhum sinal de contenção devem ser punidos. A corrupção que envolve elementos políticos e econômicos deve ser resolutamente investigada e tratada", disse ele.

Sob Xi, o líder mais poderoso da China desde Mao Tsé-tung, a ação anticorrupção teve o duplo propósito de eliminar a corrupção endêmica na administração do país e derrubar rivais políticos.

Não parece haver evidências de que uma facção política específica seja visada, diz Andrew Wedeman, especialista em corrupção chinesa na Universidade Estadual da Geórgia. Segundo ele, "não há dúvida" de que houve um aumento nos casos envolvendo os próprios investigadores.

O escrutínio interno provavelmente reflete a natureza "crônica e interminável" da corrupção na China, apesar de o combate a esse problema ser uma das marcas registradas de Xi, acrescentou Wedeman. "Você pensaria que eles ficariam paralisados com todo o estardalhaço, apavorados. Mas não ficaram."

A lista de funcionários anticorrupção que foram investigados pela CCID e a CNS neste ano cobre uma ampla faixa do aparato estatal, como membros de agências de segurança pública, departamentos regionais de governo, instituições financeiras, universidades e comitês partidários em nível provincial. Abrange todo o país, desde a megacidade de Chongqing, no sudoeste, até a Mongólia Interior.

Eles incluem Hao Zongqiang, vice-chefe do departamento de propaganda da CCID; Liu Weihong, secretário do partido na agência anticorrupção da Universidade Aberta de Guangdong; Zhou Peibin, chefe da equipe da CCID no departamento de segurança pública da província de Shanxi; Yin Xueru, subsecretário da CCID na província de Ningxia; e Wang Xuefeng, vice-diretor do Congresso Popular de Hebei.

Especialistas divergem sobre as causas profundas da corrupção. Alguns argumentam que o suborno é dominado por conexões entre a elite política e a empresarial, enquanto outros afirmam que prevalece em toda a sociedade, com funcionários mal pagos solicitando subornos.

Desde 2012, a repressão à corrupção envolveu pelo menos 4,7 milhões de funcionários de baixo escalão, chamados de "moscas", bem como milhares de "tigres" do alto escalão, informou a mídia estatal. O PC Chinês tem quase 100 milhões de membros. O alvo dos funcionários da CCID mostra que a campanha agora pode estar entrando num "estágio avançado", diz Lynette Ong, da Universidade de Toronto. "É muito cedo para especular se isso representa o fim da campanha, mas certamente parece ser um marco."

Ong afirma que, na última década, o foco da CCID mudou de funcionários locais para funcionários do governo provincial e central e para setores "da periferia para o centro". Nos últimos anos, seu foco se ampliou para incluir funcionários e executivos de setores que Xi considera particularmente importantes para a segurança nacional e a estabilidade econômica, incluindo finanças, energia, tecnologia e defesa.

Yuen Yuen Ang, especialista em China na Universidade Johns Hopkins, diz que a "solução" de Xi para os ciclos históricos de ascensão e declínio da China parece ser "anticorrupção perpétua". "Talvez o maior desafio seja 'quem vai guardar os guardiões?' A virada interna da campanha reflete isso."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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